CLIPPING AHPACEG 11/09/25
ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Deputado Cairo Salim defende uso de videomonitoramento em UTIs
Unicef: obesidade infantil supera desnutrição pela 1ª vez no mundo
Como as parcerias público-privadas estão ampliando o acesso aos cuidados na AL
https://medicinasa.com.br/ppp-saude/
A redefinição do cuidado em saúde no Brasil passa pela IA
https://medicinasa.com.br/redefinicao-cuidado-ia/
Verdade inconveniente: setor de saúde ainda venera o papel
https://www.saudebusiness.com/colunistas/verdade-inconveniente-setor-de-saude-ainda-venera-o-papel/
Paciente fica ferido após incêndio durante ressonância
A nova experiência do paciente com a digitalização da saúde
https://futurodasaude.com.br/experiencia-do-paciente-brd-yt-einstein/
Judicialização da saúde segue em alta e governo busca soluções
https://futurodasaude.com.br/judicializacao-solucoes/
Ministro da Saúde detalha aumento das despesas e pede mais recursos para a Pasta
ALEGO
Deputado Cairo Salim defende uso de videomonitoramento em UTIs
Na audiência pública em curso na manhã desta terça-feira, na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), que debate a instalação de câmeras em unidades de terapia intensiva (UTIs), o deputado Cairo Salim (PSD), propositor do encontro, abriu os trabalhos ressaltando a importância do Parlamento como espaço de escuta da sociedade e de discussão de temas sensíveis na área da saúde.
“Estamos aqui hoje cumprindo uma das nossas missões, que é debater, ouvir a população, ouvir os segmentos organizados da sociedade, as entidades que participam desse tema tão caro para nós, que é a saúde, seja ela pública ou privada”, afirmou o parlamentar. Ele lembrou que já apresentou proposta semelhante em 2019, aprovada pelo Legislativo, mas vetada pelo Executivo.
Salim destacou que a tecnologia já faz parte do cotidiano da sociedade e deve ser utilizada também para garantir segurança e transparência dentro das unidades de saúde. “Vivemos num 'big brother'. Olha o tanto de câmera aqui nesta sala. Como está a cidade de Goiânia agora? Há câmera para todo lado. E é assim no mundo todo”, exemplificou.
O deputado defendeu a medida como forma de proteção tanto para pacientes quanto para profissionais da saúde, citando casos em que o videomonitoramento foi essencial para esclarecer situações graves. “Por que colocar a câmera? Para prevenir abusos que podem, sim, acontecer e já aconteceram em Goiás”, pontuou, ao mencionar o episódio de uma paciente abusada dentro de uma UTI, caso solucionado graças às imagens gravadas.
Preservar
Salim também argumentou que o recurso pode auxiliar a preservar a atuação correta de médicos e enfermeiros. “A câmera também pode ser um grande solucionador dessas demandas, ajudando os bons profissionais que estão nessas unidades de saúde, poupando-os de processos injustos.”
O parlamentar reiterou que respeita os diferentes posicionamentos sobre o tema, inclusive de entidades médicas e hospitalares, mas defendeu que a decisão sobre a obrigatoriedade cabe ao Parlamento. “Quem tem que definir isso? São os deputados. E eu acredito que essa é uma demanda importante da sociedade”, afirmou.
Ao finalizar sua fala de abertura, Cairo Salim registrou agradecimentos aos representantes presentes, como o gerente de Telessaúde, Rafael Souto, o advogado Leonardo Rocha Machado, representante da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (AHEG), e o médico Frank Cardoso, da Secretaria de Saúde de Goiânia, ressaltando sua disposição em conduzir o debate de forma ampla e democrática.
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AGÊNCIA BRASIL
Unicef: obesidade infantil supera desnutrição pela 1ª vez no mundo
Rio de Janeiro - Uma em cada cinco crianças ou adolescentes do mundo está acima do peso, o que representa cerca de 391 milhões de indivíduos. Quase metade delas - 188 milhões - apresenta obesidade. Com isso, pela primeira vez na história, o excesso de peso grave superou a desnutrição como a maior forma de ná nutrição infantil. Os dados são do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que alerta para o risco de adoecemento.
Em um relatório com dados de mais de 190 países, a organização mostra que a prevalência de desnutrição entre crianças de 5 a 19 anos caiu de quase 13% para 9,2%, entre 2000 e 2025 Enquanto isso as taxas de obesidade aumentaram de 3% para 9,4%. A obesidade só não superou a desnutrição em duas regiões do mundo: a África Subsaariana e o Sul da Ásia.
No Brasil, esse já é o panorama há algumas décadas. No ano 2000, 5% das crianças e adolescentes apresentavam obesidade, contra 4% afetados pela desnutrição. Até 2022, o índice de obesidade triplicou, chegando a 15%, enquanto a desnutrição continuou caindo para 3% dessa população. Além disso, o sobrepeso dobrou de 18% para 36%.
Segundo o relatório, as maiores taxas de obesidade entre crianças e adolescentes foram encontradas em países das Ilhas do Pacífico, passando de 30%. A principal razão, segundo o Unicef, é a substituição da alimentação tradicional por alimentos ultraprocessados, que são mais baratos.
Ultraprocessados
Mas as taxas de obesidade e o consumo de ultraprocessados também preocupam em países de alta renda, de continentes e com contextos culturais diferentes. No Chile, 27% das habitantes entre 5 a 19 anos vivem com obesidade, e a proporção é de 21% nos Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, ou seja, 2 a cada 10.
“A obesidade é uma preocupação crescente que pode impactar a saúde e o desenvolvimento das crianças. Os alimentos ultraprocessados estão substituindo cada vez mais frutas, vegetais e proteínas, justamente quando a nutrição desempenha um papel crítico no crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde mental das crianças”, lamenta Catherine Russell, Diretora Executiva do Unicef.
