CLIPPING AHPACEG 31/07/25
ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
SUS e planos de saúde: especialistas comentam impactos de integração
https://veja.abril.com.br/saude/sus-e-planos-de-saude-especialistas-comentam-impactos-de-integracao/
Planos de saúde atenderão pacientes do SUS a partir de agosto: entenda como vai funcionar o novo programa
Mabel promete trocar junta médica responsável por anlisar atestados de servidores
Conselho Federal de Medicina proíbe o uso de anestesia para fazer tatuagens
https://g1.globo.com/go/goias/playlist/videos-ultimas-noticias-de-goias.ghtml
Por que os remédios não funcionam igual para todas as pessoas?
https://www.metropoles.com/saude/remedios-nao-funcionam-igual-todos
'Confiei na ciência e na fé': a vida de quem participa de estudos para novos medicamentos
Transformação digital e os desafios da saúde privada
https://medicinasa.com.br/transformacao-digital-desafios/
TV ANHANGUERA
Mabel promete trocar junta médica responsável por anlisar atestados de servidores
...........................
Conselho Federal de Medicina proíbe o uso de anestesia para fazer tatuagens
https://g1.globo.com/go/goias/playlist/videos-ultimas-noticias-de-goias.ghtml
..........................
REVISTA VEJA
SUS e planos de saúde: especialistas comentam impactos de integração
A fila de pacientes por atendimento com especialistas na rede pública é histórica e um gargalo que afeta o controle e resolução de problemas de saúde. Não surpreende, assim, o apoio dado por entidades à estratégia anunciada nesta semana pelo Ministério da Saúde e Advocacia-Geral da União (AGU) da troca de dívidas de operadoras por atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em planos de saúde. VEJA ouviu especialistas sobre a iniciativa e eles destacaram os benefícios, mas alertaram para a necessidade de acompanhamento da medida para garantir o atendimento daqueles que aguardam por assistência.
Referência nacional no que diz respeito ao SUS, o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Gonzalo Vecina explica que é necessário estabelecer uma série de ações para contornar o problema do acesso a consultas, exames e cirurgias, e o ressarcimento com serviços pode fazer parte desse conjunto.
“Existe um problema de oferta frente a uma demanda muito grande que é muito clara. Não temos instrumentos imediatos para suprir essa demanda para consultas e exames com especialistas que é trabalhada desde antes do SUS. Aumentar a oferta por meio da diminuição da dívida, não vai resolver, mas vai diminuir o tamanho da fila”, avalia.
Segundo ele, o fortalecimento das medidas nas chamadas Regiões de Saúde, blocos com municípios próximos que compartilham similaridades socioeconômicas e de infraestrutura, é o caminho mais adequado para reestruturar a oferta e demanda por atendimento, bem como estabelecer uma medida durável.
Vecina destaca que a importância de receber a assistência especializada é visível em doenças graves, caso do câncer, mas é algo essencial para qualquer tipo de enfermidade.
“Sair da fila significa encaminhar a resolução de um problema de saúde, porque o paciente precisa marcar consulta, exame e cirurgia para continuar o seu projeto de tratamento. Quanto antes a gente intervém, menos efeitos colaterais a pessoa vai ter e o tratamento precoce é fundamental em todas as doenças.”
O advogado Rafael Robba, sócio do Vilhena Silva Advogados, diz que a medida é interessante para reaver o reembolso do que não foi pago pelas empresas. “O ressarcimento é obrigatório quando um beneficiário do plano utiliza o SUS, só que as operadoras, normalmente, ficam devendo valores muito altos. Seria uma forma de viabilizar o atendimento de usuários do SUS e, por outro lado, ainda que de forma indireta, cobrar o ressarcimento dessas operadoras.”
Fiscalização
Para o médico sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Walter Cintra Ferreira, a iniciativa demanda fiscalização do Ministério da Saúde para verificar se as operadoras realmente vão prestar o atendimento previsto aos pacientes do SUS.
“Como uma medida emergencial para tentar mitigar uma fila acumulada é válida, mas o governo precisa ser rígido com as operadoras, porque elas estão em dívida com a União. Tem um acúmulo muito grande de pacientes e essas pessoas não podem esperar. É preciso ver se o atendimento que precisa ser feito será cumprido.”
