CLIPPING AHPACEG 07/10/25
ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Anvisa desmente Cofen: prescrição de antibióticos não pode ser feita por enfermeiros
País tem 17 casos confirmados de intoxicação por metanol
Cais Amendoeiras deixa de atender urgências e emergências em Goiânia
Após um mês de troca de OSs; veja como está gestão das maternidades de Goiânia
Hapvida reduz em 11% as reinternações em saúde mental com telemedicina
https://medicinasa.com.br/telemonitoramento-reinternacoes/
Hcor elimina uso de gás anestésico de alto impacto ambiental e reduz emissões pela metade
Seu próximo erro será fatal?
https://www.saudebusiness.com/colunistas/seu-proximo-erro-sera-fatal/
CFM
Anvisa desmente Cofen: prescrição de antibióticos não pode ser feita por enfermeiros
Ao contrário do que afirmou o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) no último dia 12 – que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) teria autorizado os enfermeiros a prescreverem antimicrobianos a pacientes -, esses profissionais, porém, não têm tal competência. A informação é da própria Anvisa, que comunicou o Conselho Federal de Medicina (CFM), por ofício, que o “documento (ao qual o Cofen se baseia) não foi assinado, e desta forma, não representa o posicionamento oficial da Anvisa com relação ao tema em questão”. A agência ainda afirma no ofício encaminhado ao CFM que “o assunto foge das competências regimentais da Anvisa”.
No começo de setembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino já havia decidido pela inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei Distrital nº 7.530/2024, que permitia a prescrição de medicamentos por enfermeiros no Distrito Federal. A decisão foi tomada em julgamento ao Agravo em Recurso Extraordinário nº 1.561.727 (Lei Distrital nº 7.530/2024).
Na ocasião, a Suprema Corte deixou claro que não há margem para interpretações ampliativas ou para atuação autônoma da categoria em matéria de prescrição. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) também já havia decidido pela inconstitucionalidade da lei em maio deste ano. Ao julgar o caso, a relatora destacou que a “norma distrital usurpou a competência privativa da União para legislar sobre condições para o exercício de profissões”.
Diagnóstico médico – Diante da informação da Anvisa e das decisões judiciais do STF e do TJDFT, não resta qualquer dúvida de que compete aos enfermeiros apenas a prerrogativa de disponibilizar medicamentos em programas de saúde pública e rotinas institucionais já estabelecidas e após diagnóstico médico, não tendo competência para prescrever antibióticos.
“A prescrição de medicamentos pressupõe a determinação de prognóstico relativo a diagnóstico nosológico, atividade que é de competência privativa do médico. Ao ampliar prescrições fora de protocolos e sem governança diagnóstica, o Cofen transfere aos sistemas de saúde o ônus de decisão administrativa que afronta a legislação do País e o Supremo Tribunal Federal”, avalia o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo.
Ele explica que, para doenças como sífilis, tuberculose e hanseníase, há protocolos seguros que estabelecem os medicamentos específicos, as dosagens e o tempo de tratamento a ser seguido pelos pacientes após diagnóstico médico. “O enfermeiro pode, somente nesses casos, disponibilizar o medicamento aos pacientes e em ambientes públicos de saúde”, diz.
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INFOMONEY
Brasil tem 17 casos confirmados de intoxicação por metanol e 200 em investigação
A maior parte das notificações se concentra no Estado de São Paulo. São 15 casos confirmados e 164 em investigação até o momento
Dados do Ministério da Saúde divulgados na noite desta segunda-feira, 6, informam que o País soma 17 casos de intoxicação por metanol confirmados e que outras 200 ocorrências são investigadas.
A maior parte das notificações se concentra no Estado de São Paulo. São 15 casos confirmados e 164 em investigação até o momento. No Paraná, outro único Estado com casos confirmados, foram duas ocorrências positivas para intoxicação por metanol, e outras quatro estão em análise.
Outros 12 Estados também verificam possíveis intoxicações pela substância. São os casos do Acre (1 caso em investigação), Ceará (3), Espírito Santo (1), Goiás (3), Minas Gerais (1), Mato Grosso do Sul (5), Paraíba (1), Pernambuco (10), Piauí (3), Rio de Janeiro (1), Rondônia (1) e Rio Grande do Sul (2).
