CLIPPING AHPACEG 12/08/25
ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Unimed Federação Centro Brasileira avança em projetos estratégicos e reforça importância da adesão das federadas
https://www.foconacional.com.br/2025/08/unimed-federacao-centro-brasileira.html
Unimed Federação Centro Brasileira debate alterações na Constituição Unimed
https://www.issoegoias.com.br/2025/08/unimed-federacao-centro-brasileira_11.html
Cinco pacientes denunciam neurocirurgião por sequelas permanentes no Cremego
Vacina contra câncer de pâncreas e intestino mostra resultados promissores
Quem será o paciente de 2040?
https://www.saudebusiness.com/colunistas/quem-sera-o-paciente-de-2040/
O futuro da perícia e os limites da inteligência artificial
https://medicinasa.com.br/futuro-pericia-ia/
FOCO NACIONAL
Unimed Federação Centro Brasileira avança em projetos estratégicos e reforça importância da adesão das federadas
Na sexta-feira, 8 de agosto, o Conselho Federativo da Unimed Federação Centro Brasileira reuniu-se com a presença de diretores da Federação e das Unimeds federadas. Em pauta, o status atual de projetos desenvolvidos, novas ações e o fortalecimento de serviços prestados às Singulares.
Um dos destaques da pauta foi o Projeto AdviceHealth, que já demonstra resultados expressivos. Apenas com a negociação junto a um fornecedor de OPME, o projeto proporcionou às federadas participantes uma economia estimada de R$ 800 mil. A iniciativa busca ampliar o leque de fornecedores com melhor custo-benefício, garantindo qualidade e economia às cooperativas.
"Com mais de 40 empresas em negociação, a tendência é de expansão da economia para todas as federadas", enfatizou o diretor de Integração Cooperativista e Desenvolvimento Institucional da Federação, Éder Cassio Rocha Ribeiro.
Sul Goiano
Outro ponto em pauta foi a reorganização operacional das Unimeds do Sul Goiano, apresentada pelo presidente da Federação, Danúbio Antonio de Oliveira. A medida prevê a integração de cinco cooperativas: Unimed Vale do Corumbá (Ipameri), Unimed Catalão, Unimed Caldas Novas, Unimed Morrinhos e Unimed Regional Sul Goiás (Itumbiara).
Vista como um caminho para o fortalecimento institucional das Singulares, a proposta recebeu apoio unânime do Conselho Federativo, com a aprovação do subsídio financeiro da Federação para o estudo técnico da reorganização.
Projetos
A Federação também apresentou novos projetos e o status de iniciativas em andamento, como o projeto voltado às terapias especiais para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que visa melhorar a qualidade da assistência com ações em gestão clínica, capacitação e articulação com parceiros estratégicos.
O diretor-superintendente Martúlio Nunes Gomes, destacou que espera já apresentar evoluções na próxima reunião do Conselho.
Outros temas relevantes em pauta foram o Projeto CSC Controladoria, que promove uma análise aprofundada da saúde financeira das cooperativas; o Pentest Federativo, um checkup preventivo para testar a segurança digital das federadas; e a adesão ao Sistema Eletrônico de Informações (SEI), que visa desburocratizar a gestão de documentos, aperfeiçoando a segurança da informação nas Unimeds.
Também foram apresentados os pilares auditados pelo PNGPPD/25 (Programa Nacional de Governança em Proteção e Privacidade de Dados) da Unimed do Brasil.
Adesão
O presidente Danúbio Antonio de Oliveira destacou a relevância da adesão de todas as Unimeds aos projetos e serviços oferecidos. “Estamos fortalecendo o sistema de forma coletiva. A participação ativa de cada federada é essencial para evoluirmos juntos, com mais eficiência, sustentabilidade e qualidade na assistência à saúde.”
A reunião ainda celebrou conquistas importantes: a Unimed Goiânia e Unimed Cerrado foram premiadas no Prêmio de Comunicação 2025 da Unimed do Brasil, e a Unimed Palmas teve reconhecimento nacional com o prêmio de Profissional Protagonista em Experiência do Cliente.
Logo após o encontro, foi realiza uma Assembleia Geral Extraordinária para votar a criação do Fundo para Medicamentos de Alto Custo, que foi aprovado por unanimidade, reforçando o compromisso solidário entre as cooperativas.
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ISSO É GOIÁS
Unimed Federação Centro Brasileira debate alterações na Constituição Unimed
Diretorias da Federação e das Unimeds federadas se reuniram para alinhar pontos que serão levados à votação
A reforma da Constituição Unimed caminha para as últimas etapas. Por isso, a Unimed Federação Centro Brasileira convidou as diretorias das Unimeds federadas para uma reunião, no dia 8 de agosto, a fim de debater os pontos que serão votados em convenção no mês de outubro.
O presidente da Federação, Danúbio Antonio de Oliveira, lembrou que a discussão é importante para que as sugestões das operadoras sejam mais assertivas. “Há alguns anos, não alteramos a Constituição e sabemos que os fatores do mercado são dinâmicos. Surgem oportunidades e dificuldades que podem impactar o Sistema. Também sabemos que a Unimed, no aspecto judicial, é um grupo econômico só. Então, se uma Unimed tem um problema, isso acaba respingando em todas as outras”, alertou ele, que também integra a diretoria da Unimed do Brasil.
“Estamos falando de quase uma década da última atualização. Uma década, no mundo atual, engloba muitas mudanças”, acrescentou Daniel Faria, advogado e consultor jurídico da Federação. “Esse texto precisa de mudanças em razão das normas regulatórias e judiciais, além de questões que apareceram, mas não estavam na Constituição”.
Governança corporativa, inteligência artificial e atualizações da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) são exemplos do que precisa ser abordado. Além disso, outros pontos de destaque são a padronização das sociedades cooperativas que utilizam a marca Unimed, assim como o exercício simultâneo de cargos.
“Já temos a proposta final do texto, elaborado colaborativamente com todas as unidades do Sistema. Em seguida, vamos para a Convenção e para a Plenária Constituinte, com a votação de aprovação. Temos que mostrar como será nosso posicionamento regional”, definiu Daniel.
“Precisamos reformar uma grande parte dessa legislação porque estamos colhendo os frutos de um texto ultrapassado. Temos que votar em bloco o que nos interessa e a Federação deve ser empoderada (na votação), porque sabemos qual é a nossa realidade e estamos sempre discutindo sobre ela”, ressaltou Renato Azevedo, presidente da Unimed Araguaína.
“Agora é o momento fundamental para fazermos nossas colocações, porque temos promovido movimentos regionais para que, unidos, possamos ter força para mudar a Constituição”, resumiu Walter Cherubim Bueno, vice-presidente da Unimed Morrinhos.