Ferreira defende a resolução de problemas como o subfinanciamento do SUS para avanços na assistência na rede pública de saúde. “Assim, o SUS pode contratar os serviços e dar conta da demanda de necessidade da população.”
Advogado especializado em Direito Médico e Hospitalar, Pedro Stein disse que a solução é inovadora, mas complexa, considerando o fato de que algumas operadoras de saúde já operam perto do limite.
“A portaria que regulamenta o programa menciona a fiscalização dos serviços contratados, mas não estabelece regras sobre filas separadas ou horários exclusivos para pacientes do SUS nos prestadores privados. Isso pode gerar sobrecarga e confusão se não houver uma boa organização operacional por parte dos estados e municípios.”
Stein afirma ainda que a assistência não pode fazer distinção entre os pacientes. “O mais importante é que os serviços oferecidos aos pacientes do SUS tenham qualidade equivalente à da rede privada.”
Entenda a iniciativa
Para reduzir as filas em atendimento na rede especializada, o Ministério da Saúde anunciou no início desta semana que as dívidas de ressarcimento ao SUS das operadoras de saúde poderiam ser convertidas em assistência aos pacientes da rede pública nos planos de saúde. A medida integra o programa Agora Tem Especialistas e deve ter ressarcimento inicial de R$ 750 milhões.
A iniciativa prioriza as seis áreas que são gargalos para o SUS: oncologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, cardiologia e ginecologia. A adesão deve ser feita de forma voluntária pelas operadoras, que vão passar por análise do ministério, e o serviço será gratuito para os pacientes. Os beneficiários dos planos não serão prejudicados, de acordo com a Associação Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Segundo o ministério, o rol de serviços vai funcionar “como uma prateleira de atendimentos especializados com os quais os estados, o Distrito Federal e os municípios poderão contar”.
....................
PORTAL G1
Planos de saúde atenderão pacientes do SUS a partir de agosto: entenda como vai funcionar o novo programa
Medida inédita permitirá que operadoras quitem dívidas com o SUS oferecendo consultas, exames e cirurgias para pacientes da rede pública.
Saúde Pública: pacientes do SUS poderão ser atendidos também por planos de saúde
A partir de agosto, pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) poderão ser atendidos em hospitais e clínicas de planos de saúde. A medida integra o programa Agora Tem Especialistas, anunciado pelo Ministério da Saúde, e tem como objetivo reduzir as longas filas por atendimento especializado na rede pública.
A iniciativa prevê que operadoras quitem dívidas com o SUS — que somam mais de R$ 1 bilhão — oferecendo serviços diretamente aos usuários do sistema público. Em um primeiro momento, cerca de R$ 750 milhões devem ser convertidos em consultas, exames e cirurgias eletivas em sete especialidades prioritárias.
Quais pacientes do SUS serão atendidos?
A nova parceria entre SUS e planos de saúde não permite que qualquer paciente escolha ser atendido em um hospital privado. O acesso seguirá o fluxo atual do SUS:
O paciente procura uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
O médico da UBS avalia a necessidade de atendimento especializado.
A solicitação é inserida na central pública de regulação, gerida por estados ou municípios.
A regulação define o local de atendimento, que poderá ser uma unidade da rede privada conveniada.
A seleção dos pacientes seguirá critérios clínicos e de prioridade, com foco nas especialidades com maior demanda: oncologia, ortopedia, oftalmologia, ginecologia, otorrinolaringologia, cardiologia e cirurgia geral.
“O cidadão não vai precisar fazer nenhum movimento extraordinário. Ele será agendado e informado, inclusive por WhatsApp”, explica ao g1 o diretor da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Rodrigo Oliveira.
Como será feita a adesão dos planos?
A participação das operadoras é voluntária. Para aderir, elas devem comprovar capacidade técnica e operacional e apresentar uma proposta de oferta de serviços. Essas propostas serão avaliadas pelo Ministério da Saúde, que verificará se as demandas do SUS na região serão atendidas.