Na Bahia, no Distrito Federal e em Mato Grosso, os casos que estavam sendo apurados foram descartados.
Ao todo, 14 pessoas morreram e duas, ambas da capital paulista, tiveram a morte confirmada por intoxicação por metanol. As outras 12 mortes ainda são investigadas. Além de São Paulo, os Estados que também registraram óbitos suspeitos são: Mato Grosso do Sul (1), Pernambuco (3), Paraíba (1) e Ceará (3).
A intoxicação por metanol é grave, podendo levar à cegueira permanente e até ao óbito. A substância, incolor, pode estar presente em bebidas alcoólicas clandestinas e adulteradas, além de produtos como combustíveis, solventes e líquidos de limpeza.
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A REDAÇÃO
Cais Amendoeiras deixa de atender urgências e emergências em Goiânia
O Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Chácara do Governador, em Goiânia, recebeu, nesta segunda-feira (6/10), a visita técnica do Ministério da Saúde para habilitação como Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A mudança visa ampliar a qualidade do atendimento ofertado à população, por meio da captação de recursos federais para o custeio e manutenção da unidade. A mudança, no entanto, afeta diretamente o modelo de outro local, já que os atendimentos eletivos, que são agendados, serão transferidos para o Cais Amendoeiras, que deixa de atender urgências e emergências.
“A transformação do Chácara do Governador busca ampliar a resolutividade da nossa rede de urgências. A UPA tem estrutura adequada para estabilização dos pacientes e tratamento de grande parte das demandas de saúde da população, sem a necessidade de hospital”, explica o secretário municipal de saúde, Luiz Pellizzer. “A mudança facilita a possibilidade de cofinanciamento, parcerias e captação de recursos do governo federal”, diz Pellizzer.
Entre os requisitos exigidos pelo Ministério da Saúde para a habilitação como UPA, está a oferta exclusiva de atendimentos de urgência e emergência, que é a assistência imediata a pessoas com quadros que podem trazer complicações, dor ou sofrimento intenso e risco de vida. Por isso, a mudança afeta diretamente o modelo do Cais Amendoeiras.
“Os tratamentos especializados em gastroenterologia, urologia, dermatologia e imunologia passarão a ser oferecidos no Cais Amendoeiras, que deixa de realizar atendimentos de urgência e emergência”, destaca a superintendente de redes de atenção à Saúde da SMS, Camila Brum. “O perfil do Amendoeiras é alterado para concentrar serviços especializados, de forma eletiva. Serão 700 consultas com especialistas ofertadas mensalmente na unidade”, afirma.
“Os Cais têm estrutura híbrida, criada por iniciativa municipal ou estadual, sem padronização nacional e mesclam atividades ambulatoriais, serviços especializados e pronto-atendimento”, pontuou Luiz Pellizzer. “No entanto, esse modelo não está alinhado com a rede nacional de urgências, o que dificulta a implementação de protocolos integrados de regulação e transferência e o cofinanciamento das unidades”, explica Camila Brum.
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JORNAL OPÇÃO
Após um mês de troca de OSs; veja como está gestão das maternidades de Goiânia
Documentos oficiais confirmam que o convênio entre a Fundahc, a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a SMS teve início em junho de 2012
Após mais de uma década sob gestão da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), as maternidades municipais de Goiânia passaram por uma profunda reestruturação. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) optou por substituir o modelo de gestão unificada por um sistema com três organizações sociais (OSs), cada uma especializada em um perfil de atendimento. A mudança, oficializada por meio de contrato emergencial, marca uma nova fase na prestação de serviços de saúde na capital.
Documentos oficiais confirmam que o convênio entre a Fundahc, a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a SMS teve início em junho de 2012. Desde então, a fundação foi responsável pela administração da Maternidade Dona Íris, da Maternidade Nascer Cidadão e do Hospital e Maternidade Célia Câmara.
Segundo o assessor técnico da SMS, Dr. Frank Cardoso, a decisão de romper com a Fundahc foi motivada por recorrentes falhas na prestação dos serviços. “O serviço como era prestado anteriormente vinha passando por recorrentes interrupções, riscos de paralisação e fechamento de serviço”, afirmou.