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TV ANHANGUERA
Cinco pacientes denunciam neurocirurgião por sequelas permanentes no Cremego
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JORNAL OPÇÃO
Vacina contra câncer de pâncreas e intestino mostra resultados promissores
Imunizante, chamado ELI-002 2P, foi capaz de reduzir a recorrência da doença e prolongar a sobrevida de pacientes
Uma vacina experimental contra o câncer de pâncreas e colorretal apresentou resultados promissores em um estudo clínico de fase 1, publicado nesta segunda-feira, 11, na revista Nature Medicine.
O imunizante, chamado ELI-002 2P, foi capaz de reduzir a recorrência da doença e prolongar a sobrevida de pacientes que já haviam passado por cirurgia e quimioterapia, mas ainda apresentavam sinais residuais de tumor no sangue.
No ensaio, 25 pacientes — 20 com câncer de pâncreas e 5 com câncer colorretal — receberam a vacina após o tratamento convencional. Segundo os pesquisadores, 68% desenvolveram forte resposta imunológica contra a mutação KRAS, associada ao crescimento de tumores agressivos.
Aqueles com respostas mais robustas das células T viveram mais tempo e permaneceram livres da doença por períodos maiores. A ELI-002 2P é uma imunoterapia inovadora projetada para atingir diretamente os linfonodos, centros estratégicos de ativação do sistema imunológico.
Ela transporta peptídeos mutantes do gene KRAS até essas estruturas, treinando o corpo a reconhecer e destruir células cancerígenas com essa mutação.
Embora seja voltada para mutações específicas, a vacina surpreendeu ao gerar, em alguns pacientes, respostas contra outras variações do KRAS não incluídas em sua formulação, sugerindo um potencial efeito ampliado.
Resultados do estudo
Foram 20 pacientes com câncer de pâncreas e 5 com câncer colorretal. O tempo médio de acompanhamento é de 20 meses. No câncer de pâncreas, a sobrevida média total foi de 29 meses, enquanto o tempo livre de recorrência foi de mais de 15 meses.
Esses resultados superam os números históricos para pacientes submetidos apenas ao tratamento convencional. O câncer de pâncreas está entre os mais letais, com alta taxa de mortalidade e recorrência mesmo após cirurgia e quimioterapia.
A nova vacina pode representar um avanço importante no controle de longo prazo da doença. “Essa vacina pode ajudar a treinar o sistema imune a reconhecer mutações específicas do tumor e prevenir recaídas”, afirma o oncologista Zev Wainberg, da Universidade da Califórnia, líder do estudo.
Atualmente, a ELI-002 2P está em fase 2 de testes clínicos, com maior número de participantes e protocolos mais rigorosos para confirmar os benefícios observados.
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SAÚDE BUSINESS
Quem será o paciente de 2040?
Antecipando o devir clínico-assistencial.
Se você pudesse destilar 600 milhões de anos da evolução animal em uma única expressão, ela seria: “prever ou desaparecer”. Foi no período Ediacarano, quando o mar começou a encher-se de bocas famintas, que apareceram os primeiros neurônios, pequenas células com propriedades elétricas cuja única função é avisar ao músculo: “mexa-se”. A lógica era brutal: quem conseguia deslocar o próprio corpo antes de o predador abocanhar, ganhava mais um dia de vida. Sem movimento não havia escolha, e sem escolha não havia amanhã: por isso, lesmas microscópicas ganharam circuitos nervosos, enquanto placozoários ficaram para trás. As ascídias (seres marinhos em forma de saco) expõem essa regra com ironia darwiniana: na fase juvenil, nadam livres pelo oceano, ostentando um minúsculo cérebro. Quando encontram um rochedo, colam-se nele, dissolvem o encéfalo e vivem o resto da vida como um saco filtrador. Movimento eliminado, cérebro reciclado, caso encerrado.
Conclusão: “o sistema nervoso existe para colocar a matéria orgânica em movimento e, ao fazer isso, empurra o organismo para dentro do futuro”. Em palavras simples:o sistema nervoso existe para aqueles que se movimentam, e o cérebro existe para aqueles que precisam antecipar o futuro. No ecossistema de Saúde, isso é uma “súmula secular”: ou você se movimenta e acompanha o futuro, ou vira craca, crustáceo marinho que se aferra a um rochedo e definha até se decompor.
Mover-se é apenas metade da história. Cada passo altera o ambiente e cria riscos inéditos. Para não saltar rumo ao abismo, os mesmos circuitos neuronais (neurais) que comandam os músculos passaram a simular o cenário adiante, como quem aperta preview num editor de vídeo. Nasceu daí a verdadeira vocação do cérebro: “uma máquina virtuosa que ensaia o futuro antes que ele aconteça”. Trata-se de umafábrica interna e precisa com ingredientes poderosos: (1) Memória: registro do passado, porque o melhor palpite sobre o que virá é aquilo que já veio; (2) Mapa Simbólico: vocabulário neural que aponta coisas fora da cabeça, inclusive para fora do próprio corpo. Ou seja, o mapa que germina a consciência: tornar-se objeto do próprio modelo; e o (3) Algoritmo de Controle: compara a previsão e o fato em tempo real, corrigindo o erro antes que ele nos custe a sobrevivência. A cada segundo estamos pensando em qual será o segundo seguinte.
Como explica o neurobiólogo Rafael Yuste, professor na Universidade de Columbia (Nova York) e diretor do projeto BRAIN, em sua excelente obra “El cerebro, el teatro del mundo” (2024): “se isso soa familiar a você, não é coincidência. A natureza programou algo fantástico: visões, sons, dor e cheiro entram pela periferia, colidem com o que o cérebro esperava e, se não batem, disparam um sinal de ajuste. Feedback não é luxo; é a essência da vida animal”. Assim, quando tudo converge e a memória está afiada, o organismo realiza seu truque magistral: escolhe, entre os infinitos cenários simulados, aquele que maximiza a chance de procriar e “não virar carcaça”. Cada contração muscular é um voto num futuro desejado.
“É por isso que a proa do avião, a cabeça de um tubarão e o olhar do Homo sapiens apontam sempre para frente. O encéfalo não foi projetado para contemplar o presente; ele é um motor de antecipação e previsão, encarnado em plasma e osso. Pensamento, emoção, arte ou ciência são derivações elegantes desse princípio primitivo: prever para sobreviver”, explica Yuste. Assim, da faísca elétrica que percorre a água-viva ao cálculo de um matemático, corre a mesma corrente metafísica: vivemos suspensos entre o que já foi e o que ainda não é, movidos pelo imperativo biológico de fabricar futuros possíveis antes que o mundo nos imponha algum outro. A neurobiologia inteira cabe nesse teorema de uma linha: “o cérebro é o órgão que transformou o tempo em estratégia, existindo apenas para projetar o futuro e não sermos abatidos por ele”.