A adesão será feita por meio da plataforma InvestSUS, e os atendimentos só começarão após aprovação da oferta e organização da regulação local.
Somente operadoras com capacidade para realizar mais de 100 mil atendimentos mensais poderão aderir ao programa. Em casos excepcionais, operadoras menores — com mínimo de 50 mil atendimentos/mês — também poderão participar, desde que atendam regiões com carência de serviços.
Por que planos vão atender pacientes do SUS?
A medida é uma forma de quitar dívidas de ressarcimento ao SUS. Pela legislação, quando um beneficiário de plano de saúde é atendido na rede pública, a operadora deve reembolsar os custos ao Fundo Nacional de Saúde. No entanto, muitas não fazem o pagamento, gerando um passivo bilionário.
Agora, essas dívidas poderão ser convertidas em atendimentos diretos à população, em vez de pagamentos em dinheiro.
“Se o SUS atendeu um cliente seu, agora você vai atender o povo brasileiro”, diz Oliveira.
Como será o controle e a fiscalização?
Diretora-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Carla Soares afirma que as operadoras continuarão sendo fiscalizadas e podem ser multadas caso deixem de atender seus próprios clientes ou descumpram obrigações com o SUS.
“Não há espaço para que deixem de atender seus beneficiários para priorizar o SUS. O interesse é ampliar a capacidade de atendimento de forma integrada”, declara.
O programa também prevê um novo modelo de pagamento. Os planos só serão remunerados após entregarem todo o combo de serviços especializados, o que inclui consultas, exames e, se necessário, cirurgias.
Integração de dados: SUS e planos no mesmo sistema
Além da parceria para atendimentos, os dados dos pacientes da saúde suplementar passarão a ser integrados à plataforma nacional do SUS. Com isso, será possível acessar o histórico de atendimentos — como consultas e exames — em um único sistema, facilitando a continuidade do cuidado e evitando a repetição de procedimentos.
O que esperar nos próximos meses?
A publicação do edital com regras de adesão sai nos próximos dias.
As operadoras poderão se cadastrar ainda em agosto.
Os primeiros atendimentos estão previstos para as próximas semanas, conforme a adesão das operadoras e organização local das ofertas.
Segundo o Ministério da Saúde, o programa é uma ação emergencial e estratégica para enfrentar o gargalo histórico na atenção especializada do SUS, agravado pela pandemia. “Estamos ampliando a oferta, mobilizando toda a estrutura possível para dar resposta rápida à população”, conclui Oliveira.
....................
METRÓPOLES
Por que os remédios não funcionam igual para todas as pessoas?
Mesmo com o mesmo diagnóstico, a resposta ao tratamento pode variar bastante de uma pessoa para outra
Um remédio que funciona bem para você pode não ter o mesmo efeito em outra pessoa. Às vezes, o alívio vem rápido. Em outras, parece que nada acontece. Por que isso acontece mesmo quando o diagnóstico é igual?
Segundo a farmacêutica Leila Maluli, de São Paulo, a explicação está no corpo de quem recebe o medicamento. "Uma pessoa muito acima do peso, com o intestino inflamado e que bebe pouca água, por exemplo, pode ter a absorção mais lenta do remédio. Já alguém hidratado, com o intestino saudável, pode ter um efeito mais rápido", afirma.
A via pela qual o remédio é administrado também interfere. Um analgésico aplicado na veia começa a agir quase imediatamente. Já o mesmo remédio tomado por via oral pode demorar até uma hora para surtir efeito.
Organismo e estilo de vida interferem no efeito
A forma como o corpo metaboliza, distribui e elimina os medicamentos varia de pessoa para pessoa. O farmacêutico Édson Figueiredo, de Brasília, aponta que fatores como idade, peso, doenças no fígado ou rins, e problemas intestinais podem influenciar diretamente na resposta ao tratamento.
"Certas condições clínicas alteram o metabolismo dos fármacos e exigem ajustes na dose ou mesmo na escolha do medicamento", explica.
Além disso, a composição corporal também conta. Medicamentos que se acumulam na gordura podem ter efeito diferente em indivíduos com maior percentual de tecido adiposo. "Isso pode retardar ou prolongar o efeito da substância no organismo", completa Figueiredo.