De acordo com a organização, a mudança não se deve a escolhas pessoais, mas a "ambientes alimentares prejudiciais que estão moldando a dieta das crianças, para privilegiar alimentos ultraprocessados e fast foods", que contém altas concentrações de açúcar, amido refinado, sal, gorduras não saudáveis e aditivos. "Esses produtos dominam comércios e escolas, enquanto o marketing digital dá à indústria de alimentos e bebidas acesso poderoso ao público jovem", alerta a publicação.
Idades
O relatório mostra também que a desnutrição continua sendo uma preocupação significativa entre crianças menores de 5 anos em muitos países de baixa e média renda, enquanto o excesso de peso é mais prevalente entre as crianças em idade escolar e adolescentes.
De acordo com o relatório, a condição aumenta o risco de desenvolver resistência à insulina, pressão alta e doenças graves ao longo da vida, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.
O Unicef calcula que, se os países não intervirem para prevenir o excesso de peso infantil, podem enfrentar grandes impactos econômicos, por causa das consequências na saúde pública. Até 2035, o impacto econômico global do sobrepeso e da obesidade deve ultrapassar US$ 4 trilhões por ano.
Por outro lado, alguns países aparecem como exemplos positivos, incluindo o Brasil. A organização destaca: a restrição progressiva da compra de ultraprocessados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); a vedação de propagandas de alimentos não saudáveis para crianças; a rotulagem frontal, que destaca quando um produto é rico em substâncias nocivas, como açúcar e sódio; e a proibição do uso de gorduras trans na produção de alimentos.
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MEDICINA S/A
Como as parcerias público-privadas estão ampliando o acesso aos cuidados na AL
Acho que tenho um dos melhores empregos do mundo. Isso pode soar como uma afirmação ousada, mas como alguém que trabalha na interseção de inovação e propósito, ajudando os sistemas de saúde em toda a América Latina a melhorar e expandir seu alcance, sinto isso todos os dias. No entanto, nossa região enfrenta uma realidade preocupante: cerca de 30% da população ainda enfrenta barreiras para acessar serviços essenciais de saúde. São mais de 200 milhões de pessoas que não conseguem entrar em contato facilmente com um médico quando precisam de um. E isso não é algo que qualquer organização possa consertar.
A saúde é um dos maiores dilemas para a sociedade resolver. Quer estejamos falando de infraestrutura desatualizada ou escassez de pessoal nas áreas rurais, a necessidade de ação coletiva nunca foi tão clara. A colaboração não é apenas útil, é fundamental. Na verdade, eu diria que é a chave para uma mudança duradoura.
Por que as parcerias público-privadas são importantes
Para causar um impacto real na área da saúde, não podemos olhar para iniciativas de curta duração ou melhorias isoladas. O que precisamos são soluções escaláveis criadas por diversas partes interessadas que se unem em torno de um objetivo comum. E é aqui que entram em jogo as parcerias público-privadas (PPPs).
Ao reunir representantes de todo o ecossistema de saúde – governos, empresas de tecnologia, hospitais e muito mais – as PPPs oferecem uma estrutura para o desenvolvimento em conjunto de serviços eficientes, eficazes e acessíveis. Eles não apenas fornecem ferramentas; eles entregam transformação. Quando implantadas com cuidado, essas parcerias melhoram a saúde da comunidade, coordenam o atendimento de forma mais eficaz e disponibilizam serviços para mais pessoas em mais lugares.
Os líderes de saúde estão a bordo
Esse compromisso com a colaboração se reflete em nosso relatório Future Health Index Brazil 2024. Os líderes de saúde no Brasil estão cada vez mais olhando além de suas organizações para aumentar a qualidade e a acessibilidade do atendimento em suas comunidades. Eles veem um papel claro para parcerias estratégicas para apoiar a saúde da comunidade e preencher lacunas na prestação de cuidados.
Então, com quem eles estão fazendo parceria? Muitos estão de olho em empresas de tecnologia de saúde (42%) e instituições educacionais (33%), com entidades governamentais e seguradoras/pagadoras vistas como igualmente vitais (ambas com 44%), especialmente para melhorar a pontualidade e a qualidade do atendimento. Essas parcerias ajudaram a modernizar os hospitais públicos, simplificando o gerenciamento e integrando tecnologias avançadas, aumentando a sustentabilidade financeira e elevando o atendimento.
Um exemplo disso é o surgimento de redes de tele radiologia, que permitem diagnóstico por imagem e revisão especializada a partir de locais centralizados. Em vez de depender de um único técnico ou médico em um hospital público sobrecarregado, as imagens médicas podem ser processadas remotamente por profissionais treinados. Isso é um divisor de águas para regiões remotas do Brasil, onde o acesso aos cuidados tem sido um desafio. Por meio de análise virtual e suporte de telessaúde, pacientes em áreas carentes recebem diagnósticos mais rápidos e precisos.
Destaque: a transformação diagnóstica da Bahia
Veja a Bahia, um dos maiores estados do Brasil. Com desafios de infraestrutura e escassez contínua de pessoal, o governo enfrentou lutas reais para manter os serviços hospitalares. Em resposta, eles formaram uma parceria público-privada com a Philips e um consórcio de diagnósticos. Juntos, entregamos um novo centro de radiologia centralizado e 44 equipamentos, incluindo 12 unidades de imagem em 12 hospitais. Essa iniciativa não se tratava apenas de colocar máquinas no prédio, mas de conectar equipes de especialistas com médicos da linha de frente em comunidades carentes. Com R$ 120 milhões investidos em infraestrutura e equipamentos, essa colaboração possibilitou mais de 500 mil exames diagnósticos em apenas um ano.