Nesse sentido, nada assusta mais do que a velocidade das transformações na Saúde, um setor que geralmente não tem tempo e muito menos estratégia. Por tudo isso, “aviso aos navegantes”: resta pouco menos de cinco voltas do calendário (nada além de cinco anos) para que hospitais, operadoras, varejo e manufatura de fármacos, bigtechs, healthtechs, academia médica e o Estado pivotem rumo ao “Paciente-2040”. Quem não redesenhar e planejar o ‘dna-assistencial’ desse “alien” em incubação será expelido da cadeia de saúde antes mesmo de ouvir o som das rachaduras em suas fundações.
O novo usuário dos sistemas de saúde está sendo parido nas bordas do tempo com enorme velocidade. Chegará híbrido e impaciente aos portais do atendimento, como um autóctone, um antroposoma digital (estado em que biologia, cognição e sociabilidade formam um ecossistema mediado por IA), hiperconectado, aferido por sensores em tempo real, aumentado por IAs que decifram e avaliam seus biomarcadores a cada segundo, tropeçando por entre legiões de desempregados “desautomatizados”, e, principalmente, assustado, mais velho, mais doente e mais solitário.
Em 2040 (um pouco mais cedo ou mais tarde), esse paciente exigirá consultas on-demand (24×7), contratos inteligentes em blockchain, cocriação de planos terapêuticos, transparência algorítmica para riscos e benefícios, interoperabilidade-agêntica, etc. Será um consumidor embalado por experiências cotidianas e habituais com as IAs. Ou os líderes das Cadeias de Saúde aprendem, agora, a destrinchar e conhecer como será esse paciente-singularizado, construindo novas fundações que suportem esse, como diria Nietzsche, Übermensch (“além-do-homem”), ou terão vaga demarcada no cemitério dos CNPJs. Esse é o desafio deste paper: arremessar o leitor para o devir, mostrando algumas evidências que já nos permitem estudar quem será o Paciente-2040, principalmente considerando as tecnologias que já despontam e moldarão o seu futuro. Não se trata de futurologia ou qualquer excursionismo oportunista dirigido por buzwords. É tão somente uma oficina projetiva, um exercício ensaístico de preparação para o que vem pela frente. Afinal, essa é a mais relevante tarefa de nosso córtex cerebral: antecipar os movimentos futuros.
Todos os sistemas de saúde (notadamente os públicos) se encontram hoje à beira de um abismo existencial. As mudanças demográficas e o envelhecimento populacional aumentam a demanda por serviços de saúde já sobrecarregados. A questão no NHS, por exemplo, resume-se em seu site: “reformar ou morrer”. “Podemos continuar no caminho atual, fazendo ajustes em um modelo cada vez mais insustentável, ou podemos tomar um novo rumo e reimaginar o NHS por meio de mudanças transformadoras que garantirão sua sustentabilidade para as gerações futuras. Precisamos representar uma ruptura com o passado”, completa o mais ambicioso sistema público de saúde do mundo. A diferença entre utopia e distopia é o tempo de preparação, e sem antecipação só conseguimos gerar entropia.
Com base nas projeções da ONU, a população mundial pode crescer para cerca de 8,5 bilhões (2030), 9,7 bilhões (2050) e pico de 10,4 bilhões (2080), com declínio por volta de 2100. São dados que escancaram uma fabulosa máquina de degradação sistêmica (entropia). Nem todos os pesquisadores concordam com esse pico populacional, mas a calamidade não precisa de grande numerologia: toda e qualquer previsão demográfica futura é notoriamente difícil para a Saúde (envelhecimento populacional, aumento de custos, crescimento de patologias crônicas, etc.). O declínio da fertilidade promulga o álibi perfeito e a expectativa de vida ésua moeda de troca. Todavia, para a maciça maioria dos terráqueos, viver muito em 2040 ainda será um desafio ciclópico.
Por outro lado, freando um cadinho o pessimismo, temos um elemento absolutamente transformador no bioma da saúde: a inteligência artificial. Vinod Khosla, o bilionário empresário indiano-americano, acostumado em décadas de investimento em inovações disruptivas, desabafou em recente entrevista no //medium.com/@reuvengorsht/the-end-of-work-as-we-know-it-vinod-khoslas-vision-of-2040-a00ffda738e3">Medium: “Nunca vi um ciclo como este. Entraremos em uma era de abundância tão grande que será muito difícil para as pessoas imaginarem. Até 2040, teremos um bilhão de robôs bípedes realizando mais trabalho do que todos os humanos juntos. Eles começarão na sua cozinha, cortando vegetais, cozinhando refeições, lavando pratos por US$ 300 a US$ 400 ao mês. Mas, o mesmo robô que limpa sua casa também será seu médico, seu professor, seu tudo”. Exageros à parte, está claro que o motor das IAs vai, definitivamente, transformar o sistema produtivo global, com efeitos ainda mais multiplicadores na biosfera clínico-assistencial.
Mas quem será esse ‘consumidor de serviços de saúde’ dos próximos anos, mais especificamente por volta de 2040? Que paciente os sistemas de saúde devem esperar para 2040? Quais tecnologias deverão estar ao seu alcance em 15 anos? Hoje, a maioria das pessoas não consegue compreender como a IA afetará suas vidas. A velocidade dos LLMs perturba nossa análise crítica, mas sem ela para perscrutar e garimpar o futuro não há lugar para nós nele.
As projeções sobre o avanço das IAs na Saúde até 2040 são múltiplas, por isso nos concentramos aqui em obter predições de especialistas, ou seja, pesquisadores, cientistas, médicos e lideranças setoriais. Aqui vão algumas delas:
Resultado de 10 pesquisas envolvendo mais de 5.288 pesquisadores e especialistas em IA, estimou que a maioria deles acredita que as AGIs (IA com nível de inteligência humana) têm 50% de probabilidade de estarem presentes entre 2040 e 2061, com algumas estimativas prevendo que a superinteligência artificial poderá surgir em poucas décadas.
Vários centros de pesquisa, por exemplo, já estão usando tecnologias em IA para desenvolver células virtuais, simulações baseadas nos principais blocos de construção de todas as formas de vida, sendo difícil prever o impacto que seus modelos podem ter no mundo da saúde (“Você pergunta ao modelo: Que perturbações preciso fazer para mover esta célula deste estado doente para este estado saudável?”). Até 2040, teremos ensaios avançados de geração de células virtuais na medicina corretiva.
