Postado em: 22/09/2025

CLIPPING AHPACEG 20 A 22/09/25

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Nova resolução do Cremego reforça autonomia do médico na definição do tempo de atendimento

https://www.issoegoias.com.br/2025/09/nova-resolucao-do-cremego-reforca.html

Nota técnica sobre suspensão parcial da Resolução CFM nº 2.434/2025

https://portal.cfm.org.br/noticias/nota-tecnica-sobre-a-suspensao-parcial-da-resolucao-cfm-no2-434-2025

Dino proíbe conselhos de intervir diretamente em universidades de medicina

https://www.contrafatos.com.br/dino-proibe-conselhos-de-intervir-diretamente-em-universidades-de-medicina/#google_vignette

Mutirão no Hugo realiza 347 cirurgias em duas semanas

https://www.aredacao.com.br/noticias/240610/mutirao-no-hugo-realiza-347-cirurgias-em-duas-semanas

Alopecia Areata: a doença que provoca queda repentina de cabelo

https://www.youtube.com/watch?v=KeVRo8hFLrU

Crise dos opioides: da tragédia americana ao risco brasileiro

https://www.jornalopcao.com.br/reportagens/crise-dos-opioides-da-tragedia-americana-ao-risco-brasileiro-747491/#google_vignette

Inovação goiana aprimora treinamento em cirurgias oculares

https://www.foconacional.com.br/2025/09/inovacao-goiana-aprimora-treinamento-em.html

Glosa é jabuticaba para consumidor e jaca na cabeça de fornecedor

https://www.saudebusiness.com/mercado-da-saude/glosa-e-jabuticaba-para-consumidor-e-jaca-na-cabeca-de-fornecedor/

STF define regras para procedimentos fora do rol; Idec vê prejuízo a pacientes

https://medicinasa.com.br/stf-procedimentos-rol-ans/

Cerca de 45% dos médicos apresentam algum quadro de doença mental

https://medicinasa.com.br/medicina-doenca-mental/

Especialistas alertam para risco de falta de radiofármacos no Brasil

https://medicinasa.com.br/falta-radiofarmacos/

Diagnóstico por imagem: menos excessos, mais precisão

https://medicinasa.com.br/diagnostico-por-imagem/

ISSO É GOIÁS

Nova resolução do Cremego reforça autonomia do médico na definição do tempo de atendimento

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) publicou, no dia 19 de setembro, a Resolução nº 118/2025, que trata diretamente da autonomia médica e estabelece diretrizes éticas voltadas à valorização da boa prática da medicina.

Em vigor desde sua publicação, a resolução deixa claro que a definição do tempo necessário para cada atendimento médico cabe exclusivamente ao médico responsável. A medida garante respaldo ético para que o médico atue com independência técnica, respeitando as necessidades clínicas de cada paciente.

O presidente do Cremego, Rafael Martinez, afirma que a nova norma representa um marco importante para a categoria. “É com grande satisfação e um senso de dever cumprido que o Conselho entrega essa resolução aos médicos e à sociedade. Ela ampara a boa medicina e reforça a autonomia do profissional ao deixar claro que quem julga o tempo necessário para cada atendimento é o médico”, destaca.

A Resolução Cremego nº 118/2025 está disponível na íntegra no Diário Oficial da União. Acesse e confira: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-cremego-n-118-de-21-de-agosto-de-2025-657079323

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PORTAL MÉDICO

Nota técnica sobre suspensão parcial da Resolução CFM nº 2.434/2025

A Resolução nº 2.434/2025 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que trata da responsabilidade técnica de coordenadores de curso de medicina em campos de estágio, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 01 de agosto de 2025 e entrará em vigora dia 1º de outubro deste ano. Trata-se de uma resolução inovadora que amplia a fiscalização de campos de estágio, dando maior segurança ao ato médico e garantindo o ensino de habilidades práticas aos estudantes de medicina nos locais de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

 A Associação de Mantenedoras de Instituições de Ensino Superior (AMIES) entrou com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI – 7.864) solicitando ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão integral da resolução.

No dia 19 de setembro de 2025, o ministro relator Flávio Dino reconheceu a legalidade da resolução, mantendo a sua vigência e suspendendo liminarmente trechos que podem ser verificados aqui. Em tempo, o CFM se manifestará processualmente, mas, há pontos de extrema importância nessa decisão que merecem ser destacados:

1- A resolução CFM nº 2.434/2025 continua válida e entrará em vigor no dia 01/10/2025, excetuando-se nos artigos que estão temporariamente suspensos.

2- Foi reconhecido o direito do CFM de fiscalização do ato médico.

3- Foi ratificado que o CFM e os CRMs “podem e devem apontar irregularidades”, se reportando as autoridades competentes como o MEC.

4- Houve o reconhecimento de que as intervenções do CFM visando assegurar padrões de qualidade e conformidade com os objetivos fundamentais da educação nacional não são obstáculos a livre iniciativa e podem ser realizados.

5- Reconhece a OBRIGATORIEDADE do coordenador do curso de medicina e do internato médico serem MÉDICOS e reconhece a exigência de comunicação pelas IES quanto à identidade do médico designado como coordenador do curso para que seja viabilizada a fiscalização ética e técnica da atuação profissional.