Ele destacou que o atendimento chegou a ser interrompido até mesmo em situações de urgência. “O atendimento ambulatorial estava interrompido, chegou ao ponto de interromper o serviço de urgência e emergência por meio-dia, até que a gente conseguiu restabelecer enviando anestesista para dar continuidade”, disse.
Novo modelo
O novo contrato emergencial selecionou três OSs com perfis distintos para cada unidade:
Unidade de saúde | Perfil de atendimento | Nova gestora |
Maternidade Dona Íris | Alta complexidade | Instituto Patris |
Hospital e Maternidade Célia Câmara | Perfil hospitalar robusto | Sociedade Beneficente São José (SBSJ) |
Maternidade Nascer Cidadão | Baixa complexidade | Associação Hospital Beneficente do Brasil (AHBB) |
“Saímos de uma entidade única que geria três perfis de unidade para uma entidade para cada unidade de saúde, capaz de atender aquele perfil pré-estabelecido”, explicou Dr. Cardoso.
Resultados do primeiro mês
Em apenas 30 dias de nova gestão, os números já mostram retomada significativa:
– 645 partos realizados
– Mais de 3.000 atendimentos de urgência e emergência
– Mais de 1.500 consultas e exames ambulatoriais
– Cerca de 700 internações
– Retomada das cirurgias eletivas nas áreas de ginecologia, mastologia e pediatria
“Começamos a ter o cuidado de atender a demanda da fila de cirurgia eletiva, cirurgia pra mamãe, cirurgia pra bebê, tanto do campo da ginecologia quanto da mastologia quanto da parte de pediatria”, detalhou.
Além disso, estão sendo implantados serviços como mamografias e exames citopatológicos, que estavam paralisados. “Estamos fazendo a inserção e implantação de DIU, mamografias e citopatológico nesse processo”, acrescentou.
Emergencial ao definitivo
O contrato emergencial tem validade de seis meses e foi baseado no edital anterior, o que limitou a possibilidade de ajustes. “No processo emergencial, nós obrigatoriamente temos que usar o material antigo. Então não podemos fazer um novo edital, um novo termo de referência, porque a ideia do emergencial é essa: poupar tempo pra conseguir fazer algo de emergência pra suprir uma necessidade que é urgente”, apontou.
A SMS já trabalha na elaboração de um novo edital com metas atualizadas, mecanismos de controle mais robustos e ampla concorrência. “Agora nós temos um mecanismo mais robusto pra acompanhar essas entregas. O acompanhamento de metas era muito delicado anteriormente”, concluiu Dr. Frank Cardoso.
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MEDICINA S/A
Hapvida reduz em 11% as reinternações em saúde mental com telemedicina
A taxa de reinternação de pacientes em cuidados de saúde mental caiu 11% em um intervalo de seis meses desde 2023, resultado do programa de telemonitoramento da Hapvida. A iniciativa acompanha, de forma remota, pacientes por pelo menos 90 dias após a alta hospitalar, com suporte contínuo de uma equipe multidisciplinar.
O acompanhamento da linha de cuidado é disparado nos momentos mais críticos do paciente. Nos atendimentos presenciais nos prontos atendimentos, a equipe médica geral pode acionar psiquiatras especialistas, via teleinterconsulta, para um diagnóstico e conduta ágil e eficaz. Após a alta, o paciente é contatado para dar início ao telemonitoramento. Nos casos em que há uma internação psiquiátrica integral, o serviço é ativado e contata o beneficiário tão logo a alta hospitalar ocorra.
“Nosso objetivo é garantir que o cuidado não termine com a alta hospitalar. O acompanhamento remoto permite identificar precocemente sinais de agravamento e reduzir as barreiras de acesso ao tratamento”, explica Adria Mara Cândido, diretora-executiva de Saúde Digital e Clínicas Médicas da Hapvida. Com isso, a necessidade de novas internações desses pacientes é reduzida.
Rotina de cuidados
O monitoramento é conduzido por uma equipe multidisciplinar, composta por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros, que gerenciam o tratamento, desde a marcação das consultas até a verificação da adesão aos medicamentos.