Mo Gawdat, Dario Amodei (CEO da Anthropic) e outros executivos que estão por trás da explosão das IAs, explicam cada vez mais amiúde que teremos um período intermediário, transicional e agitado que começará por volta de 2027. Serão cerca de 15 anos marcados por demissões em massa e aumento da desigualdade. “Nesse período, a menos que você esteja entre os 0,1% mais ricos, você é um camponês. Não existe classe média. A consequência será o aumento da pobreza, do isolamento e dos problemas de saúde mental”, explicou Gawdat. Por outro lado, após essa fase inicial, emergirá uma grande oportunidade de transformação a partir de 2040, onde humanos ganharão maturidade na convivência com IAs e poderão se afastar do expediente rotineiro, se concentrando no crescimento laboral e espiritual, cultivando relacionamentos pessoais e privilegiando a convivência coletiva.
A mais recente pesquisa AI Monitor 2025, realizada pela Ipsos em 30 países, mostra que “66% dos brasileiros afirmam possuir uma boa compreensão sobre o que significa inteligência artificial, um número próximo à média global de 67%”. Desses, 57% concordam que o uso de IA em produtos e serviços gera entusiasmo e 58% acreditam que as IAs vão intensificar a transformação da sociedade nos próximos três a cinco anos (42% consideram provável que a IA possa substituir seus empregos atuais dentro desse período).
Da mesma forma, é preciso buscar compreender o perfil do ‘consumidor de serviços de saúde’ que chegará às portas dos sistemas públicos e suplementares em 2040. Seguem abaixo alguns indicadores:
O paciente de 2040 será definido pela confluência do aumento da longevidade e da alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Isso cria um arquétipo de paciente inteiramente novo: não simplesmente “idoso” ou “doente”, mas um indivíduo “cronicamente ativo”, com múltiplas condições de saúde. Se em 2010 havia 39 idosos para cada 100 jovens, estima-se que em 2040 essa proporção seja de 153 idosos para cada 100 jovens (o segmento 65+ representará mais de 15% da população até 2050). Em 2010, menos de 30% dos indivíduos tinham smartphones; a teleconsulta era uma heresia; idem com o registro eletrônico de saúde; e a computação em nuvem era pura heterodoxia. Mas todas essas tecnologias já eram evidentes em 2010. Dez anos depois (2020+), 700 mil brasileiros pereceram na Covid-19. Que preparação estamos fazendo hoje para o Paciente-2040?
As DCNTs já são a principal causa de mortalidade e morbidade, impondo um fardo ainda maior no futuro. A prevalência de condições como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e distúrbios neurodegenerativos (Alzheimer, por exemplo) será o desafio clínico definidor em 2040. Essa perspectiva vai cunhar “pacientes com um senso permanentemente aguçado de vulnerabilidade”. Essa realidade se manifestará em um comportamento dual do paciente: por um lado, uma maior demanda por medidas preventivas, por outro, uma maior ansiedade relacionada à saúde e à desinformação (ou superinformação duvidosa); e na ponta final uma imensidão tecnológica a sua disposição.
Portanto, o Paciente-2040 combinará uma elevada ansiedade (estresse) com um ambiente digital saturado de informação (“infodemia”), onde as opções tecnológicas a seguir serão confusas e pouco adotadas pelos sistemas de saúde. Nesse sentido, o paciente buscará de 2025 até 2040, cada vez mais, caminhos para o letramento em saúde e para reduzir a sua ‘hiperdependência sistêmica’. O Paciente-2040 será um atormentado: tem consciência da sua fragilidade clínico-assistencial, gerada por insuficiências da Saúde Pública e Suplementar, e percebe seu corpo convivendo mal com a passagem do tempo. Um indivíduo com 40 anos em 2040 terá 70% de probabilidades de desenvolver problemas sociomentais de gravidade média. Sempre é bom lembra que estamos falando dos pacientes que estão na ‘mediana nacional do perfil socioeconômico’, onde o acesso à saúde será eminentemente público e precário.
O diagnóstico de uma ou mais condições crônicas (comorbidade, multimorbidade ou plurimorbidade) não será mais um evento sugerido (subjetivo), mas tecnologicamente evidente, com múltiplas terapias de acompanhamento. As IAs e a biogenética serão capazes de evidenciar com precisão e predição inúmeras condições crônicas mesmo antes delas apresentarem sintomas. Assim, a multimorbidade será assistida por um processo contínuo que envolve monitoramento, medicação, ajustes no estilo de vida e consultas virtuais com especialistas. Essa relação de longo prazo se assemelha mais a “uma assinatura de serviço de saúde do que a uma compra transacional”. Consequentemente, o modelo demandado pelo Paciente-2040 (para não dizer exigido) se deslocará do seguro-saúde mutualista para um formato baseado em assinaturas ou gestão de longo prazo (por exemplo, um plano de manejo vitalício para diabetes). O valor mais significativo não estará em simplesmente tratar, mas em gerenciar as condições crônicas de forma eficaz e em períodos mais longos, acordados entre as partes.
Por outro lado, o conceito de “capacidade funcional” se tornará uma métrica de saúde mais importante do que a “ausência de doença”, até porque não existirá mais essa expressão.Em 2040, estaremos dentro de uma transição de empregabilidade gerada pela automação-hiperinteligente, onde tudo relacionado ao trabalho será instável e muito mais competitivo do que em 2025. A meta principal desse paciente será minimizar o impacto de suas condições crônicas na vida laboral, preservando alguma autonomia para preparação de atividades profissionais sustentáveis (com ou sem “renda universal”). Nada disso ocorrerá sem desconforto e forte ansiedade.
O Paciente-2040 será, portanto, mais longevo, mais ansioso, mais crônico, menos otimista com o futuro, ainda que seu status digital, promovido pelas IAs, lhe enseje grande facilidade de ascender culturalmente. No fundo, essa possibilidade de flexibilizar múltiplas escolhas profissionais será também mais uma pressão a complicar sua ansiedade. Esse cenário de risco constante e ansiedade latente criará um novo mercado: “biossegurança psicológica“, uma disciplina médica com maior demanda por cuidados mentais do que em qualquer outra época de nossa civilização. Médicos, de qualquer especialidade, serão obrigatoriamente gestores de saúde mental, muito mais do que já são hoje. As instituições que se posicionarem como fontes autorizadas de “cuidados clínicos pluridisciplinares” terão um imenso espaço mercadológico e social. Em escala, os especialistas médicos serão cada vez mais “curadores de uma vida sustentável”, onde o mental, em muitos casos, terá prevalência sobre o clínico-patológico.