6- Fica mantida os princípios gerais da resolução CFM 2.434/2025 em seus principais eixos: o estabelecimento da responsabilidade técnica do coordenador do curso de medicina quanto aos campos de estágio; a obrigatoriedade do coordenador e todos os professores de disciplinas médicas serem médicos regularmente inscritos nos CRMs onde ocorrerem os estágios obrigatórios; a comunicação ao CRM de quaisquer irregularidades, infrações éticas ou eventos adversos graves observados nos campos de estágio que envolvam estudantes, professores ou preceptores; o cadastro de todas as informações sobre os campos de estágio e a identificação dos coordenadores.

Brasília, 20 de setembro de 2025.

Conselho Federal de Medicina (CFM)

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CONTRAFATOS

Dino proíbe conselhos de intervir diretamente em universidades de medicina

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu trechos da Resolução 2.434/2025 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que permitiam aos conselhos de médicos interditar cursos universitários de medicina.

A decisão foi tomada em caráter monocrático, atendendo a pedido da Associação dos Mantenedores Independentes Educadores do Ensino Superior, que ingressou com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a norma. A entidade alegou que o CFM estaria invadindo atribuições que são de competência exclusiva da União.

Limites à atuação dos conselhos

Dino determinou a suspensão de dispositivos específicos, entre eles os que previam a interdição de cursos, a exigência de anuência em convênios e a definição de critérios para salários de funcionários das instituições de ensino.

Na decisão, o ministro destacou:

“Não é dado aos Conselhos Profissionais reivindicarem para si, por ato unilateral e infralegal, as prerrogativas titularizadas pela União e conferidas por lei em sentido formal e material aos órgãos federais e estaduais de educação”.

Segundo ele, os conselhos de classe têm competência normativa restrita a aspectos técnicos e de fiscalização profissional, sem poder para impor obrigações às universidades ou intervir diretamente na área educacional.

Fiscalização possível

Dino ressaltou que os conselhos podem identificar e relatar irregularidades, mas devem encaminhar essas informações às autoridades educacionais competentes, como prevê a legislação, evitando conflitos normativos e insegurança jurídica.

A medida ainda será analisada pelo plenário do STF, que dará decisão definitiva sobre a constitucionalidade da resolução.

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A REDAÇÃO

Mutirão no Hugo realiza 347 cirurgias em duas semanas

Equipes trabalharam à noite e fins de semana

O Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) concluiu um mutirão que resultou em 347 cirurgias realizadas em cerca de duas semanas, superando a meta inicial de 160 procedimentos. A ação, prevista em plano de contingência do Governo de Goiás, ampliou em 25% a média de atendimentos no período, com equipes atuando também à noite e nos fins de semana para enfrentar o aumento da demanda na unidade.

A prioridade foi atender os casos ortopédicos, que representavam a maior demanda, além de procedimentos gerais, vasculares e neurocirúrgicos. A iniciativa ocorreu de 27 de agosto a 14 de setembro e de acordo com a diretora médica do Hugo, Fabiana Rolla, o engajamento das equipes foi essencial. “Conseguimos garantir resolutividade, mesmo em um cenário desafiador, de alta demanda e gerenciamento de casos urgentes. Nosso objetivo foi atender com celeridade, mas preservando o cuidado centrado no paciente. O resultado possibilitou maior giro de leitos e, consequentemente, ampliou o acesso dos pacientes”, destaca a médica.

Outro dado destacado pela gestão da unidade de saúde é que, em menos de um ano, houve redução do tempo médio de espera por cirurgias de cerca de 60 dias para apenas oito. Isso graças à implementação de um conjunto de ações estruturadas, como o Projeto Terapêutico Singular (PTS), programas de controle de infecções e novas estratégias de alta hospitalar planejada e acompanhamento ambulatorial.

A mobilização também se somou a outras medidas previstas no plano de contingência, como a criação de novos fluxos assistenciais no pronto-socorro e o direcionamento interno dos pacientes, conforme o nível de gravidade, para as Unidades de Internação (UI), Ortopedia (UOT) e Cirurgia (UDC). Nelas, os pacientes recebem assistência integral e todo o cuidado necessário enquanto aguardam o leito definitivo de enfermaria.

“Apesar de ser uma unidade regulada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), o dia a dia no Hugo é dinâmico e imprevisível, pois recebemos diariamente pacientes direcionados pelo Samu e Corpo de Bombeiros, sem que seja possível prever quantas pessoas chegarão ou qual será a gravidade dos casos, o que exige um modelo de gestão e profissionais preparados”, destaca a diretora médica, ao completar: “O plano será acionado sempre que necessário, visando assegurar que o hospital trabalhe de forma ágil e organizada, mesmo diante de alta demanda”.