Na década seguinte, mais de 3.5 milhões de pessoas se beneficiaram de exames realizados por meio dessa parceria. Adoro o fato de que esse impacto começou com uma visão compartilhada de construir algo maior do que qualquer organização poderia alcançar sozinha.
Pequenas parcerias, grandes inovações
Embora as colaborações em larga escala muitas vezes ganhem as manchetes, há outro lado da inovação por meio de PPPs: as parcerias menores e ágeis que testam novos modelos e melhoram a eficiência. Esses projetos, muitas vezes combinando necessidades públicas com precisão do setor privado, são um terreno fértil para a implantação de tecnologia de ponta.
Ao emprestar estratégias de produtividade de fluxos de trabalho do setor privado e integrar os melhores sistemas da categoria em ambientes públicos, essas parcerias ajudam a ampliar ainda mais os recursos existentes. Não se trata apenas de aumentar o número de pacientes atendidos, mas também a eficácia. É aí que a mágica acontece: quando a implantação inteligente encontra o compromisso público.
Redefinindo o que o acesso realmente significa
Em última análise, as parcerias público-privadas não têm a ver com a entrega de novas tecnologias brilhantes. Trata-se de redefinir o acesso aos cuidados e colaborar para possibilitar que mais pessoas, independentemente de quem sejam ou de onde morem, obtenham os cuidados de que precisam. Como diz o ditado: se você quer ir rápido, vá sozinho. Mas se você quer ir longe, vá acompanhado.
*Felipe Basso é Diretor Geral da Philips América Latina.
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A redefinição do cuidado em saúde no Brasil passa pela IA
A área da saúde vive uma transformação concreta e em ritmo acelerado, impulsionada por soluções de Inteligência Artificial (IA) cada vez mais especializadas. Mais do que uma promessa futurista, essas tecnologias já estão redefinindo diagnósticos, tratamentos, a gestão hospitalar e, principalmente, abrindo caminho para um sistema de saúde mais acessível, preciso e sustentável.
Um dos exemplos mais impactantes é o AI Diagnostic Orchestrator (MAI-DxO), da Microsoft, que alcançou 85,5% de acurácia em diagnósticos complexos em testes controlados com 304 casos, desempenho muito superior à média de 20% entre médicos experientes em situações semelhantes, segundo publicação no New England Journal of Medicine. Modelos de IA treinados para medicina como esse demonstram um potencial disruptivo: reduzir significativamente os custos com exames complementares ao mesmo tempo em que ampliam a precisão diagnóstica. Este é um avanço especialmente valioso em regiões com acesso limitado a especialistas, onde a carência de profissionais qualificados é um desafio crônico.
A aplicação da IA já apresenta resultados relevantes em áreas como radiologia, cardiologia e urologia, atingindo até 94% de precisão na identificação de patologias específicas. Em cirurgias de alta complexidade, algoritmos já atuam para minimizar riscos e aumentar a eficiência, reforçando o papel da tecnologia como apoio à decisão médica e não como substituto.
O mercado reflete esse movimento. Segundo projeção do GlobeNewswire, o setor de IA em saúde deve crescer de US$ 21,66 bilhões em 2025 para US$ 110,61 bilhões em 2030. Mais do que uma tendência, trata-se de um imperativo estratégico: 94% das organizações de saúde já veem a IA como essencial para suas operações, e 86% utilizam essas ferramentas extensivamente, de acordo com estudo da SS&C Blue Prism.
No Brasil, o cenário começa a avançar. A TIC Saúde 2024 mostra que 17% dos médicos já utilizam IA generativa, enquanto um levantamento da Anahp com a ABSS aponta que 62,5% dos hospitais privados pesquisados aplicam IA em suas rotinas. A adesão ainda é incipiente, mas a curva é positiva, impulsionada pela busca por eficiência e melhoria no atendimento.
Na prática, a IA especializada já tem transformado não apenas o diagnóstico clínico, mas toda a jornada do cuidado. Em projetos estratégicos, já foram implementadas soluções que otimizam a gestão hospitalar, integram assistentes inteligentes e personalizam tratamentos com base em análises genômicas, entregando ganhos concretos em tempo, precisão e experiência do paciente.
É essencial reforçar que a IA é uma aliada estratégica, não um substituto. Sua função é potencializar a atuação médica, liberando os profissionais de tarefas repetitivas para que possam se concentrar em análises clínicas mais complexas e em um cuidado mais próximo e humano. A colaboração entre a expertise humana e a capacidade analítica da IA é o caminho para um sistema de saúde mais robusto.
Mais do que adotar tecnologia, o setor de saúde brasileiro precisa avançar em mentalidade e cultura. Integrar a IA de forma estratégica é o caminho para reduzir desigualdades no acesso à saúde, otimizar recursos e oferecer um cuidado mais eficiente e empático em todas as regiões do país. A pergunta que precisa ser feita é: “como a inteligência artificial pode ampliar a capacidade de cuidado e transformar a experiência do paciente, garantindo um futuro mais equitativo e inovador para a saúde brasileira?”. É essa integração inteligente e humana que guiará o futuro da saúde no Brasil.
*Jefferson Sá é Diretor de Inovação da V8.Tech.
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SAÚDE BUSINESS
Verdade inconveniente: setor de saúde ainda venera o papel
ESG e a inconsciência coletiva.
Considerando o número nacional de internações em 2021, cerca de 19 milhões (SUS e Saúde Suplementar), o setor hospitalar nacional consome, apenas no eixo das internações, cerca de 1,34 bilhão de folhas de papel A4, a um custo aproximado de R$ 340 milhões (podendo ultrapassar 1,73 bilhão). Mesmo com todos os ativos computacionais em uso (desktops, notebooks, smartphones, impressoras, redes de interconectividade, sistemas e aplicações setoriais e/ou hospitalares, IA, etc.) a cadeia hospitalar ainda se vê obrigada a gerar, armazenar e distribuir quase “40 páginas diárias por cada paciente internado”.