O Paciente-2040 será também um voraz usuário de plataformas digitais, sendo que na faixa dos 18+ será um nativo-digital. Sua interação com o mundo utilitarista que o rodeia será completamente diferente do que em 2025. É extremamente provável (85% de probabilidade) que veículos de mobilidade pública serão elétricos (ou outras formas enérgicas renováveis), sem custo ao usuário e com vias exclusivas para carros ‘sem motoristas’. Os veículos pessoais de uso próprio serão incentivados (ou obrigados) a não transitar nas grandes metrópoles. Nesse sentido, o Paciente-2040 se deslocará muito menos do que em 2025.
É muito provável (75% de probabilidade) que os seguros pessoais (saúde, vida, catástrofes naturais, etc.) ficarão mais baratos pelo fator da previsibilidade que as IAs vão aportar em todos os setores. Nessa mesma condição de probabilidade (75%), a automação utilitarista/robótica será plena, assumindo um papel orgânico em qualquer atividade produtiva. Em consequência, o Paciente-2040 será multitarefa em sua vida produtiva, com profissionais seniores (70+) crescendo em participação nas atividades observacionais e de suporte à decisão de máquina.
Da mesma forma, existe muita probabilidade (75%) de que o número de pessoas vivendo com doenças graves aumentará em 37% até 2040. Assim, a projeção para 2040 é que: 1 em cada 5 adultos (19%) viverá com uma doença grave, contra 1 em cada 6 em 2019 (fonte: The Health Foundation).
Em 2040, é bem provável (65% de probabilidade) que 20% a 50% dos empregos e tarefas já tenham sido automatizados, criando uma subclasse de pessoas desempregadas (4 em cada 10 especialistas, 39%, preveem menos empregos devido à IA nas próximas duas décadas, com uma parcela menor deles, 19%, acreditando que esta gerará mais empregos). Há também o fato de que, para muitas pessoas o trabalho é uma razão para viver, o que pode suscitar debates sobre o que significa ser humano e a necessidade de reformas econômicas para redistribuir o trabalho que permanece disponível. Assim, é bem provável que o Paciente-2040 tenha uma empregabilidade volátil, seja multiofício e tenha seu padrão de bem-estar social reduzido entre os anos de 2035 e 2045. Como o capitalismo já nos ensinou, isso significa aumento da desigualdade nos próximos 15 anos.
Com a mesma probabilidade (65%), o Paciente-2040 terá grandes facilidades digitais para se autocuidar (autodiagnosticar, automedicar, automonitorar, alfabetizar-se em saúde, etc.), dependendo menos da assistência médica sistêmica. As tecnologias de IoMT, por exemplo, estarão amplamente conectadas com plataformas de IA sendo difundidas e disponíveis para suporte à Saúde, como, por exemplo, “Agentes Pessoais de IA” para acompanhamento diário. 84% dos especialistas acreditam que a IA em 2040 afetará a assistência médica de forma positiva, mas reducionista. Nessa direção, a grande maioria das relações entre médicos e pacientes, principalmente no primeiro e segundo atendimento, será virtual, acompanhada por monitoramento remoto de sinais vitais. O presencial será exceção; e o remoto será a majoritária forma de aceder as cadeias de assistência médica.
Provavelmente (50% de probabilidade), a realidade virtual se tornará uma parte notória da vida do paciente e do médico (sim, o Metaverso cambaleou, mas as máquinas de cognição artificial tendem a reintroduzi-lo com muito mais força). Veremos ‘sistemas imersivos de realidade mista’, como óculos comutáveis, lentes de contato inteligentes, sensores corporais para gestão de crônicos e uma enorme quantidade de gadgets para sustentabilidade e acompanhamento sanitário. Dentro dessa probabilidade, o Paciente-2040 estará conectado com clínicas virtuais em qualquer parte do mundo, em qualquer língua e em formato telemédico síncrono, sendo que seu atendente será um robô clínico-assistencial. Nessa direção, provavelmente (50%) até 2040, as máquinas já terão igualado (ou superado) a capacidade de raciocínio humano (fonte: //medium.com/@chima_ai/the-path-to-human-level-ai-by-2040-rich-suttons-vision-and-the-enterprise-imperative-2cb407543ea8">Dr. Rich Sutton, vencedor do Prêmio Turing em 2024).
Da mesma forma, provavelmente (50%) o nível de “especialização médica” será cada vez mais concentrado, com ‘Agentes de IA Especializados’ promovendo a interação direta com cada profissional clínico. Por volta de 2040, a formação médica no Ocidente será reduzida para menos de quatro anos, com 70% dos cursos realizados em ambiente de pesquisa clínico-científica, com apoio de IA e utilizando dados sintéticos. A Residência Médica será obrigatória, contínua e periódica (a cada 5 ou 8 anos, médicos voltam para alguma carga de residência clínico-assistencial hospitalar).
Com a mesma probabilidade (50%), a ‘enfermagem propelida por agentes IA’ será uma das funções mais valorizadas das Cadeias de Saúde. Em 2040, o centro de cuidado individual, pessoal e residencial não será feito por máquinas (robôs, humanoides, etc.) como se imagina, mas por indivíduos apoiados por cognição artificial (agêntica). Nos próximos 15 anos o domicílio se transforma em primeira linha de cuidado. Até 2040, não haverá robô-multitarefa capaz de substituir o tato clínico, o julgamento situacional e a mediação humana nas zonas cinzentas do cotidiano, principalmente do paciente crônico. Por isso, os chamados “cognware-caregivers” (CoC), profissionais que orquestram e cuidam de “pacientes-domiciliados” utilizando forte suporte de IA agêntica, tornam-se o eixo do modelo assistencial domiciliar. Fontes pagadoras e sistemas públicos passarão a remunerar essa “última milha humana” como serviço crítico, com pacotes por episódio e bônus por desfecho. O CoC também será apoio ao letramento em saúde. O cuidado pessoal domiciliar em 2040 será tecnologicamente aumentado, mas ainda irredutivelmente humano.
Provavelmente (50% de probabilidade) boa parte dos Pacientes-2040 estará também condicionada aos modelos de assistência básica em Health Kioskes (cabines, quiosques ou healthstations-abertas), já comum em vários centros urbanos. As “estações de autoatendimento” para checagem de sinais vitais, teleconsulta, testes/exames convencionais e triagem baseada em sintomas terão uso crescente, embora boa parte dessa “telemetria clínica” já esteja disponível em 2040 por meio dos smartphones (ou gadgets residenciais).