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PUC TV

Alopecia Areata: a doença que provoca queda repentina de cabelo

https://www.youtube.com/watch?v=KeVRo8hFLrU

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JORNAL OPÇÃO

Crise dos opioides: da tragédia americana ao risco brasileiro

Entre a saúde e a geopolítica, a nova guerra às drogas envolve o combate aos opioides sintéticos e tensões internacionais

“É uma epidemia”, diz Antônio Caiado, goiano que vive nos Estados Unidos há 20 anos. “Muitos jovens, principalmente no Norte do país, têm morrido por overdose de fentanil. Muitos adolescentes têm perdido a vida”. Desde 2018, cenas de usuários dos opioides sintéticos chamam a atenção nas redes sociais e nos noticiários: pessoas inconscientes, aparentemente paralisadas em pé ou sentadas. 

Segundo o Centers for Disease Control (CDC), a crise chegou ao auge em 2023, quando 105 mil pessoas morreram por overdose nos EUA. Desde então, medidas de controle nas fronteiras fizeram com que a disponibilidade da droga caísse e as mortes diminuíssem nos Estados Unidos. Neste período, entretanto, no Brasil e no restante do mundo, cresceu a circulação de fentanil e outros opioides sintéticos ainda mais potentes, como os nitazenos.​

​O Relatório Mundial sobre Drogas 2025 da ONU revela que os opioides sintéticos foram o segundo grupo de drogas sintéticas mais apreendido no mundo em 2023, com o fentanil dominando em termos de número de doses devido à sua alta potência. O tráfico ainda concentra-se na América do Norte, onde os opióides sintéticos foram originalmente usados como agente de corte para drogas já estabelecidas no mercado, como heroína, mas começaram a surgir também na América Latina. 

Estudo de 2025 do Ministério da Justiça e Segurança Pública revelou que as apreensões desses opioides têm se tornado frequentes: de 2022 a 2023, a Polícia Civil de São Paulo realizou 133 apreensões de drogas em que nitazenos estavam presentes. O tipo mais comum identificado foi o metonitazeno, em forma de vegetal seco e fragmentado, o que sugere o uso por via inalatória (fumada). Os nitazenos também foram misturados com canabinoides sintéticos, bem como com cocaína. 

Polícias civis de três estados já identificaram nitazenos em apreensões: São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Questionados pelo Jornal Opção, tanto a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) quanto a superintendência da Polícia Federal em Goiás afirmaram que não há registros de apreensões dos opioides sintéticos no Estado. Nos países da América Latina, o fentanil circula principalmente em ampolas desviadas de sistemas de saúde, segundo a subdiretoria de Drogas da Procuradoria Nacional. 

Menos de cinco apreensões foram feitas no Brasil no período analisado pelo relatório de 2025 da ONU — mas, desde então, outras apreensões chegaram aos jornais. Em 15 de setembro, uma jovem de 20 anos foi presa em flagrante em Recife portando 20 frascos de fentanil, por exemplo. 

Infográfico no Relatório Mundial sobre Drogas 2025 ilustra a potência da droga em comparação com similares:​

​Renata Mazaro é professora titular do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG). A professora faz parte do Centro Regional de Referência para Formação Permanente sobre Drogas, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Drogas e Outras Dependências, e desenvolve a linha de pesquisa neurobiologia das drogas de abuso. Em entrevista ao Jornal Opção, a pesquisadora explica o funcionamento dos opioides sintéticos e a razão de sua letalidade. 

“Os nitazenos são mais potentes, e portanto provocam maior risco de morte”, diz Mazaro. “Apesar de possuírem o mesmo mecanismo de ação da morfina, precisam de quantidades bem menores para exercer o mesmo efeito, seja analgésico, ou seja de deprimir a região do cérebro que controla a respiração. A morte induzida pelos opioides ocorre, principalmente, pelo fato dessas drogas inibirem a resposta do centro respiratório (neurônios no cérebro que respondem às modificações de parâmetros sanguíneos referentes à respiração, principalmente a quantidade de gás carbônico no sangue).”

“Se a quantidade de gás carbônico estiver alta no corpo, os neurônios do centro respiratório disparam uma resposta para o sistema respiratório aumentar a troca gasosa e eliminar o CO2. Contudo, sob efeito dos opioides, esses neurônios perdem a habilidade de identificar essa alteração, e o corpo não consegue compensar o alto CO2 — o indivíduo vai parando de respirar, até a morte.”

“Como a potência é maior, os nitazenos e o fentanil deprimem o centro respiratório com pouca quantidade. Ao mesmo tempo, induzem a dependência rapidamente; tudo porque os receptores que se ligam as essas drogas têm alta afinidade por elas e possuem um mecanismo de adaptação rápida frente sua a presença. O corpo passa a precisar de mais e mais drogas para obter o efeito inicial.”

A heroína é menos potente em termos farmacológicos em comparação com o fentanil e os nitazenos, mas ainda é muito perigosa, destaca Renata Mazaro. 

De problema de saúde à crise geopolítica

O governo do republicano Donald Trump tem tomado medidas para controlar a crise dos opioides nos Estados Unidos. Além de aumentar o controle domesticamente, com operações e forças-tarefa policiais para desmobilizar redes de tráfico, o país passou a cobrar que países latinoamericanos persigam narcotraficantes e produtores de drogas em seus próprios territórios. 