Da ‘documentação de entrada’ do paciente (RG, Carteira de Trabalho, CPF, Cartão e guia do Convênio, Prescrições, Laudos, Avaliação pré-anestésica, termos de consentimento, etc.) à ‘documentação intrínseca do hospital’ (AIH, prontuário do paciente, anamnese, evolução diária, prescrições médicas, avaliação pré-anestésica, relatórios cirúrgicos, resumo de alta, dados de catering, etc.), o setor consome só nas internações cerca de 134 mil árvores ao ano, sem falar, é claro, de outro brutal volume de papel gerado pelo back-office de cada entidade, que aqui não está contabilizado.
Mais de 6 mil hospitais nacionais, com poucas exceções, gravitam na quintessência cultural do setor: se puder imprimir ou copiar, faça-o. Abarrote os andares, acumule os SAMEs, lote as gavetas, escaninhos, empanturre aquelas pastas do século XIX (pretas, enormes, que acomodam uma centena de páginas) e mapeie a localização para as necessidades mais bizarras (incêndios, roubo de prontuários, má-fé de funcionários, enxurradas, etc.). Sim, claro, o judiciário pode solicitar nas ações em curso, e como ele, em geral, também ama o papel, não adianta armazenar em arquivos digitais…
Dois modelos de IA generativa, bem municiados com informações de 2021 (múltiplas fontes, mas todas confiáveis), realizaram essa pesquisa em pouco mais de 3 horas (sem papel). Certamente que o volume de sulfite consumido em internações tem múltiplos motivos, dos mais insubstituíveis (regulações, legislação, compliance, etc.), passando pelos mais ultrapassados (insegurança dos dados digitais, base de informações não-confiáveis, questões de interoperabilidade, legado de registros perdidos, etc.) até chegar aos mais arriscados e discutíveis motivos (medo da inovação, zonas de conforto, baixa hierarquia em transformação digital, manutenção do Poder, etc.).
A questão ESG é relevante, mas não é única. A inconsciência coletiva é pior.
Mais da metade de todo papel que circula dentro das empresas de saúde não tem nenhuma utilidade, pelo contrário: tem custo alto, desperdiça tempo e gera uma enorme precariedade operacional. Um paciente que precisa realizar um exame de imagem, e se dirige a um dos dez mais importantes laboratórios de análises clínicas do país, gera mais de 8 folhas de papel, incluindo cópias, impressões de docs, questionários preenchidos à mão, ticket de senhas, laudos, etc. Metade desse montante é por força de regulação e segurança do paciente, o resto é de uma inutilidade atroz. Cada folha de papel consome em média 30 segundos de recursos humanos. Na entrada da unidade de coleta dos exames, existem 10 baias de atendimento, com seus respectivos atendentes. Atrás deles, três gigantescas máquinas copiadoras emitem, sem parar, cópias de tudo aquilo que os atendentes registram de cada paciente.
Na sala de espera, mais de 60 pacientes aguardam, em média, de 30 a 40 minutos para chegarem aos pés do atendente (ainda longe das salas de coleta ou ultrassonografia). Como toda essa operação é orquestrada, todos são avisados a chegar pelo menos 30 minutos antes da hora agendada. Os pacientes aguardam sentados ou em pé, sempre utilizando seus smartphones para distração, irritação ou para comunicar alguém que está tudo atrasado. Enquanto isso, milhares de folhas de papel são geradas incessantemente, a maioria sem nenhuma razão (por que o paciente precisa levar para casa uma cópia dos exames que ele mesmo solicitou?).
Todos os atendentes zelosos e solícitos sentados nas bancadas não estarão mais lá em menos de dois anos. Serão substituídos por “agentes-artificiais”, embarcados em modelos de IA. Todavia, é muito provável que as mesmas copiadoras continuem vomitando cópias, agora, solicitadas pelos Agentes. Isso só revela uma relação de “papel-dependência”, ou até de veneração entre o setor de saúde e o papel. São inseparáveis.
Apesar dos avanços nos Registros Eletrônicos de Saúde (RES), ou da crescente usabilidade da gestão digital de pacientes, a grande maioria dos hospitais e clínicas ainda dependem dos fluxos de trabalho em papel, como admissão de pacientes, gestão de consentimento, laudos clínicos, etc. A “carga papelocrática” do paciente na entrada da internação traz morosidade ao processo, preenchendo vários formulários em papel até chegar ao leito. As equipes clínico-administrativas ainda inserem manualmente muitos dados, aumentando não só o tempo de processamento quanto a possibilidade de erros. Papéis são extraviados, esquecidos, duplicados, triplicados, exigem o dobro de esforço na tomada de decisão. Sem falar que um paciente internado é obrigado a repetir seus dados várias vezes pela baixa integração dos sistemas ou pelas “camadas empilhadas de comando”, sem que ninguém saiba bem quem manda ou quem obedece. Na dúvida, crie mais um registro em papel, ou imprima, copie ou mesmo faça anotações auxiliares em todos os cantos do documento. Sistemas baseados em papel não garantem a continuidade assertiva dos cuidados, mas fornecem álibis, “provas” ou defesas em caso de desconfiança de que “a minha papelada é mais importante que a sua”.