Com baixa probabilidade (30%), implantes cerebrais ou corporais serão comuns e evolutivos. A impressão 3D será responsável pela geração de mais de 50% dos ativos ortopédicos. Em 2040, com a mesma probabilidade, o varejo farmacêutico (brick-and-mortar) desaparece ou torna-se um centro de intervenção em triagem. A “inclusão tecnológica”, principalmente medicamentosa, terá dois rumos, com 30% de probabilidade para qualquer um deles: (1) será coparticipativa e cofinanciada entre as partes envolvidas, sendo entidades externas aos Sistemas de Saúde (como fintechs e bancos) a sua maior fonte de crédito; (2) por volta de 2040, as bases constituintes que sustentam a “cobertura universal do Estado”, serão reformadas, tendo como base uma redivisão de responsabilidades, incluindo a participação do paciente. Esse “novo mutualismo” será crível e consensuado em 2040, mas vigente só na segunda metade do século.
É difícil prever com qual quadro de doenças o Paciente-2040 chegará aos Sistemas de Saúde. Mas talvez seja possível indicar a probabilidade de algumas patologias já não fazerem mais parte do “cardápio de enfermidades notórias” em 15 anos. Nessa direção, podemos perguntar: em 2040, quais as perspectivas terapêuticas de “cura”, redução de mortalidade/morbidade, ou mesmo recondicionamento clínico ($) das opções atuais de tratamento de algumas patologias? (o protocolo de “cura” aqui envolve sentido de cura funcional (“Sem sintomas ou eventos clínicos relevantes ligados à doença durante pelo menos cinco anos após o ‘fim’ do tratamento”). Algumas probabilidades:
1. Anemia falciforme
O que contar como cura? Paciente ficar com mais de 5 anos sem crises vaso-oclusivas nem transfusões.
Terapia-chave (status 2025): edição gênica CRISPR exa-cel Casgevy® (primeira aprovação FDA para SCD em dez-2023) (U.S. Food and Drug Administration).
Evidência clínica: estudo do New England Journal of Medicine mostra que 97% dos pacientes tratados estavam livres de crises por pelo menos 12 meses (New England Journal of Medicine).
Principais gargalos: preço, necessidade de centros de transplante, expansão para países de baixa renda.
Projeção 2040: pelo menos 90% de probabilidade de “cura funcional” em países de alta renda; e 60–70% no cenário global.
2. β-talassemia transfusional
Cura funcional: independência permanente de transfusão.
Terapia: mesma plataforma exa-cel, aprovado pela FDA (2024) (U.S. Food and Drug Administration)
Evidência Clínica: coortes iniciais mostram suspensão de transfusões em cerca de 80% dos participantes.
Gargalo extra: reduzir o regime de condicionamento mieloablativo.
Projeção 2040: perto de 80% de probabilidade em pacientes (países) de alta renda; e 55–65% no âmbito global.
3. Hepatite B crônica
Cura funcional: HBsAg indetectável por pelo menos 12 meses após fim do tratamento.
Terapia em destaque: combinação de anticorpo tobevibart + RNAi elebsiran (estágio fase III – estudo MARCH) (Vir Biotechnology e parceiros).
Resultados parciais (2025): soroconversão sustentada perto de 30% nos participantes, 24 semanas pós-tratamento.
Gargalos: resposta imune durável e variabilidade genotípica.
Projeção 2040: probabilidade de 60% de cura funcional; cura “esterilizante” menor que 10 %.
4. HIV-1
Meta: carga viral indetectável sem TARV por mais de 2 anos, reservatório latente negativo.
Terapias em teste: (1) EBT-101 (CRISPR in vivo, fase I, fast-track FDA); (2) Estratégias “kick-and-kill” com mRNA-LNP + anticorpos neutralizantes de longa ação.
Evidência 2024–25: primeiros resultados em nível de segurança, ainda sem prevenção de rebote viral em humanos (aidsmap.com).
Gargalos: erradicar reservatórios e custo de terapias celulares.
Projeção 2040: perto de 40% probabilidade de cura funcional para subgrupos (ex.: diagnóstico recente); e menos de 15% de cura esterilizante.
5. Diabetes tipo 1
Meta: permanecer sem necessidade de insulina por mais de cinco anos e manter HbA1c abaixo de 7%.
Frente mais avançada: ilhotas derivadas de células-tronco (VX-880). Estudo fase I/II mostra restauração sustentada de C-peptídeo (VRT NewsCGTlive™).
Gargalo: imunossupressão crônica ou cápsulas imunes ainda não ideais; braço encapsulado (VX-264) foi encerrado.
Projeção 2040: probabilidade de 50% de independência prolongada se os avanços em proteção imune se concretizarem.
6. Alzheimer (estágio inicial)
Meta: deter o declínio cognitivo por menos de 5 anos (efeito modificador, não “cura” esterilizante).
Achado mais recente: doses baixas de lítio orotato reverteram placas e recuperaram memória em modelo murino; artigo Nature 2025 (cobertura NatureThe Washington Post).
Gargalos: traduzir para humanos, detectar precocemente, segurança crônica.
Projeção 2040: probabilidade de 10–20% no efeito modificador sustentado em pacientes com diagnóstico precoce.
Quadro vacinal:
1. Malária (R21/RTS,S)
Visão 2040: cobrir mais de 80% das zonas endêmicas africanas, reduzindo hospitalizações infantis em até 60%.
Onde estamos: R21 recomendado pela OMS (2023) e pré-qualificado; Gavi já estruturou rollout que começa em 2025–2027 (Organização Mundial da Saúde).
Gargalos: ampliar fabricação e garantir cadeia de frio em áreas rurais.
Probabilidade de disponibilidade global em 2040: maior de 90%.
2. Tuberculose (M72/AS01E)
Objetivo: prevenir TB pulmonar em adultos IGRA-positivos.
Status 2025: ensaio de Fase 3 completou o recrutamento de 20.000 participantes em 54 centros (África do Sul, Quênia, Maláui, Zâmbia e Indonésia) 11 meses antes do previsto; doses iniciadas em mar/2024 (Health Policy Watch).
Gargalos: comprovar eficácia maior que 50% em IGRA-positivos e duração da proteção; desempenho em coinfecção por HIV; capacidade fabril/custo e cadeia de suprimentos; financiamento em países de baixa/média renda.
Probabilidade de licenciamento até 2040: perto de 80% (observação: em mar/2025, estudo já indicava 90% do recrutamento, adiantando em um ano o trial, confirmando o ritmo de testagem).
3. Citomegalovírus congênito (mRNA-1647)
Meta: evitar infecção primária em gestantes soronegativas (maior causa viral de surdez infantil).
Status 2025: fase III em andamento; DSMB relata segurança e mantém estudo; dados finais previstos para fim de 2025 (CDC; PubMed).
Gargalos: demonstrar eficácia clínica (não só imunogenicidade) e viabilizar custo de plataforma mRNA para programas públicos.