A atitude está alinhada à nova diplomacia linha-dura dos Estados Unidos — em harmonia com tarifaços globais, suspensão do suprimento de armas para aliados e disputa agressiva por minérios estratégicos. Na última segunda-feira, 15, militares americanos destruíram um navio venezuelano que viajava em águas internacionais, supostamente com drogas a caminho dos EUA. Nicolás Maduro disse sofrer “agressão” dos EUA, chamando o principal diplomata americano, Marco Rubio, de “senhor da morte e da guerra”.

Embora não tenha recorrido à ação militar, os Estados Unidos pressionaram o México (após a China, o México é o maior produtor mundial de fentanil) a reforçar o combate ao narcotráfico por meio de sanções econômicas. Atualmente, os EUA estão em uma disputa tarifária e política com o Brasil — movida em parte pela condenção do ex-presidente Bolsonaro, aliado de Trump. Abrigando grandes facções criminosas que exportam drogas, o Brasil se preocupa com a possibilidade de se tornar um alvo.

Em 9 de setembro a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o presidente dos EUA, Donald Trump, não tem medo de usar recursos militares e econômicos contra o Brasil. Um dia antes, o presidente Lula (PT) havia criticado o envio de forças navais dos Estados Unidos para o Caribe (com propósito de coibir o narcotráfico), chamando-as de uma fonte de tensão que poderia minar a paz na região.

Para entender até onde o conflito pode escalar, o Jornal Opção ouviu um militar de dupla cidadania. Nascido em Mossâmedes, Goiás, Antônio Caiado vive nos Estados Unidos há 20 anos. Atualmente morando em Dallas, ele é primeiro-sargento na Texas Army National Guard, responsável por gerenciar equipes que coletam informações usadas na elaboração de operações estratégicas do exército americano. Ele revela detalhes da “guerra às drogas” conduzida por Donald Trump.

“Os Estados Unidos vêm adotando ações não apenas no México, mas também dentro do próprio território. Na semana passada, por exemplo, o exército apreendeu um grande volume de material utilizado na produção de fentanil que estava dentro dos Estados Unidos. O maior produtor é a China. O México funciona, na verdade, como rota de trânsito: os insumos chegam lá, a produção é finalizada e, em seguida, a droga é enviada para os Estados Unidos.” 

“Atualmente, no entanto, a fronteira está muito mais fechada, o que dificulta bastante a entrada de qualquer tipo de droga. A forma como Trump tem combatido o tráfico deve reduzir o consumo interno nos próximos anos. Ele reforçou o controle em todo o Caribe, além de intensificar a vigilância nas fronteiras com o México e o Canadá. Ele não está brincando: os Estados Unidos mantêm vigilância em nível global.”

“Por outro lado, à medida que Trump endurece o combate, os traficantes também buscam novas rotas alternativas. Ou seja, a luta contra o tráfico e, em especial, contra o fentanil não é apenas um pretexto político, trata-se de uma preocupação real. A intenção é reduzir as mortes de cidadãos, não se trata de uma tentativa de interferir em outros governos.”

Por que nos EUA e não no Brasil?

Renata Mazaro explica que fatores históricos e de políticas públicas explicam por que os opioides se tornaram um enorme problema nos Estados Unidos, mas nem tanto no Brasil. Essa realidade não diz respeito apenas ao fentanil e nitazenos, mas remonta à heroína no século 20. O elevado custo da heroína desestimulou seu uso no Brasil, enquanto nos EUA, a maior penetração dos opióides está associada ao uso da morfina por veteranos de guerra. 

“No Brasil, o perfil de usuários de opioides está ligado aos profissionais da área da saúde, que têm acesso aos medicamentos controlados. Sobre as overdoses, temos principalmente casos de intoxicação acidental, quando essas drogas estão misturadas em outras. Há registro de fentanil colocado nos selinhos de LSD, por exemplo. A pessoa compra o LSD e consome fentanil sem saber.”

“Pela facilidade de síntese em laboratórios clandestinos de algumas moléculas presentes nas drogas sintéticas, elas acabam entrando no mercado de forma muito fácil”, diz Renata Mazaro sobre novas drogas não catalogadas. Ela explica que para que uma nova droga passe a ser monitorada pelas autoridades, os órgãos competentes da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) solicitam à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sua inclusão nas listas de classificação. “Isso ajuda muito a polícia no controle da repreensão desse tipo de droga quando chega no Brasil”.

A cientista explica por que e como produtores e traficantes seguem criando novas moléculas. “Pensando da perspectiva dos traficantes, fazendo uma ‘análise de mercado’, a existência de drogas muito potentes, que levam à morte os usuários, isso não é interessante. O tráfico perde seu usuário. Então, eles fazem ajustes de acordo com a resposta de intoxicação desse usuário. É um processo bem primitivo do ponto de vista científico e farmacológico, mas é a forma que eles fazem o equilíbrio do mercado de consumo deles, infelizmente”. 

Os laboratórios forenses associados às polícias Civil e Federal são capazes de identificar opioides, sejam naturais ou sintéticos, como é o caso do fentanil e os nitazenos. “A rede dos CIATox (Centros de Informação e Assistência Toxicológica) estão distribuídos em 22 das 27 unidades federativas do Brasil, totalizando 32 centros ativos”, diz Renata Mazaro. 