Durante o programa, os pacientes têm acesso a consultas com psicólogos e com psiquiatras, realizadas por telefone ou videochamada. A equipe oferece ainda apoio em situações de crise e orientações sobre o uso correto da medicação. Caso o especialista avalie necessário, o prazo do acompanhamento pode ser ampliado. Todas as interações são registradas em prontuário eletrônico, assegurando o alinhamento entre os profissionais de saúde envolvidos e a segurança do paciente.
Saúde mental
O avanço de transtornos mentais é uma preocupação crescente. Segundo o relatório global “World Mental Health Day 2024”, divulgado pelo Instituto Ipsos, o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo. A pesquisa também apontou que a preocupação com a saúde mental vem numa crescente desde a pandemia, citada por 18% dos participantes em 2018 e chegando a 54% em 2024. Diante desse cenário, a Hapvida vem atuando de maneira estratégica. Durante todo o ano de 2024, quando a linha de cuidado de saúde mental foi expandida para toda a rede de hospitais e prontos-socorros, foram realizados mais de 14.417 pareceres. Em 2025, o número já ultrapassou 14,5 mil avaliações até o início de setembro.
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SAÚDE BUSINESS
Hcor elimina uso de gás anestésico de alto impacto ambiental e reduz emissões pela metade
Substituição do óxido nitroso pode cortar em 50% as emissões diretas de gases de efeito estufa no Hcor.
O Hcor interrompeu o uso de óxido nitroso (N₂O) em seus procedimentos anestésicos, marcando uma das mudanças mais significativas em sua política ambiental recente. Embora amplamente utilizado em anestesias, o gás é um dos principais agentes de efeito estufa e também afeta a camada de ozônio.
A decisão faz parte de uma revisão mais ampla das práticas ESG do hospital, que já resultou em reduções no volume de resíduos por paciente-dia e no descarte em aterros sanitários. Com a nova medida, o Hcor projeta uma queda de cerca de 50% nas emissões diretas de gases de efeito estufa (escopo 1) em um ano.
A retirada do gás não traz prejuízos clínicos, segundo Marcelo Gonçalves o líder médico do Centro Cirúrgico. “O óxido nitroso é apenas uma das substâncias usadas em anestesias. Outras opções, como o sevoflurano, já garantem o mesmo efeito de supressão temporária do sistema nervoso central, essencial para os procedimentos cirúrgicos”, explica.
Além do impacto ambiental reduzido, o sevoflurano tem uma vida atmosférica estimada em apenas um ano — contra 114 anos do N₂O. A substituição, afirma Gonçalves, mantém os protocolos de segurança dos pacientes e elimina um composto de alto potencial de aquecimento global.
A transição exigiu ajustes técnicos, como a desativação do sistema central de distribuição de óxido nitroso e a revisão dos protocolos anestésicos. “A mudança reflete uma decisão estratégica voltada à sustentabilidade, mas também à eficiência clínica e operacional”, afirma Julio Vieira, CEO do Hcor.
Para Gabriel Dalla Costa, diretor médico executivo da instituição, a iniciativa só foi possível com o engajamento das equipes médicas, técnicas e de suprimentos. “É uma transformação ambiental relevante, mas também um compromisso com a segurança e a sustentabilidade institucional”, avalia.
Reconhecimento internacional
Membro da iniciativa Hospitais Saudáveis e signatário do Pacto Global da ONU, o Hcor tem avançado em metas ambientais nos últimos anos. Em 2024, registrou redução de 3,93% na geração de resíduos por paciente-dia e de 8,10% no volume enviado a aterros sanitários — mesmo com o aumento de 4,31% no número de pacientes e de 7,7% nas cirurgias realizadas.
O desempenho rendeu reconhecimento do Pacto Global – Rede Brasil, no âmbito da iniciativa Ambição 2030, com o case “Redução de Resíduos Hospitalares como Estratégia para um Futuro Sustentável”, inscrito na categoria Gestão de Resíduos.