Probabilidade de uso em Gestantes: nos países ou indivíduos de alta renda, probabilidade de 70% até 2040 (expansão global rápida dependerá do preço e das condições de inclusão tecnológica de cada país).
4. HIV (vacina germline-targeting com nanopartículas codificadas por mRNA — IAVI G002/G003)
Objetivo: induzir anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs) via ativação de precursores (classe VRC01) antes da exposição.
Status 2025: ensaios de Fase 1 (G002/G003) concluídos; segurança aceitável; prova de conceito de ativação de precursores de bnAbs; sem dados de eficácia clínica (IAVIScience).
Gargalos: demonstrar amplitude/potência com boosts; definir correlato de proteção; avançar a Fase 2b/3; viabilizar custo e fabricação.
Probabilidade de primeira aprovação regulatória (profilaxia) até 2040: perto de 40%.
5. Gripe universal (“Generation Gold Standard”)
Meta: vacina “variante-proof” que proteja por mais de 3 anos contra múltiplos subtipos (H1, H3, H5, coronavírus zoonóticos).
Status 2025: programa Generation Gold Standard anunciado (mai/2025); HHS/NIH realocam cerca de US$ 500–550 milhões para uma plataforma universal com vírus íntegros inativados; candidatos em fase inicial de planejamento; ensaios previstos a partir de 2026 (HHS/NIH; Science).
Gargalos: provar proteção em amplo espectro em humanos, manter atualização antigênica e capacidade fabril.
Probabilidade de licenciamento EUA/UE e comercialização global até 2040: perto de 60%.
Todos os avanços e probabilidades explicitados acima dependem, obviamente, de fatores conjunturais, científicos, virogenéticos/mutacionais e continuidade de investimentos, sem considerar os possíveis avanços novos e disruptivos nas cadeias farmacológicas. Trata-se, portanto, de uma fotografia probabilística aproximada de algumas ações diagnósticas e terapêuticas com alto poder de transformar a sustentabilidade clínica do paciente em 2040 (as condições relatadas aqui foram extraídas de centros de pesquisa e de suas projeções para 2040). Da mesma forma, as probabilidades não consideram efeitos exógenos às cadeias de saúde (pandemias, epidemias, eventos de natureza geopolítica, etc.).
Mas quais “tecnologias digitais-estruturantes” já estão em testagem (benchmark) e devem propelir o cuidado do Paciente-2040? A lista abaixo é uma breve amostra, baseada em vários relatórios de centros de pesquisa e inspirada no “Hype Cycles 2024-25” da Gartner, que as caracteriza como: “em rápida ascensão, devendo atingir maturidade (‘Plateau of Productivity’) entre 2032 e 2040, tornando-se plenamente operacional ao longo dos anos 2030 e início de 2040”. (Observação: a tradução das tecnologias entre parênteses é livre).
Digital Patient Twin (Gêmeo Digital do Paciente): réplicas virtuais 4D que antecipam riscos e testam terapias antes da intervenção clínica; Gartner projeta maturidade plena até meados da década de 2030 (ScienceDirect).
Agentic/Autonomous Clinical GenAI (IA Generativa Clínica Autônoma): modelos multimodais que redigem resumos de prontuário, sugerem condutas e executam fluxos de trabalho em tempo real e suportam a decisão clínica; listada pela Gartner como “Agentic AI” em 2025 (Gartner).
Personalized Neoantigen mRNA Vaccines (Vacinas mRNA de Neoantígeno Personalizadas): imunizações sob medida contra câncer e vírus, com vários candidatos já em fase III (PMC).
In-vivo Base & Prime Editing (Edição Genética Base & Prime in vivo): correção pontual de mutações (ex.: anemia falciforme) sem cortes de DNA; estudos de 2024 mostram alta eficiência funcional (Revvity).
Skin-Integrated Wearable Sensors (Sensores Epidérmicos Integrados): adesivos inteligentes que monitoram ECG, temperatura e pressão arterial 24/7; plataforma ANNE One já possui clearance FDA (FDA Access Data).
Non-Invasive BCI Wearables (Interfaces Cérebro-Computador Não-Invasivas Vestíveis): pulseiras sEMG, como o protótipo Orion/Meta, que decodificam digitação “no ar” a 20 palavras/minuto (Android Central).
Magnetic Drug-Delivery Nanorobots (Nanorrobôs Magnéticos de Liberação Direcionada): microrrobôs que levam quimioterapia direto ao tumor; MIT demonstrou fabricação em escala em 2025 (MIT News).
Vascularized 3D-Bioprinted Organs (Órgãos Bio-impressos 3D Vascularizados): fígado e rim impressos com redes capilares funcionais, restaurando função em modelos animais (Science Direct).
Metaverse XR-Clinic Platforms (Plataformas de Clínica XR no Metaverso): teleconsultas imersivas e reabilitação gamificada que reduzem dor crônica, segundo as revisões de 2024-25 (Scientific Archives).
Quantum-Enabled Drug Discovery (Descoberta de Desenvolvimento de Fármacos com Computação Quântica): algoritmos quânticos para gerar moléculas em horas, acelerando P&D (profbanafa.com).
AI Virtual Cell – AIVC (Célula Virtual IA): modelos computacionais multiescala que reproduzem a estrutura, a dinâmica e as respostas de células reais, alimentados por dados ômicos, imagem 3D e simulação fechada em loop. Pilotos Stanford/CZI já preveem efeitos de fármacos e redes de sinalização. Expectativa de entrar em ensaios antes de 2035 (PMC ou Nature).
Bottom-up Synthetic Cell (Célula Sintética de Baixa Complexidade): vesículas lipídicas com genoma projetado ou circuitos proteicos reconstituídos que executam funções-chave (produção de fármacos, relógio circadiano, locomoção). Relatórios FTI destacam “minimum viable lifeforms” como passo vital para terapias vivas e programáveis em 2030 (Naturefuturetodayinstitute.com).
Computational Pathology Genomic Surrogates (Biomarcadores genômicos via Patologia Computacional): modelos que inferem mutações (ex: EGFR) a partir de lâminas H&E (hematoxilina-eosina) digitalizadas de biópsias de adenocarcinoma de pulmão, priorizando NGS (next-generation sequencing) e acelerando a oferta de terapia-alvo (Nature).
AI-Assisted Fetal Ultrasound for Anomaly Detection (Ultrassom fetal assistido por IA para Detecção de Anomalias): uma IA guia o operador em tempo real identificando um plano-padrão, checa a qualidade das imagens em função das características óticas do operadore reduzo tempo do exame em mais de 40% sem perda de desempenho diagnóstico (NEJM AI).