Quando uma vítima busca tratamento e a intoxicação é confirmada, médicos podem reverter o efeito depressor respiratório com a droga Naloxona — um antagonista de opioide indicado para o tratamento de emergência de superdose. “Após o acolhimento e tratamento da vítima, o sangue é enviado para laboratórios de análises cadastrados.”

“O grande alerta feito pela United Nations Office on Drugs and Crime (UNDOC) hoje, e de todos órgãos responsáveis dos países que trabalham avidamente para o combate do tráfico de drogas, são as drogas sintéticas. Essas drogas são produzidas a todo momento. São refúgios de moléculas da indústria farmacêutica que não foram aproveitadas para uso terapêutico, mas que encontraram uso de forma abusiva por conta de seus efeitos colaterais”, conclui Renata Mazaro.  

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FOCO NACIONAL

Inovação goiana aprimora treinamento em cirurgias oculares

Os oftalmologistas goianos Bruna Thomé Rassi e Leiser Franco, membros do corpo clínico do Instituto Panamericano da Visão (IPVisão), desenvolveram um dispositivo inovador que está transformando o treinamento de residentes e especialistas em oftalmologia. Trata-se do iChamber.

O equipamento permite a simulação realista de cirurgias oculares, como a cirurgia de catarata, oferecendo um ambiente seguro e eficaz para o aperfeiçoamento técnico dos profissionais. Com o uso do iChamber, oftalmologistas em formação e já experientes podem praticar, repetir movimentos e simular situações complexas, aumentando sua precisão cirúrgica e segurança no atendimento ao paciente.

Segundo Leiser Franco, o treinamento contínuo e controlado é essencial para o domínio de técnicas e a atualização em novas abordagens, sem expor pacientes a riscos. “A possibilidade de simular diferentes cenários e repetir procedimentos torna o aprendizado muito mais eficiente e contribui para o desenvolvimento da precisão cirúrgica”, destaca.

A inovação tem sido apresentada por Bruna Thomé Rassi e Leiser Franco em cursos, workshops e congressos especializados, contribuindo significativamente para a formação e o aperfeiçoamento de médicos na área da cirurgia ocular.

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MEDICINA S/A

Glosa é jabuticaba para consumidor e jaca na cabeça de fornecedor

Prática comum no Brasil, as glosas desafiam a sustentabilidade das empresas de produtos para saúde, geram insegurança financeira e expõem a falta de transparência no relacionamento com operadoras.

Lembro-me, como se fosse hoje, de um episódio ocorrido há cerca de uma década. Na época, Martha Oliveira, então diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), relatava a surpresa de um executivo alemão ao ouvir, em uma reunião internacional na Europa, a menção às “glosas” praticadas com tanta frequência por operadoras e planos de saúde no Brasil.

O executivo não conseguia compreender o que era uma glosa, como se aplicava e, sobretudo, por que era imposta quando o procedimento já havia sido previamente autorizado. Não foi apenas ele: segundo Martha, o espanto se espalhou entre todos os integrantes da mesa e da plateia.

Mais do que uma “jabuticaba”, a glosa parece uma verdadeira jaca pendurada, a seis metros de altura, sobre a cabeça dos fornecedores de produtos para a saúde. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI) constatou que 80% das empresas associadas tiveram sua prestação de contas glosada por operadoras e planos de saúde ao longo do último ano.

A glosa ocorre quando o cliente suspende total ou parcialmente o pagamento por equipamentos e materiais utilizados em cirurgias, assim como acontece com os consumidores que têm um reembolso lícito glosado, por exemplo.

O problema se agrava porque, muitas vezes, os motivos da glosa sequer são informados. Quando são, a comunicação carece de transparência e costuma vir acompanhada de justificativas vagas, baseadas em “razões técnicas ou administrativas”. O que se sabe de fato é que o pagamento não será realizado ou sofrerá atrasos significativos.

Na mesma pesquisa, apontou-se um prazo médio de pagamento de 139 dias — o equivalente a quatro meses e 19 dias. Essa prática recorrente cresceu cerca de 20% em relação ao ano anterior, subtraindo ou postergando aproximadamente R$ 30 milhões do caixa das empresas de produtos para a saúde. Trata-se do valor mais alto desde o início da série histórica da ABRAIDI, que começou em 2017.

Os pagamentos glosados atingem toda a gama de procedimentos, tanto cirurgias de urgência e emergência quanto procedimentos eletivos, previamente programados e autorizados pelas operadoras. A proporção de glosas entre ambos os tipos de atendimento foi equivalente. É interessante notar, porém, que essa prática recuou durante os anos da pandemia de Covid-19 — provavelmente devido à queda no número de cirurgias eletivas —, mas voltou a crescer gradativamente nos anos seguintes, até atingir o pico em 2024.

As glosas geram incerteza e dificuldades na gestão financeira, comprometem o fluxo de caixa, afetam a sustentabilidade das empresas e, inevitavelmente, desgastam o relacionamento comercial. Fornecedores de produtos para a saúde acabam obrigados a se submeter a condições que os prejudicam, assim como os consumidores, que enfrentam no dia a dia problema semelhante.

Segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o número de ações contra planos de saúde dobrou nos últimos quatro anos, passando de 141 mil novos processos em 2020 para quase 300 mil em 2024.