Diferenças entre faixas etárias são bem conhecidas. Crianças têm maior proporção de água no corpo, o que altera a distribuição de medicamentos hidrossolúveis. Idosos, por outro lado, costumam ter metabolismo mais lento e menor capacidade de eliminação dos fármacos, exigindo mais atenção na hora de ajustar as doses.
Leila acrescenta que até os hormônios femininos podem modificar a resposta ao tratamento. "Nas mulheres, há variação no ciclo menstrual que interfere na digestão, na absorção e até na excreção de substâncias", diz.
Genética e efeitos inesperados
Outro fator importante é a genética de cada indivíduo. Algumas pessoas têm predisposição genética para responder melhor ou pior a determinadas substâncias. "Crianças com necessidades especiais, por exemplo, exigem uma abordagem medicamentosa diferente", explica Leila.
Ela lembra também que nem todas as reações são previsíveis. "Uma alergia a penicilina, por exemplo, pode só aparecer na primeira vez que a pessoa tomar o medicamento. Por isso, a auto-observação é fundamental durante o tratamento", afirma.
Alimentação, álcool e cigarro mudam a resposta
O estilo de vida tem peso na forma como o corpo lida com remédios. Dietas ricas em produtos industrializados e inflamatórios prejudicam a flora intestinal e comprometem a absorção de remédios. "Comer arroz, feijão, legumes e verduras melhora a saúde intestinal e favorece a resposta aos tratamentos", destaca Leila.
O uso de álcool, cigarro e drogas ilícitas também interfere. O farmacêutico Rogério Hoefler, do Conselho Federal de Farmácia, explica que substâncias presentes na fumaça do cigarro aceleram o metabolismo de certos remédios.
"Fumantes podem precisar de doses maiores de medicamentos como teofilina, benzodiazepínicos e alguns antipsicóticos para atingir o mesmo efeito", alerta.
Já o álcool pode tanto retardar quanto acelerar o metabolismo, dependendo da frequência e quantidade de consumo. "Além disso, ele potencializa o efeito sedativo de medicamentos como antialérgicos e ansiolíticos", aponta Tarcísio José Palhano, também do Conselho Federal de Farmácia.
Possíveis interações
A forma como o medicamento é ingerido também influencia na sua eficácia. Tomar antibióticos como as tetraciclinas junto com leite, por exemplo, pode reduzir a absorção da substância. "Jejum e refeições gordurosas também influenciam na absorção dos fármacos no trato gastrointestinal", destaca Palhano.
Tomar dois ou mais medicamentos ao mesmo tempo também pode prejudicar a eficácia do tratamento. "Alguns remédios, quando usados juntos, competem entre si e podem anular o efeito um do outro ou até causar reações adversas", complementa o especialista.
Quando a mente entra em cena
Armazenar bem os medicamentos é essencial para impedir que eles percam a eficácia
O estado emocional e até as crenças pessoais influenciam a forma como o corpo responde ao tratamento. Rogério Hoefler lembra que o chamado "efeito placebo" é real e tem um papel importante em casos como doenças neurológicas, dor crônica e transtornos psiquiátricos.
Mesmo quando a prescrição está correta e bem ajustada ao diagnóstico, a resposta pode ser afetada por aspectos como perfil genético, hábitos, idade, peso, outras doenças e uso simultâneo de medicamentos.
"Por isso, a individualização do tratamento e o acompanhamento constante são essenciais para garantir uma farmacoterapia segura e eficaz", conclui Hoefler.
.................................
O GLOBO
'Confiei na ciência e na fé': a vida de quem participa de estudos para novos medicamentos
Com mudança recente em legislação, Brasil deve receber mais pesquisas do tipo nos próximos anos
Em 2023, quando tinha 47 anos, o administrador Celso Galvão foi pego de surpresa ao receber o diagnóstico de um câncer de próstata com metástase óssea. Sem histórico familiar da doença ou qualquer sintoma aparente, ele mal pode acreditar quando soube que as razões para as idas constantes ao banheiro, notadas pelos amigos com quem costuma tomar mate gelado todo sábado pela manhã, tinham esse motivo.O oncologista que já havia tratado a mãe de Celso, por sua vez, lhe contou que dali a poucos meses o estudo de um novo medicamento para a doença seria realizado e que para entrar no protocolo da droga experimental (e inovadora) ele teria de aguardar alguns meses sem outro tratamento. O que foi avaliado e aceito por Celso.