A praga mais comum e antiga são os ‘formulários de consentimento’, em geral exigidos por forças advocatícias que protegem os hospitais de seus pacientes. Por outro lado, a legibilidade de um documento em papel é um oásis para o erro, confusão e repetição. Não importa quem escreve: pacientes, médicos, enfermagem, familiares, etc. É provável que um bom “investigador de escritos” seja sempre requisitado, aquele funcionário que se acostumou a decifrar letras e garranchos em qualquer papel de circulação. Os Registros Clínicos em papel ainda se expandem por milhares de hospitais e clínicas do país. Mesmo que digital, a cópia em papel sempre parece necessária ao fluxo hospitalar. Trata-se de uma inconsciência tóxica e persistente. Um modo de ver as tarefas sob a ótica copista.
Dados da pesquisa TIC Saúde 2024, mostram que mesmo com registros eletrônicos em 92% dos estabelecimentos no Brasil, cerca de 55% das informações dos pacientes ainda são mantidas simultaneamente em papel e meio eletrônico, sendo que 6% só em papel (apenas 37% dos estabelecimentos registram as informações nos prontuários dos pacientes unicamente em formato digital).
Mas não é só no Brasil, o mundo inteiro ainda tem uma formidável admiração pela papelaria informacional. Segundo relatório “2024 CAQH Index Report”, nos EUA, dos chamados “clinical attachments” (laudos, prontuários anexados, autorizações, etc.) apenas 32% são trocados de forma eletrônica; sendo que 68% ainda são transmitidos via telefone, correio, fax ou e-mail (não há uma padronização federal). Além disso, na ‘autorização prévia’, o telefone é o método mais comum e só 23% dos médicos dizem que seu EHR fornece autorização eletrônica para prescrições (o resto recorre a fluxos manuais, segundo a American Medical Association em 2024).
O Reino Unido e seu formidável sistema público de saúde (NHS), ainda luta arduamente contra a papelaria clínico-assistencial. Uma das prioridades do atual governo para o NHS England é incentivar a força de trabalho a reduzir a enorme circulação de papel que ainda navega pelo oceano de suas instituições. Treinar, treinar e treinar é a forma como o NHS pretende reverter esse quadro. O sistema britânico ainda “luta nas trincheiras do paperless”: em muitas áreas os registros médicos continuam em papel, mesmo com “90% dos fundos fiduciários do NHS (e fundos fiduciários de outras entidades) determinarem que até dezembro de 2023 todo e qualquer registro médico deveria ser só digital (95% até março de 2025)”. A sanha de um século de papel-hospitalar talvez precise de outro século para desaparecer.
Dados indicam que cartas atrasadas enviadas pelo correio são responsáveis por 25% das consultas hospitalares perdidas no Reino Unido, incluindo consultas críticas, planos de tratamento e resultados de exames (a maioria depende ainda de selos postais). Listas de espera do NHS, que chegaram a 9,7 milhões de pessoas em 2024, ainda dependem de atrasos de notificações pelo correio (fonte: Escritório de Estatísticas Nacionais). Na rica Alemanha, mesmo após a obrigatoriedade em 2024 do E-Rezept (prescrição eletrônica), de 10 a 20% das receitas médicas ainda continuam sendo impressas em papel. No Canadá, perto de 29% dos médicos compartilham resumos clínicos de forma eletrônica, o restante depende de meios jurássicos, como fax.
Na Índia, a intervenção governamental passou a ser decisiva. Somente em 2019 foi inaugurado um hospital totalmente sem-papel (Instituto Sardar Vallabhbhai Patel de Pesquisa e Ciências Médicas), cujos médicos agora utilizam tablets em vez de pranchetas e esferográficas. No último mês de julho de 2025, um dos maiores hospitais acadêmicos do país, localizado em Belagavi (cerca de 600 mil habitantes), o KLES Dr. Prabhakar Kore Hospital (2000 leitos), anunciou dados extraordinários: o hospital utiliza cerca de 12,5 milhões de páginas de papel anualmente, o que significa mais de 1500 árvores sintetizadas todos os anos em folhas sulfite. Um colossal projeto foi iniciado para reduzir esse fardo, mas o curioso é que o hospital é um dos mais digitalizados da Índia, mostrando que a transformação digital por si só não garante o desuso do papel.
No final do século passado, a assistência residencial anunciou o “home care hospital”. A desospitalização, no início dos anos 2010, instituiu o “hospital sem tijolos” e a Covid-19 forjou o “hospital sem paredes”. Mas, quase meio século depois do início da digitalização hospitalar, o “hospital sem papel” (paperless) insiste em resistir bravamente à veiculação dos meios digitais, mesmo com cada indivíduo tendo seu celular como dispositivo cativo. Não se trata de eliminar o papel por “fadiga existencial”, ou apenas pela conveniência com práticas de sustentabilidade ambiental (ESG). Nada disso. Em muitos casos, a folha solta, física e escriturada a mão tem o seu lugar. O que atrapalha é o “vício papelocrático”, onde se imprime e se fotocopia por metodologia, por regramento infundado, por insegurança ao meio digital, ou simplesmente devido ao fato de: “por via das dúvidas, vamos deixar uma cópia”.
Um exemplo são as reuniões gerenciais/executivas, em que a pauta e os documentos (clínicos ou administrativos) a serem discutidos são previamente enviados por meio digital. Todavia, na data do encontro, todos levam uma cópia de tudo para “facilitar o debate”, isso quando os próprios protagonistas do encontro não deixam as cópias na mesa de reunião (“precisamos ganhar tempo”). Essa cólera burocrática inunda os ambientes assistenciais, que passam a ser reféns da cópia em papel.