Emergency Department AI Triage (Triagem de Pronto-socorro com IA): controla triagem, lê sinais vitais, identifica a queixa principal, ordena os dados no prontuário, gera um score de risco em tempo real, sugere prioridades, aciona protocolos, comunica dados à cadeia de decisão, hierarquiza ações e proteções, etc (NEJM AI).
Do outro lado, nada disso (ações diagnósticas/terapêuticas e tecnologias) reduzirá a iniquidade de acesso à saúde sem uma cesta de “blocos estruturais” que permita a sustentabilidade tecnológica das cadeias de saúde. Alguns exemplos:
FHIR-native Agentic Interoperability (padronização e regulação de como agentes de IA devem se integrar);
Nation-scale Health Exchange (TEFCA/EHDS), também chamado de Intercâmbio nacional/continental de Dados (cria regras e serviços para troca segura e padronizada de informações clínicas);
Verifiable Credentials & Digital ID Wallets (credenciais digitais verificáveis em padrão W3C e IDAS);
5G/6G Network Slicing & Edge Health (redes de “computação de borda” em Saúde);
End-to-end Drug Traceability – DSCSA (rastreabilidade mundial de medicamentos, ponta a ponta) e, principalmente,
Permissioned Blockchain + Verifiable Credentials & ZK (que utiliza ledgers permissionados para inviolabilidade de ativos, serviços e contratos digitais); dentre outros blocos.
Essa “arquitetura de blocos estruturantes” objetiva padronizar a identidade, confiança, transporte e volume de dados, garantindo desempenho e continuidade. São proteções aos protocolos mundiais de compliance e redução de risco sistêmico. Eles existem exatamente para sedimentar o “solo onde as IAs diagnósticas/terapêuticas vão pisar e escalar”. Não são periféricos sofisticados, mas são o sistema nervoso das inovações em Saúde. Sem esses blocos, nada do que foi descrito acima como características clínicas evolutivas do paciente terá o menor significado. Aliás, a construção desses blocos fundacionais é muito mais uma questão política do que tecnológica.
No quadro atual, o Paciente-2040 tende a ganhar calendário, mas a grande maioria encontrará uma colossal insuficiência assistencial. Isso independe de pesquisas, tecnologias, descobertas ou do potencial transformador das IAs; depende, sobretudo, da visão política e econômica dos gestores, ou da sua inabilidade, covardia e inapetência para pensar e planejar o futuro em conjunto. Chegamos ao ponto em que o cuidado não pode mais reagir ao que acontece: precisa metabolizar o que ainda não aconteceu, mas vai acontecer. É preciso ensaiar o porvir com a mesma severidade e dedicação com que atendemos um quadro crítico na Emergência. É necessário aplicar a razão em 2040, não só em 2025. Miguel de Unamuno (1864–1936), em sua obra “Vida de Don Quijote y Sancho” (1905), deixou o melhor rastro para perseguirmos: “Dom Quixote não morreu louco, mas morreu por ter recuperado a razão. O que era insuportável não era a sua loucura, mas acordar em uma realidade sã demais para se viver”.
Guilherme S. Hummel - Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)
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MEDICINA S/A
O futuro da perícia e os limites da inteligência artificial
A inteligência artificial (IA) passou, em poucos anos, de ferramenta experimental a componente estrutural dos sistemas de saúde. Nas imagens diagnósticas, algoritmos de deep learning já descrevem achados em radiografias com precisão comparável à de especialistas, economizando minutos preciosos por exame; redes treinadas em traçados de eletrocardiograma começam a prever risco de doenças metabólicas muitos anos antes dos primeiros sintomas. Na esfera administrativa, modelos de linguagem natural redigem notas pós-operatórias mais consistentes que as escritas manualmente e reduzem o tempo gasto com prontuários. Plataformas de descoberta de fármacos, impulsionadas pelo avanço do AlphaFold, prometem encurtar sensivelmente o ciclo de pesquisa, embora revistas de referência insistam na necessidade de validação externa e explicabilidade antes de quaisquer liberações regulatórias.
Quatro obstáculos permanecem centrais: dados enviesados que podem gerar discriminação, opacidade algorítmica que dificulta contestação de decisões, problemas de integração com sistemas hospitalares legados e zonas cinzentas de responsabilidade civil quando um algoritmo falha.
No campo pericial médico-legal — que abrange perícias criminais, cíveis, securitárias e previdenciárias — a pesquisa em IA segue em frentes ainda menores em comparação com a medicina em geral. A primeira envolve aquisição e análise de evidências: visão computacional em tomografias pós-mortem para detectar fraturas ou estimar intervalo post-mortem; machine learning em antropologia digital para prever sexo, idade e ancestralidade a partir de crânios ou ossos; e processamento de linguagem natural para extrair, de prontuários volumosos, informações que possam esclarecer o nexo causal. A segunda frente busca automatizar fluxos e relatórios por meio de geradores de minutas de laudo e sistemas de jurimetria capazes de estimar tempos de tramitação ou risco de impugnação. A terceira apoia-se em plataformas de teleperícia que permitem a participação remota de especialistas, atualmente dentro dos limites recém-definidos pela Resolução CFM 2.430/2025 — norma que exige presença física do perito quando há quantificação de dano ou exame de capacidade atual e que reafirma a responsabilidade personalíssima pelo laudo, mesmo quando ferramentas de IA são empregadas.
As vantagens observadas até agora incluem maior velocidade na triagem de grandes volumes documentais, padronização de descrições e detecção de padrões sutis que poderiam escapar à análise humana. Porém, as mesmas limitações vistas na prática clínica se agravam no ambiente forense. Bases de dados são fragmentadas entre jurisdições, faltam protocolos unificados de digitalização, e algoritmos podem “alucinar” respostas ou reproduzir vieses de treinamento, gerando conclusões que, embora bem estruturadas, não se sustentam tecnicamente. Além disso, a cadeia de custódia digital exige rastreamento rigoroso de versões e metadados, pois qualquer perda de integridade compromete o valor probatório.
Diante desse quadro, especialistas convergem em três recomendações: ampliar a padronização e o compartilhamento de bases periciais para reduzir vieses; investir em ferramentas de explicabilidade que permitam ao juiz — e às partes — entender o raciocínio algorítmico; e capacitar peritos, desenvolvedores e operadores do Direito para que reconheçam tanto o potencial quanto os limites da tecnologia. Enquanto esses requisitos não estiverem consolidados, a IA deve ser tratada como apoio especializado, capaz de aumentar a eficiência e a coerência dos laudos, mas jamais como substituta do juízo crítico humano que sustenta a decisão pericial.
*Caroline Daitx é médica especialista em medicina legal e perícia médica.
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Assessoria de Comunicação