- Fiquei nove meses esperando, monitorando. Confiei muito no meu médico e ele em mim. Dois anos depois do diagnóstico, a doença estabilizou e teve uma redução na metástase - contabiliza o baiano de Jequié. - Confiei na ciência e confiei na fé.
Celso é representante do grupo de voluntários brasileiros que aceitam tomar medicamentos experimentais em busca de novas soluções para doenças difíceis de tratar. Assim como foi o caso de Preta Gil (1974-2025) que buscou, nos EUA, uma droga experimental para tratar um câncer colorretal em estágio de metástase. Outros topam entrar em pesquisa exclusivamente por um compromisso com a ciência para prestar um "serviço" à sociedade.
A vontade de colaborar com os pesquisadores, por exemplo, foi o que fez Augusto Codo de Sousa, de 18 anos, topar fazer parte de um estudo clínico para o desenvolvimento de uma vacina para chikungunya, no Brasil - o imunizante tornou-se o primeiro medicamento do tipo para combater a doença no país, aprovado em novembro do ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A decisão de Augusto de colocar seu corpo (e saúde) à disposição da ciência teve influência de berço.
- Por eu ter bastante contato com a área da saúde, meu padrinho é médico anestesista, minha mãe é biomédica, meu irmão farmacêutico, eu sempre vi esse mundo da medicina com outros olhos - explica. - No começo, meus colegas de escola acharam estranho eu estar fazendo parte de um estudo. Diziam: que loucura! Mas quiseram saber mais. Aos poucos, foram me dando apoio para seguir. Se a gente não confiar na ciência, quem vai?
Apenas em 2024, ao menos 315 pedidos de novos estudos clínicos (como são chamados os testes para medicamentos experimentais) do tipo foram realizados junto à Anvisa. O número de participantes no país no momento é difícil de determinar, mas é possível que passe dos milhares. A maior parte deles, seguindo uma tendência global, busca novas alternativas para tratar neoplasias, os tumores, em casos de câncer.Para entrar num estudo, em geral, o paciente é convidado por um médico que conheça o protocolo ou, mais raramente, é avisado da pesquisa por grupos de pessoas que tenham a mesma doença e se organizam em buscas de direito a tratamentos. A jornada de um voluntário é cercada de exames de monitoramento, além de necessitar de atenção extrema aos sinais do próprio corpo, como forma de buscar eventuais efeitos adversos que possam comprometer o uso do fármaco.
- Um paciente em tratamento, regularmente visita o médico a cada seis meses, ou um ano. No caso dos voluntários em pesquisa clínica, esse prazo se reduz para três meses ou até menos - diz Augusto Mota, oncologista do Instituto Ética, especializado em pesquisas do tipo, em Salvador (BA). - Antes de tudo isso o participante assina um termo de consentimento escrito em linguagem leigas, em que ele possa compreender todos os detalhes. Inclusive os eventuais riscos.
A artista plástica Rita Cerqueira, de 53 anos, por exemplo, fazia exames de sangue quinzenais para avaliar um novo protocolo de quimioterapia que iniciou - em pesquisa clínica - há dois anos. Sua necessidade era tratar uma leucemia mieloide aguda que não reagiu bem aos tratamentos já disponíveis. No meio do caminho, passou por um transplante de medula, tendo o próprio filho como doador, e depois voltou ao protocolo do medicamento, como segurança do controle da doença.
- O medicamento me preparou para o transplante. Depois disso, segui fazendo os ciclos da quimio para me dar suporte no tratamento da remissão. O medicamento foi extremamente importante para mim, espero que também possa ser para outras pessoas - analisa Rita.