A responsabilidade transcende a cadeia de saúde: o paciente é tanto ou mais culpado (ou refém) da papelada. No Brasil, estima-se que o consumo de papel por habitante seja de 50kg ao ano (fonte: PWC), o equivalente a quase uma árvore e meia de eucalipto (ou 10 mil-folhas de sulfite tamanho A4). As embalagens são hors-concours (mais de 60% de tudo o que é consumido), seguida dos materiais de suporte laboral (cadernos, folhas A4, blocos de notas, agendas, registros e uma infinidade de itens), ou seja, todo e qualquer material escriturário, que engole 25% de toda a celulose produzida. A consultoria Gartner também dá seu pitaco na algazarra papelatória: “em todo o mundo, aproximadamente 3% do lucro das empresas é destinado a papel, impressão, armazenamento e manutenção de documentos”. Além disso, ela especifica: 50% dos desperdícios das empresas são em papel (de acordo com Water Footprint Network, uma única folha de papel consome em sua produção cerca de 10 litros de água).
Você pode duvidar, mas nenhuma organização de saúde no Brasil, ou nos principais países do mundo, ainda prescinde do carimbo, que nasceupara validar o papel. Por exemplo:nosso Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) estabeleceu em maio de 2017 aResolução nº 545/2017, que define as normas para o uso do carimbo pelos profissionais de Enfermagem. Muitos outros documentos circulantes nos sistemas de saúde são dependentes de carimbo, como as Operadoras de Saúde, que exigem “carimbo do médico” em pedidos e relatórios.
O carimbo é mais antigo do que as múmias egípcias, mas seu uso nas instâncias de saúde ainda é febril. Na China, por exemplo, todos os “documentos de prova médica” exigem carimbo e selo oficial da instituição, sendo uma parte obrigatória do processo (além da assinatura do médico). O órgão máximo chinês na saúde (NHC – National Health Commission of the People’s Republic of China) determinou em janeiro de 2024 que cada documento tenha “carimbo” e que haja ‘gestão específica’ do uso deles (seja lá o que isso signifique). Na Índia, o Guia Oficial (2024) exige assinatura e carimbo do médico ou do hospital nos encaminhamentos/autorizações (CAPF). Na Indonésia, o mesmo: regulamento federal (MoH 2024) requer carimbo da unidade de saúde em qualquer cópia de prescrição e prontuário médico (mesmo eletrônico). Mesmo na Coreia do Sul, esfinge da transformação digital, há exigênciade carimbo oficial do hospital em resultados de exames desde 2023. Lembre-se: onde há carimbos, há milhões de toneladas de papel. Um não existe sem o outro.
Em 2006, Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, lançou o documentário “An Inconvenient Truth” (Uma Verdade Inconveniente), um filme que alertava sobre a crise do aquecimento global e os impactos das atividades humanas no planeta. A obra desmistificava o tema, apresentando dados científicos para mostrar a urgência de ações individuais e coletivas para salvar o mundo. Vinte anos depois do documentário, as emissões globais de CO₂ saltaram de 29 giga-toneladas/ano para 37,8 (2024), um recorde histórico. 2024 foi também o ano mais quente desde 1850, com +1,29 °C acima da média do século XX. Só nos EUA, o complexo de saúde gera quase 1 milhão de toneladas de papel/ano, respondendo por quase “um quarto de todo o lixo hospitalar”.
No fim dos anos 1990, ainda mergulhávamos ‘rolos de filme em banhos químicos para revelar milhões de fotografias em papel glossy’ (brilhante e caríssimo: uma única folha custava o mesmo que 23 folhas de sulfite comum). Duas décadas depois, captamos bilhões de imagens por dia, cada uma já parida em bits, sem exigir uma única grama de celulose. O digital alterou a cultura e o comportamento humano na captação de imagens, além de reinventar a memória coletiva. Nos hospitais, entretanto, a impressora laser ainda dita as regras do plantão (receitas, etiquetas, laudos, prontuários, autorizações, etc.) e o toner dita o ritmo. A verdade inconveniente não é o uso do papel na Saúde, mas o desuso da inteligência em estratificar a sua utilidade. Ter consciência é frequentemente uma condição temporária. Não desistir dela é o que nos torna conscienciosos, aqueles que são diligentes, atentos e que percebem, de súbito, a angústia do inconsciente coletivo.
Guilherme S. Hummel
Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)
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TV ANHANGUERA
Paciente fica ferido após incêndio durante ressonância
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FUTURO DA SAÚDE
A nova experiência do paciente com a digitalização da saúde
Na era digital, a jornada do paciente se torna híbrida. Criar espaços e estratégias para ouvi-lo é fundamental para que tal experiência seja aprimorada
Dentre as várias transformações em andamento da saúde, uma delas envolve a experiência do paciente. Com mais tecnologia e dados à disposição, a jornada do paciente virou foco não apenas do ponto de vista do cuidado, mas desde o primeiro contato com o serviço de saúde até o pós-atendimento. Ao organizar a navegação e zelar por todos os pontos de contato, a própria qualidade dos serviços aumenta - assim como se amplia o engajamento dos pacientes.
Esse foi o tema do novo episódio do Pensando no Futuro, que ouviu Claudia Garcia, diretora do escritório de excelência do Einstein, e Flávia Camargo, diretora de experiência em saúde da organização. As especialistas abordaram estratégias para equilibrar uma boa experiência do paciente e a excelência no cuidado prestado, formas de garantir a participação ativa do paciente na construção dessa experiência e a relevância de ter uma equipe integrada e focada na excelência da jornada.
Essa nova fase anda lado a lado com a evolução da tecnologia. Afinal, hoje o paciente está a alguns cliques de distância de aplicativos que centralizam agendamentos, exames e facilitam o contato com o time de saúde. Mesmo a jornada presencial em um hospital de ponta já está digitalizada, através de totens para check-in antecipado e triagem, ferramentas avaliativas pós atendimento e tantos outros recursos.