O consumidor não quer uma jabuticaba lhe desça torta pela garganta, nem o fornecedor de produtos deseja viver sob o risco de uma jaca sobre a cabeça. O que se busca é um diálogo mais transparente com as operadoras, para que juntos possamos construir soluções para um problema tão grave.

Instituto Ética Saúde tem debatido as distorções do setor. No entanto, nessas discussões, permanece vazia a cadeira que deveria ser ocupada por representantes dos planos de saúde.

Um dos maiores filósofos da Grécia Antiga Sócrates ensinava que “a palavra é o instrumento irresistível da conquista da razão”. Quem foge do diálogo o faz porque sabe que não há nada de racional em suas atitudes, apenas a busca pelo benefício próprio, sem qualquer compromisso com o coletivo.

*Sérgio Madeira é médico e diretor técnico da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI).

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STF define regras para procedimentos fora do rol; Idec vê prejuízo a pacientes

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (18) permitir que os planos de saúde sejam obrigados a cobrir procedimentos que não estão no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a lista de procedimentos que devem ser cobertos obrigatoriamente pelos planos. Com a decisão, a Corte considerou constitucional obrigar as operadoras a cobrir tratamentos ou procedimentos fora do rol da ANS.

Contudo, a cobertura de tratamentos fora do rol deverá levar em conta cinco parâmetros, que devem estar presentes cumulativamente nos casos que forem analisados.

Parâmetros para autorização

Prescrição do tratamento por medico ou odontólogo habilitado;

Inexistência de negativa expressa ou pendência de análise de atualização do rol da ANS;

Inexistência de alternativa terapêutica que já esteja no rol da ANS;

Comprovação de eficácia e segurança do tratamento conforme na medicina baseada em evidências;

Existência de registro da Anvisa.

Decisões judiciais

Nas decisões judiciais envolvendo autorizações para tratamentos que não constam no rol da ANS, o Supremo entendeu que o juiz deverá fazer diversas verificações antes de decidir o caso. Se a orientação não for seguida, a decisão judicial poderá ser anulada.

Verificar se houve requerimento prévio à operadora e se houve demora irrazoável ou omissão da operadora na autorização do tratamento;

Analisar previamente informações do banco de dados do Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário (NATJUS) antes da decisão. O magistrado não poderá fundamentar sua decisão apenas na prescrição ou lado médico apresentado pelo usuário do plano.

Em caso de concessão da liminar favorável ao usuário, o juiz deverá oficiar a ANS sobre a possibilidade de inclusão do tratamento no rol de procedimentos.

Os parâmetros foram estabelecidos pelo relator, ministro Luís Roberto Barroso, que foi seguido pelo ministro Nunes Marques, André Mendonça, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Os demais ministros também votaram pela validade da cobertura de procedimentos que não estão no rol, mas entenderam que a Corte não poderia estabelecer os parâmetros. Estão nessa situação os ministros Flávio Dino, Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Cármen Lúcia.

Idec diz que decisão do STF vai prejudicar usuários de planos de saúde

O Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) afirmou que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou os procedimentos fora do rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vai prejudicar os usuários de planos de saúde.

Mais cedo, a Corte decidiu validar uma lei de 2022 que obriga os planos de saúde a cobrir os tratamentos fora da lista da ANS. Contudo, a maioria dos ministros estabeleceu novos critérios para as autorizações.

Na avaliação do Idec, um dos principais órgãos de defesa do consumidor no país, a decisão do Supremo é “gravemente prejudicial” aos usuários de planos e privilegia argumentos econômicos das operadoras em detrimento da saúde dos pacientes.

De acordo com o advogado Walter Moura, representante do instituto, o entendimento do STF terá consequências concretas para os usuários.

“Apesar de afirmar que o rol continua exemplificativo, trouxe uma situação pior da que a prevista pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que levou o Poder Legislativo a editar uma lei para salvar o cidadão, que já paga valores estratosféricos para manter seu contrato de plano de saúde”, avaliou Moura.

Hospitais

Em nota, a Federação dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo (FeSaúde) disse que o setor precisa de segurança jurídica e equilíbrio regulatório.

Para Francisco Balestrin, presidente da entidade, o rol de procedimentos não pode ser absoluto nem um “convite a coberturas sem limites”.

“É exatamente essa a posição que defendemos. Exceções podem existir, mas com critérios técnicos claros, eficácia comprovada, registro regulatório, ausência de alternativas adequadas e avaliação científica”, afirmou.

Balestrin também defendeu o reconhecimento a ANS como instância técnica para atualizar a lista de procedimentos e evitar a “judicialização excessiva” no setor.

“Esse é o caminho que protege a sustentabilidade dos planos, assegura a viabilidade dos prestadores e, sobretudo, preserva o direito do paciente de acessar inovações de forma responsável”, completou.

Entenda

A Corte julgou uma ação protocolada pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) contra trechos da Lei 14.454/2022.

A norma definiu que as operadoras devem custear tratamentos e exames que não estão previstos no chamado rol da ANS, a lista de procedimentos que devem ser cobertos obrigatoriamente pelos planos.