No Brasil, vale dizer, todos que participam de estudos do tipo são voluntários. Ou seja, não recebem pagamento pela participação. Nos Estados Unidos, por outro lado, essa participação como paciente pode ser remunerada. O FDA (comparável à Anvisa nos EUA) explica em seu mais recente parecer sobre o tema que o tal pagamento deve ocorrer como um "incentivo" ao recrutamento de pacientes e não deve ser considerado um "benefício" que pese positivamente na decisão de entrar na pesquisa. Aqui, porém, o raciocínio sobre o tema é outro.
- Se você abre a possibilidade de ter uma participação remunerada permanente você abre o risco de ter uma profissionalização de risco, e seria bastante desumano se aproveitar de uma situação de vulnerabilidade econômica para uma situação como essa - explica Jorge Venâncio ex-coordenador da Conep, a instância máxima de ética em protocolo de pesquisa em humanos no Brasil.
Mudanças à vista A pesquisa clínica no Brasil, porém, deve passar por mudanças nos próximos anos. Isso porque em 2024 foi sancionada uma lei que define a forma que esse tipo de análise deve ser feita no país. A legislação acelerou prazos, reduziu o período que desenvolvedores são obrigados a fornecer o medicamento ao voluntário após o fim do estudo, e também mudou os critérios da aprovação ética. Um ponto específico que levanta polêmica entre especialistas.
Ainda antes de ser regulamentada, a mudança encontra um setor farmacêutico já interessado em investir no Brasil. A Sanofi, por exemplo, diz que investiu R$ 100 milhões em pesquisas realizadas no país em 2024.
- Em 25 anos de carreira nunca vi tanto crescimento nessa velocidade. É uma confiança no Brasil, é um local em que há diversidade (de população), volume de pessoas - aponta Viviane Rezende, líder de estudos clínicos da farmacêutica no Brasil.
Na Novartis, o investimento em pesquisa também repete a cifra de R$ 100 milhões investidos no Brasil em 2024. Entre as doenças estudadas, explica o diretor de pesquisa clínica André Sanches, estão males "tropicais negligenciados" como como dengue, malária, hanseníase e doença de Chagas, entre outras áreas estratégicas como as terapias gênica e celular.
Eli Lakryc, vice-presidente da Área Médica da divisão Farmacêutica da Bayer no Brasil e na América Latina explica que o interesse no Brasil, em geral, está conectado a uma série de fatores. A diversidade populacional, por exemplo, é um desses pilares.
- Quando se faz uma pesquisa clínica, é possível abordar pessoas diferentes, brancas, negras, amarelas e o Brasil tem tudo isso. Estamos todos juntos - diz o executivo. - Temos centros de investigação maravilhosos e há outros se capacitando. O Brasil, além disso, não é muito custoso para fazer pesquisa clínica.
Não basta, contudo, esperar que apenas a movimentação das farmacêuticas deem conta de colocar o país no mapa dos países que mais realizam estudos clínicos. Para movimentar essa área com intensidade é preciso, diz a conselheira sênior da Fundação Gates e pesquisadora sênior do International Vaccine Institute (IVI), Sue Ann Costa Clemens, investir num sistema robusto de desenvolvimento de fármacos, que vá da bancada dos pesquisadores ao mercado global.
- O Brasil tem muitos aspectos positivos. Só que a gente também tem desafios, ou seja, melhorias a fazer. Dentre elas, é importante ter centros de excelência que saibam desenvolver protocolos, pensando em gerar evidências, dados, para um dossiê regulatório, e não só aquela pesquisa acadêmica, que é a maior parte do que a gente tem - diz a pesquisadora que foi fundamental para a realização da pesquisa da vacina de Oxford, contra a Covid-19 no Brasil. - A chave são os desenvolvimentos de ponta a ponta globalizados. Se a gente estiver, por exemplo, dentro de um consórcio internacional, o produto desenvolvido terá, imediatamente, um acesso globalizado - afirma Sue Ann.