Mais do que uma simples transformação do analógico para o digital, o momento é de uma transformação de comportamento, reflete Camargo. A maneira como as pessoas se relacionam com a própria saúde e com os serviços de saúde não é mais a mesma de décadas atrás. E entender essa nova dinâmica é um ponto central para desenhar uma jornada de cuidado que seja satisfatória para o paciente.
"Cada um de nós cuida da nossa saúde 365 dias no ano. Não é quando a pessoa vai ao hospital que ela está cuidando da sua saúde. Ali é um momento de cuidado", pondera a diretora de Experiência em Saúde. "Nosso desafio, como time de experiência, é entender comportamento, entender pessoas, para então escolher as melhores tecnologias."
Essa movimentação do paciente e do seu entorno tecnológico demanda também uma mudança interna das instituições. Mas, segundo Garcia, é uma realidade que veio para ficar: "A gente vem se moldando, aprendendo, e descobrindo como utilizar essas tecnologias para a melhoria da saúde de todos."
Novo paciente, novas demandas
O novo paciente apresenta um perfil mais inovador e disruptivo do que se tinha até então. Ele é mais bem informado, ativo no próprio cuidado, e se apoia em tecnologias de suporte como os wearables e ferramentas de inteligência artificial. O paciente do Século XXI busca agilidade, compartilhamento das decisões sobre a sua saúde, respeito e uma relação mais harmoniosa com o seu time de cuidados.
Diante desse cenário, tão importante quanto estimular o letramento desse paciente, é também oferecer suporte para que o profissional de saúde esteja preparado para atendê-lo, como explica Camargo: "Quando a gente modela alguma solução, a gente também tenta entender qual é o impacto para a prática do profissional."
Ela cita como exemplo o fato de que, graças à agilidade do digital, é comum que o paciente tenha acesso ao resultado dos exames antes mesmo do médico, o que pode provocar uma situação mais estressante do que benéfica. "Temos que modelar isso de uma forma em que a jornada seja fluida, transparente, mas também não gere um desconforto no processo do atendimento."
Apesar de a nova geração ter nascido inserida nesse contexto digital, é preciso olhar também para os profissionais que se formaram em um mundo ainda analógico e encontrar estratégias para trazê-los para essa nova realidade, defende Garcia. Por isso, em sua visão, um dos principais desafios atuais da gestão é construir um sistema mais tecnológico ao mesmo tempo em que remodela a capacitação dos profissionais, de maneira simultânea.
"Essas tecnologias estão entrando em todas as dimensões, não só assistencial, mas também para trazer os médicos para esse universo de formas e linguagens de maneira que eles também se sintam confortáveis e não olhem para a tecnologia como algo ameaçador, mas como uma aliada", aponta Garcia.
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Judicialização da saúde segue em alta e governo busca soluções
Mesmo após decisão do STF, país já soma mais de 380 mil novas ações em 2025. Somente em julho, mais de 60 mil processos foram ajuizados
A judicialização da saúde responde em média por 33% dos gastos em medicamentos no país, conforme pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2024, foram gastos cerca de R$3,2 bilhões no cumprimento de decisões judiciais pelo Ministério da Saúde. Nesse sentido, representantes do executivo e do judiciário defendem iniciativas para conter a judicialização excessiva, bem como estratégias de aproximação entre os processos de registro, precificação e incorporação de medicamentos.
Com o intuito de regulamentar o tema e diminuir os impactos, em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu critérios mais rigorosos para a concessão de medicamentos por via judicial. Entre eles a obrigatoriedade de incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) e apresentação de evidências científicas. No entanto, após quase um ano da decisão, a medida ainda não gerou efeitos significativos para a redução da judicialização.
Segundo dados do Painel de Estatísticas Processuais de Direito à Saúde do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até julho de 2025 houve o ingresso de mais de 383 mil novas ações. Destas, mais de 60 mil foram ajuizadas somente em julho deste ano. Em comparação ao primeiro semestre de 2024 a quantidade de novos processos diminuiu 5,5% para casos que envolvam a saúde pública. Contudo, a saúde suplementar registrou um aumento de quase 7% nesse período.
Um dos principais motivos apontados pelo Executivo para o constante aumento de processos judiciais na saúde é a litigância abusiva. A situação ocorre quando o direito de ação é usado de forma distorcida ou desleal, com o objetivo de obter vantagens indevidas, tumultuar o Judiciário ou fraudar o sistema de justiça. Durante evento realizado em Brasília na terça-feira, 9, representantes do governo apontaram que muitas vezes a judicialização tem se tornado uma ferramenta comercial de venda alternativa pela indústria farmacêutica.
O secretário executivo do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, reconhece que parte do problema se deve a problemas estruturais do sistema de saúde e o direito da sociedade de acionar a justiça. No entanto, avalia que o cenário atual se tornou excessivo e abusivo. "Vemos isso como uma estratégia comercial da indústria para introduzir medicamentos de altíssimo custo que são desenvolvidos em uma velocidade exponencial. Precisamos proteger o SUS dessa litigância abusiva que afeta o orçamento público e a nossa capacidade de entregas", avalia o secretário.
Desse modo, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) têm destinado esforços para combater a prática. Em março deste ano o STJ definiu que os juízes podem pedir informações complementares para comprovar a legitimidade da ação. Além disso, uma resolução do CNJ de outubro de 2024 também estabeleceu medidas para a identificação, o tratamento e a prevenção da litigância abusiva no Judiciário.
"Se tem uma área que a gente não pode permitir a litigância abusiva é a saúde. Estamos falando de um bem fundamental e que não pode ser objeto de fraude de forma nenhuma. Estamos colocando todos os nossos centros de inteligência do país para identificar esse uso abusivo. O sistema de justiça não pode deixar espaço para ser utilizado indevidamente", afirmou a conselheira do CNJ, Daiane de Lira.