A lei foi sancionada após a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que definiu, em junho de 2022, que as operadoras não são obrigadas a cobrir procedimentos médicos que não estão previstos no rol da ANS.

O STJ entendeu que o rol de procedimentos definidos pela agência é taxativo, ou seja, os usuários não têm direito a exames e tratamentos que estão fora da lista.

Após a entrada em vigor da legislação, o rol passou a ser exemplificativo, e não taxativo.

Além disso, a norma definiu que o rol é uma referência básica para os planos privados de assistência à saúde contratados a partir de 1º de janeiro de 1999.

Dessa forma, os procedimentos que forem autorizados por médicos ou dentistas devem ser autorizados pelos planos, desde que exista comprovação da eficácia do tratamento ou sejam recomendados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Com a decisão do Supremo, o rol exemplificativo continua valendo, mas as concessões de autorizações para a cobertura de tratamentos fora do rol deverão levar em conta cinco parâmetros, que devem estar presentes cumulativamente nos casos que forem analisados. 

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Cerca de 45% dos médicos apresentam algum quadro de doença mental

Com rotinas de trabalho que podem ultrapassar 70 horas semanais e uma pressão constante pela excelência em toda jornada, médicos enfrentam condições que favorecem o esgotamento emocional. Nova pesquisa Qualidade de Vida do Médico, realizada pelo Research & Innovation Center da Afya, ecossistema de educação e tecnologia em medicina, mostra que cerca de 45% desses profissionais apresentam algum quadro de doença mental.

“A formação médica exige dedicação integral, o que, somado à cobrança por excelência e à dificuldade de reservar tempo para si, pode favorecer o esgotamento emocional”, destaca Stella Brant, vice-presidente de Marketing e Sustentabilidade da Afya.

Burnout, ansiedade e depressão

Em comparação com o ano anterior, o estudo Qualidade de Vida do Médico aponta um aumento de 13% no número de profissionais que relatam algum quadro de doença mental, um retorno ao patamar observado no período pós-pandemia.

O recorte de gênero também chama atenção: 51,8% das médicas foram diagnosticadas com algum transtorno em 2025, frente a 46,8% no ano anterior. “O aumento geral desses números pode estar relacionado à maior conscientização sobre saúde mental, que tem levado mais médicos a reconhecer sintomas, buscar apoio especializado e obter diagnósticos adequados”, explica o médico Eduardo Moura, que está à frente do Research & Innovation Center da Afya.

O estudo também aponta que 1 a cada 2 médicos (58,2%) já vivenciaram algum grau de esgotamento relacionado ao trabalho, enquanto 4 em cada 10 convivem com um diagnóstico de transtorno de ansiedade. Apenas 24,7% dos respondentes afirmam nunca ter apresentado sintomas de ansiedade — o que significa que mais de 75% já vivenciaram algum grau de sofrimento ansioso ao longo da vida.

A pesquisa também busca avaliar o número de diagnósticos de depressão entre médicos e médicas e se há tratamento e acompanhamento com um especialista.

No caso específico da depressão, apenas 36,1% nunca apresentaram sintomas — ou seja, quase dois terços da amostra já vivenciaram, em algum grau, experiências depressivas. Além disso, 22,6% já foram diagnosticados em algum momento e atualmente não convivem com a condição. Hoje, 41,3% manifestam sintomas de depressão, sendo 25,7% diagnosticados formalmente com a condição. Ainda assim, parte desse grupo não realiza acompanhamento com especialista.

 

As mulheres relatam a condição com mais frequência em todas as etapas do ciclo da doença. Elas são maioria tanto entre aquelas que têm diagnóstico atual e fazem acompanhamento (25,1%, contra 18,2% dos homens) quanto entre as que já foram diagnosticadas (24,6% contra 20%).

“Os números mostram que o sofrimento emocional dos médicos não é pontual, é estrutural. Altos índices de ansiedade, burnout e depressão, somados às desigualdades de gênero, revelam a urgência de reposicionar o cuidado com quem cuida como prioridade estratégica. Isso exige políticas contínuas, integradas e sensíveis às realidades da profissão. Mais do que estatísticas, os dados escancaram urgências humanas que o país não pode mais ignorar”, conclui Eduardo Moura.

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Especialistas alertam para risco de falta de radiofármacos no Brasil

Debatedores apontaram riscos no abastecimento de radiofármacos no país durante audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, realizada a pedido da deputada Adriana Ventura (Novo-SP) e do deputado Frederico (PRD-MG). Radiofármacos são medicamentos combinados com material radioativo usados em exames e tratamentos, auxiliando no diagnóstico de câncer, doenças cardíacas, neurológicas e da tireoide.

Em 2022, a Emenda Constitucional 118 derrubou o monopólio estatal na fabricação desses medicamentos, com o objetivo de democratizar o acesso e viabilizar a produção regionalizada. No entanto, segundo os especialistas, desde a mudança, a oferta caiu e os preços aumentaram. Entre 2022 e 2025, por exemplo, o kit Sestamibi — usado em cintilografias — quase dobrou de preço, passando de R$ 795 para R$ 1.565.

A presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Elba Cristina Echtebehere, lembrou que a especialidade cresce 11% ao ano e que o Brasil poderia atender três vezes mais pacientes por ano. Hoje, são realizados cerca de 2 milhões de exames anualmente.