Por enquanto, mecanismos já em vigor permitem que pacientes acessem novas drogas, ainda que experimentais. Regina Furuta, de 49 anos, tem uma doença rara chamada HPN (sigla de Hemoglobinúria Paroxística Noturna), cujos desdobramentos incluem quadros de trombose, dores e fraqueza. No caso de Regina, a autorização para o uso do medicamento se deu de maneira diferente, por meio de um mecanismo de "acesso expandido", previsto pela Anvisa, cujo uso é destinado a pacientes que tenham doenças debilitantes e graves, para as quais não exista outra alternativa farmacêutica , entre outros detalhes.
Neste sentido, o uso do medicamento experimental é autorizado pela agência e deve ser acompanhado pelo médico especialista, em caso de efeitos adversos, além de também ocorrer coleta de dados por parte do desenvolvedor do fármaco. O material, embora coletado com rigor, não pode ser incluído no protocolo de aprovação da droga. Regina, mesmo fora da pesquisa, vê sua atitude de receber um remédio antes da aprovação final como um serviço à comunidade.- Depois de oito anos de tratamento com outro medicamento, soube que haveria uma nova medicação oral no Brasil. Quis tentar. Eu sou uma só, mas fiz pensando num todo, inclusive (no impacto) para os pacientes que podem entrar em contato com essa doença no futuro- defende.
.................................
MEDICINA S/A
Transformação digital e os desafios da saúde privada
A saúde suplementar brasileira atravessa um momento decisivo. De um lado, há uma pressão crescente provocada pela elevação dos custos assistenciais, aumento da sinistralidade, judicialização de procedimentos e fraudes no sistema. De outro, uma população cada vez mais exigente cobra qualidade no atendimento, agilidade nos processos e um cuidado mais humano e personalizado. Nesse cenário, a tecnologia se consolida como peça-chave para enfrentar esses desafios e transformar o setor.
A sinistralidade tem sido um dos maiores pontos de atenção para as operadoras. Em muitos casos, ela ultrapassa os 85%, comprometendo a sustentabilidade dos planos e exigindo reajustes que penalizam os beneficiários e os contratantes. A judicialização, por sua vez, impõe decisões que muitas vezes desconsideram diretrizes clínicas ou viabilidade econômica, distorcendo o modelo de cuidado e ampliando a insegurança jurídica. Soma-se a isso a incidência de fraudes e desperdícios — práticas que drenam recursos e reduzem a eficiência do sistema.
Paralelamente, cresce a demanda por uma experiência mais fluida e satisfatória. O beneficiário quer ter acesso fácil à rede, entender sua cobertura, consultar um médico sem burocracia e acompanhar seu tratamento de forma integrada. Ou seja, ele deseja um plano de saúde que, de fato, cuide da sua saúde e não apenas que reembolse despesas médicas.
É nesse ponto que a tecnologia se apresenta como uma aliada indispensável. Ferramentas de big data e analytics já são capazes de identificar padrões de comportamento, antecipar riscos e orientar intervenções mais eficazes. A inteligência artificial vem ganhando espaço em áreas como autorização automatizada de procedimentos, apoio à decisão clínica e personalização de planos de cuidado, com ganhos expressivos em agilidade e precisão. A Internet das Coisas (IoT), aplicada à saúde, permite o monitoramento remoto de pacientes crônicos por meio de dispositivos vestíveis, reforçando o cuidado contínuo e ajudando a evitar complicações.
Outro pilar importante é a digitalização do prontuário médico e sua integração entre diferentes elos do sistema. A interoperabilidade das informações é essencial para que hospitais, laboratórios, clínicas e operadoras possam compartilhar dados de forma segura, eficiente e em tempo real, algo fundamental para uma assistência verdadeiramente centrada no paciente. Nesse mesmo sentido, a telemedicina se consolidou como um canal estratégico de cuidado, especialmente quando integrada a modelos híbridos de atenção que combinam tecnologia e presença física, sempre com foco na resolutividade.
Todos esses avanços só fazem sentido se resultarem em um sistema mais sustentável e orientado à saúde, não à doença. E isso só será possível com investimentos consistentes em inovação, governança de dados e uma cultura organizacional aberta à transformação digital.
*Paulo Bittencourt é CEO do Plano Brasil Saúde.
..........................
Assessoria de Comunicação