Integração do registro, precificação e incorporação
Outro mecanismo para combater a judicialização na saúde defendido pelos especialistas no evento é a aproximação das etapas do ciclo de avaliação de medicamentos, como a integração dos processos de registro e precificação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a incorporação pela Conitec. Uma opção considerada pelos representantes do governo como positiva é a revisão das regras de precificação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
A proposta, que passou por consulta pública e está em fase de análise das contribuições, tem como objetivo trazer maior transparência e atualizar os ritos procedimentais que as empresas devem adotar junto ao órgão. Para diminuir o intervalo da avaliação de medicamentos, a normativa traz como novidade a obrigatoriedade da apresentação do pedido de preços 60 dias após o registro na Anvisa.
"A necessidade de encurtar os prazos foi uma das questões debatidas e trazidas nos acordos decorrentes da decisão do STF. A gente precisa ter o registro mais próximo da precificação e mais próximo do processo de incorporação para evitar essa via alternativa pela justiça de fornecimento de medicamentos", explica a diretora da Anvisa, Daniela Marreco.
Outras alternativas consideradas são o aumento na transparência dos dados para o fomento de acordos de compartilhamento de risco, bem como o fortalecimento da capacidade de negociação do setor público. "Precisamos aumentar a ambição da indústria de negociar com o poder público. A judicialização é um cenário que dificulta e traz um custo muito maior de aquisição de quando as compras são feitas de forma regular", aponta a secretária adjunta do Ministério da Fazenda, Ana Maria Melo Netto.
Plataforma Nacional de Medicamentos
A decisão do STF também exige que seja criada uma plataforma nacional para centralizar demandas envolvendo o acesso e aquisição de medicamentos pelo SUS. A criação do sistema é considerada como crucial para facilitar a análise, a resolução administrativa dos pedidos e o controle judicial. Ainda em fase de desenvolvimento, a ferramenta será gerida em governança colaborativa pelo CNJ, Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais de saúde, sociedade civil organizada, Ministério Público, Defensoria Pública e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
De acordo com o juiz auxiliar do STF, Diego Viegas Veras, a plataforma será um BI de dados com diferentes perfis de acesso e deve respeitar os limites da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Conforme Veras, o sistema é importante para permitir uma visão abrangente das políticas públicas, além de tornar a decisão judicial mais próxima da realidade. "Agora vamos poder saber quantos medicamentos estão sendo pedidos e qual o valor realmente está sendo pago. Por força de decisão judicial alguns medicamentos estão sendo comprados por preço dez vezes mais caro do que em uma compra regular. Esse é um gargalo que podemos enfrentar", diz o magistrado.
A ferramenta estará integrada e interoperável com os sistemas públicos de saúde como a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), atas de registro de preços, estoques de medicamentos, entre outros. Também contará com dados da análise de incorporação da Conitec, Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), registros da Anvisa e processo de precificação da CMED. O sistema também tem sido articulado com o Conselho Federal de Medicina (CFM) para poder ser acessado por profissionais de saúde e conter informações dos médicos prescritores.
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PORTAL CÂMARA DOS DEPUTADOS
Ministro da Saúde detalha aumento das despesas e pede mais recursos para a Pasta
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, manifestou aos parlamentares da Comissão Mista de Orçamento a sua preocupação com algumas despesas que cresceram e que não estão no Orçamento deste ano. Ele foi à comissão para atender uma regra que estabelece prestação de contas quadrimestral ao colegiado (Lei Complementar 141/12).
O ministro citou o custo do programa Farmácia Popular, que passou de R$ 2,2 bilhões em 2022 para R$ 6 bilhões neste ano. Ele explicou que houve um aumento da lista de medicamentos gratuitos e a distribuição de fraldas geriátricas. Segundo Padilha, são 60 milhões de fraldas por mês.
Também o programa Agora Tem Especialistas, criado recentemente, não tem todos os recursos necessários. O ministro pediu a colaboração dos parlamentares com o remanejamento de emendas orçamentárias de bancadas estaduais e de comissão para ações como a contratação de carretas e de mutirões de procedimentos especializados; além da aquisição de veículos de transporte, como ambulâncias.
"Às vezes, um recurso de emenda de comissão já está na ata para colocar R$ 1 milhão na cidade. Em vez de botar R$ 1 milhão no fundo municipal, no fundo estadual, você transformar isso numa carreta que fique lá um mês, dá até um protagonismo maior para o parlamentar, para a ação da comissão", disse.
Renato Araújo/Câmara dos Deputados Mauro Benevides Filho sugeriu aumento das emendas obrigatórias para saúde, de 50% para 65%
Decisões judiciais
A terceira fonte de pressão de gastos, segundo Alexandre Padilha, é o cumprimento de decisões judiciais para a compra de medicamentos e realização de procedimentos de média e alta complexidade. O total passou de R$ 1,5 bilhão em 2022 para R$ 2,5 bilhões neste ano.
Apesar do aumento das demandas, o ministro disse que houve um crescimento de 75% na aplicação mínima em saúde entre 2022 e 2025. Para 2026, são R$ 245,5 bilhões. Ainda assim, Padilha afirmou que o país aplica 4,5% do PIB em saúde enquanto países desenvolvidos da OCDE aplicam 7,4%.
Emendas obrigatórias
O deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) disse que vai propor que a destinação obrigatória das emendas orçamentárias parlamentares para a saúde passe de 50% para 65%. "Apesar da crítica que isso é muito centralizado e a emenda tenta dar essa descentralização, mas eu acho que o parlamentar ainda consegue visualizar melhor esses lugares onde ainda falta uma intervenção mais precisa", afirmou.
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Assessoria de Comunicação