Falta de concorrência

De acordo com Davi Chaves, do Instituto Livre Mercado, as regras editadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inviabilizaram a concorrência na produção de radiofármacos pelo setor privado e prejudicaram o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), vinculado à Comissão Nacional de Energia Nuclear.

A professora da Universidade de Brasília (UnB) Amanda Flávio de Oliveira avaliou que as exigências da Anvisa comprometem o setor, provocam desabastecimento e levam à adoção de medidas paliativas. “As medidas paliativas têm prazo e vão sendo reeditadas, o que mostra a inadequação da regulamentação.”

Problemas de transporte

Outro entrave é o transporte dos radiofármacos. O presidente da Associação Nacional de Empresas de Medicina Nuclear (ANAEMN), Marcos Villela Pedras, disse que companhias aéreas evitam transportar os produtos por receio de ações trabalhistas. O problema é mais grave nas regiões Norte e Nordeste.

“As empresas aéreas não querem transportar o material radioativo porque estão sendo processadas por questões trabalhistas relativas à periculosidade, mesmo quando o material já está liberado e não emite radiação.”

Risco de interrupção da produção

A coordenadora de Radiofarmácia do Ipen, Elaine Bortoleti de Araújo, alertou para o risco de interrupção na produção. “A fabricação é feita em instalações antigas, da década de 1970, o que representa risco iminente de interrupção. Dos 36 radiofármacos peticionados na Anvisa, o Ipen tem 18 registros sanitários. É fundamental ampliar a interação entre os ministérios de Ciência e Tecnologia e da Saúde para discutir um novo modelo de gestão.”

Ravvi Madruga, do Ministério da Fazenda, informou que a pasta avalia a questão sob o ponto de vista da concorrência, ouvindo Anvisa, Ipen e agentes de mercado.

A Anvisa foi convidada para a audiência, mas não enviou representante. (Com informações da Agência Câmara de Notícias)

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Diagnóstico por imagem: menos excessos, mais precisão

Um exame de imagem pode mudar os rumos de um tratamento. Em poucos minutos, fornece informações essenciais que orientam decisões médicas e pode salvar vidas. No entanto, para garantir segurança e efetividade, o exame de diagnóstico por imagem deve ser solicitado com critério e realizado conforme protocolos que equilibrem benefícios e riscos. Segundo o Painel D-TISS da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), somente na saúde suplementar, foram realizados mais de 10 milhões de exames de raios-X em 2024. O dado evidencia como essa modalidade está presente no cotidiano médico, mas também reforça a necessidade de uso responsável, especialmente em contextos de alta demanda.

Nos últimos anos, os avanços tecnológicos no setor permitiram reduzir significativamente as doses de radiação utilizadas, sem prejuízo da qualidade diagnóstica. Protocolos otimizados possibilitam, por exemplo, realizar tomografias de tórax ou abdômen com até 75% menos exposição em comparação aos métodos convencionais. Essa redução é especialmente relevante para pacientes mais sensíveis, como crianças e idosos, que se beneficiam de ajustes específicos ao seu perfil clínico.

O uso criterioso dos exames de imagem traz benefícios não apenas para o paciente, mas também para todo o sistema de saúde. Em ambientes públicos, onde os recursos são limitados, cada exame realizado de forma adequada contribui para que mais pessoas tenham acesso ao diagnóstico no momento certo, aumentando a eficiência, a qualidade e a equidade no atendimento.

Manter esse padrão exige a adoção de protocolos baseados em evidências, alinhados a diretrizes nacionais, como as do Colégio Brasileiro de Radiologia, e internacionais, como as do Colégio Americano de Radiologia (ACR). Também requer investimento contínuo em atualização tecnológica, capacitação das equipes e implantação de sistemas que favoreçam a agilidade e a segurança na entrega dos resultados. Entre as práticas que vêm transformando o setor estão a interoperabilidade de sistemas, que permite acesso rápido às informações; a telerradiologia, que amplia a avaliação médica à distância; a operação remota de equipamentos, viabilizada por centrais de comando; e o uso de inteligência artificial para triagem de exames, acelerando a identificação de achados críticos em situações de urgência.

O diagnóstico por imagem tornou-se um pilar da medicina moderna. Mais do que detectar doenças, os exames encurtam o tempo até o tratamento e devolvem qualidade de vida aos pacientes, desde que realizados com critério, protocolos rigorosos e equipes capacitadas.

Avanços como a interoperabilidade de sistemas, a operação remota de equipamentos e o uso de inteligência artificial na triagem de exames aceleram a identificação de achados críticos e elevam a precisão, tornando o processo mais ágil e seguro para todos. Por isso, a qualidade no diagnóstico por imagem não se mede apenas pelo número de exames realizados, mas pela capacidade de fazer o exame certo, da forma certa e no momento certo. Esse é um compromisso essencial para garantir que cada imagem captada represente um passo seguro na jornada de recuperação de um paciente — unindo ciência, tecnologia e cuidado.

*Henrique Carrete Jr. é médico radiologista e Head de Qualidade da FIDI – Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem.

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Assessoria de Comunicação