Em paralelo, o hospital também reduziu o consumo hídrico em 6,6% e o consumo de energia por paciente-dia em 12%, além de ampliar o volume de materiais reciclados e compostados. Em 2024, a comercialização de recicláveis gerou R$ 237 mil, revertidos para projetos gratuitos de saúde mantidos pela instituição.
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Seu próximo erro será fatal?
Erros na saúde revelam falhas sistêmicas de gestão e liderança — e mostram a urgência de fortalecer a cultura de segurança nas instituições.
Esse é o título de um livro muito interessante sobre falhas catastróficas em organizações. Escrito por Robert Mittelstaedt, um influente pensador norte-americano sobre administração de empresas, reitor emérito da WP Carey School of Business.
No livro, Mittelstaedt usa exemplos de grandes corporações, como o da Enron, do acidente com a plataforma de petróleo da Exxon, no Golfo do México, e do ônibus espacial Colúmbia, que explodiu poucos segundos após o lançamento.
Na saúde, estima-se que ocorra um erro fatal a cada 11 minutos, segundo publicação do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2018, foram estimadas cerca de 55 mil mortes por ano relacionadas a eventos adversos associados à prestação do cuidado; desses, mais de 87%, ou seja, 48 mil, seriam evitáveis.
Enquanto as falhas fatais de Mittelstaedt destroem as organizações e, em alguns casos, também com fatalidades, na saúde vivemos uma epidemia de mortes associadas a erros. E não se trata de um problema brasileiro. Estudo de 2016 da Universidade Johns Hoplkins, dos EUA, publicado no BMJ, uma das principais publicações científicas do mundo sobre saúde, estima em 250 mil o número de mortes associadas a falhas na prestação do cuidado, tornando-se a terceira principal causa de morte nos EUA.
Mas por que erros acontecem? Estudiosos têm perspectivas distintas ao lidar com falhas, mas todos convergem para pontos centrais similares ao se pensar em contramedidas.
Amy Edmondson, professora da Universidade de Harvard e especialista em segurança psicológica, divide os erros em três tipos: evitáveis em processos previsíveis, inevitáveis em processos complexos/incertos ou erros de experimentação.
Os “erros evitáveis em operações previsíveis” envolvem um desvio involuntário de uma especificação. Eles ocorrem, por exemplo, por falta de capacidade de pessoas não qualificadas ou sem o devido treinamento, por processos inadequados ou por tarefas acima da capacidade funcional de quem as executa. Falhas assim são tratadas com ações de melhorias e/ou redesenhos de processos.
Já os “erros inevitáveis em processos complexos/incertos” envolvem trabalhos formados por muitos elementos. Por exemplo, uma cirurgia de emergência em um diabético com exames mal controlados ou em uso de anticoagulante. Assim, pode provocar algum tipo de interação inédita e uma falha imprevisível.
Esse tipo de erro está relacionado à falta de clareza sobre os eventos futuros, nos quais decisões aparentemente sensatas produzem resultados indesejados – como no caso do uso de respiradores mecânicos no início da pandemia de Covid-19, ajustado em seguida para um tratamento menos invasivo, evitando lesões pulmonares irreversíveis.
Ambientes complexos, onde ocorre esse tipo de falha, precisam constantemente de acompanhamentos e realinhamentos de rotas. São os grandes desafios dos sistemas hospitalares. Porém, muito pode ser feito para reduzir a exposição a esse tipo de falha.
Por exemplo, trabalhar para a redução dos “erros evitáveis em operações previsíveis”. Isso, por si só, já limita a incidência de “erros inevitáveis em processos complexos/incertos”. É que sem isso, em pouco tempo, a interação entre falhas evitáveis induz a ocorrência de erros complexos, imprevisíveis e incontroláveis.
Por fim, há o terceiro tipo de falha, ou seja, os “erros de experimentação”, que estão relacionados aos processos de aprendizagem. Eles ocorrem, por exemplo, em testes para avaliar a validade de uma hipótese ou em experimentos inovadores que produzem também efeitos indesejados. Atualmente, há uma grande regulamentação no sistema de saúde para tratar de experimentos de novas drogas e procedimentos; mesmo assim, efeitos inesperados são frequentes.
Talvez a mais impactante droga da oncologia moderna, responsável por mudar o curso natural do câncer de mama, o tamoxifeno iniciou sua trajetória de estudos como anticoncepcional em animais de laboratório. Ao ser testado em humanos, o efeito foi o contrário, gerando um aumento de fertilidade, e a droga foi quase abandonada ainda nos anos 60.
Arthur Walpole resolveu testar o potencial antiestrogênico em casos de câncer de mama em animais e, anos depois, com estudos de outro pesquisador, V. Craig Jordan, o tamoxifeno foi aprovado para o tratamento do câncer metastático de mama em 1978. Hoje é usada até mesmo para prevenção do câncer de mama.
Mittelstaedt enxerga erros sob uma perspectiva temporal: não há um único evento que leve à catástrofe, uma única falha fatal, mas uma sequência crescente de erros, falhas sequenciais, que levam ao erro fatal. Essas falhas se relacionam com três problemas típicos das organizações de saúde:
Falta de comunicação: a omissão de informações críticas, mesmo que de forma involuntária, acaba induzindo ao erro, especialmente a omissão em informar sobre medicamentos de alto risco, como insulina, anticoagulantes, opioides ou cloreto de potássio.
O excesso de informação também induz ao mesmo tipo de problema, por exemplo, a fadiga de alarmes dentro de UTIs: as pessoas podem, por fim, ignorar, mudar os ajustes ou simplesmente silenciar alarmes insistentes dentro de unidades de cuidado.
Decisões apressadas ou enviesadas: há na medicina moderna um caso catastrófico exemplificando o problema do viés cultural e a pressa em decidir. Há estudos demonstrando o maior índice de apendicite perfurada e suas complicações em jovens negros quando comparados a jovens brancos. Profissionais atendendo jovens negros demoram mais para solicitar exames ou procedimentos mais invasivos, tratando apenas como uma dor abdominal comum.
Ainda assim, esses jovens recebem menos analgésicos que jovens brancos em geral. É um viés cultural do prestador de serviço que impacta de forma relevante e desigual o desfecho do cuidado, com 33% mais chance de apendicite perfurada em jovens e crianças negras do que brancas e as complicações tardias associadas a esse tratamento desigual.
Cultura da complacência e da subestimação de pequenos problemas: tolerar pequenos erros ou subestimá-los pode também ser catastrófico. Incidentes isolados ou quase erros de pequeno impacto podem, na verdade, “cascatear” e levar eventos catastróficos.
São inúmeros os relatos de eventos pós-operatórios, como dor discreta ou febre baixa, que são, inicialmente, considerados de baixo impacto, mas que se desdobram em quadros graves de sepse e morte.
Tanto Edmondson quanto Mittelstaedt entendem que o remédio para a maioria desses problemas está na capacidade de se comunicar melhor e tratar abertamente de problemas, usando técnicas estruturadas para análise e gestão dos riscos. Mais que isso, os dois consideram que líderes que se comportam de forma humilde, reconhecendo suas próprias limitações e vieses culturais e conseguem administrar melhor os problemas de segurança, equidade e riscos em operações sob suas responsabilidades.
Organizações que lidam bem com erros estão mais atentas a essas falhas na operação. Tornar os erros e riscos visíveis aumenta a chance de reconhecimento e prevenção precoce. É necessário aceitar que cometer falhas é da natureza humana. E que há tipos diferentes de erros e métodos possíveis de mitigá-los. No entanto, isso demanda uma postura proativa da liderança.
Exige que o líder fale abertamente sobre falhas, sobre condições de vulnerabilidade e iniquidade, e estude suas causas dentro de um ambiente psicologicamente seguro para que todos possam falar sobre isso. A segurança psicológica é a forma mais consistente de tornar o ambiente de trabalho mais seguro para profissionais e pacientes.
Para que o próximo erro fatal não aconteça, é preciso falar aberta e humildemente sobre a última falha. E ter em mente o pensamento do Dr. W. E. Deming, estatístico e pioneiro da melhoria contínua da qualidade: 94% dos erros são provocados pelo sistema e não pelos indivíduos. Uma pessoa boa será sempre derrotada por um sistema ruim.
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Assessoria de Comunicação