CLIPPING AHPACEG 01|07|25
ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Evento do CFM debate o impacto da espiritualidade na saúde do paciente
https://news.conect.company/news-1751308226499-14093/
Médico influenciador Gabriel Almeida recebe punição do Cremeb por quebra do Código de Ética Médica
59% das UBSs no Brasil operam com apenas um médico
Mabel anuncia retomada de cirurgias cardíacas infantis pelo SUS em Goiânia
Paciente é presa suspeita de chamar enfermeira de ‘macaca’ e ‘preta velha’, diz secretaria
Se há diagnóstico, por que ainda estamos internando as pessoas?
https://medicinasa.com.br/doenca-diagnosticada-internacao/
Observabilidade: uma forte aliada à segurança da nuvem hospitalar
https://medicinasa.com.br/nuvem-hospitalar/
Cibersegurança com IA: invasões bárbaras na Saúde
https://www.saudebusiness.com/colunistas/ciberseguranca-com-ia-invasoes-barbaras-na-saude/
PORTAL CFM
Evento do CFM debate o impacto da espiritualidade na saúde do paciente
A religiosidade e a espiritualidade podem afetar as condições de saúde e de adoecimento dos pacientes? Este foi o grande debate realizado na mesa redonda “Medicina e Espiritualidade em Foco”, que debateu dois temas: “Conceito e evidências o impacto da espiritualidade em saúde”, apresentado pelo cardiologista Álvaro Avezum Junior, e “Espiritualidade na prática clínica: evidências e diretrizes”, debatido pelo psiquiatra Alexander Moreira de Almeida.
O evento já está disponível na página do CFM no YouTube. Acesse AQUI.
Em sua fala, o cardiologista Álvaro Avezum apresentou vários estudos que comprovam como a espiritualidade pode melhorar a saúde de cardiopatas. Um desses estudos, avaliou 12 fatores relacionados ao infarto e ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo que dois, o estresse e a depressão, estão relacionados à espiritualidade.
“Essa pesquisa mostrou que esses dois fatores são responsáveis por 32% dos infartos no mundo. Sendo que no Brasil este percentual é de 44%. Ou seja, além de marcadores como genética e hábitos saudáveis, questões relacionadas à espiritualidade podem contribuir, e muito, para a prevenção de cardiopatias”, argumentou. Outro estudo, com enfermeiros americanos, mostrou que a religiosidade estava relacionada a redução de 30% da mortalidade desses profissionais. Acesse a apresentação cfm.org.br/wp-content/uploads/2025/06/Saude_espiritualidade_Dr.-Alvaro-Avezum-Junior.pdf”>AQUI.
Álvaro Avezum também ressaltou a necessidade da construção de evidências científicas sobre o papel da espiritualidade nos processos de cura. Para que esse conhecimento seja construído, ele propôs alguns passos, como a investigação, a confluência de saberes e a elaboração de hipóteses científicas. “A ciência pode elucidar a nossa prática clínica baseada na espiritualidade”, afirmou.
Ao falar sobre “Espiritualidade na prática clínica: evidências e diretrizes”, o psiquiatra Alexander Moreira de Almeida também elencou vários estudos sobre o impacto da espiritualidade na saúde das pessoas.
Um desses estudos, que acompanhou 90 mil americanos por 14 anos, mostrou que quem tinha alguma religiosidade teve uma mortalidade por suicídio seis vezes menor do que quem não tinha nenhum acompanhamento espiritual. Outro estudo, realizado com pacientes em hemodiálise, mostrou que pessoas com alguma religiosidade suportavam melhor o tratamento e eram mais felizes. Acesse a apresentação cfm.org.br/wp-content/uploads/2025/06/Saude_espiritualidade_Alexander-Moreira-de-Almeida.pdf”>AQUI.
O psiquiatra destacou que a espiritualidade não vai substituir o tratamento convencional “são abordagens integradas”. Também sugeriu que os médicos, ao realizarem a anamnese, façam a coleta histórica espiritual do paciente, procurando saber mais sobre a fé e a crença religiosa, a importância que o paciente dá ao apoio espiritual, se faz parte de comunidades de apoio e quais ações está disposto a empreender em busca da saúde. “Além disso, é preciso incentivar abordagens colaborativas e virtudes como o perdão e a generosidade”, afirmou.
Os dois palestrantes enfatizaram que a espiritualidade não deve ser confundida com religiosidade e que devem ser feitos mais estudos para corroborar o que muito médicos já vivenciam em suas práticas clínicas.
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BAHIA NOTÍCIAS
Médico influenciador Gabriel Almeida recebe punição do Cremeb por quebra do Código de Ética Médica
O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) aplicou sanção disciplinar de censura pública em publicação oficial ao médico Dr. Gabriel Almeida. A medida divulgada nesta segunda-feira (30) afirma que o influenciador infligiu quatro artigos do Código de Ética Médica. Acumulando mais de 500 mil seguidores, Gabriel Almeida é conhecido nas redes sociais por receitar Mounjaro como receita de emagrecimento.
Conforme o aviso do Cremeb, a penalidade foi comunicada em aviso oficial datado de 16 de junho de 2025, assinado pelo presidente do Conselho, Otávio Marambaia dos Santos.
Segundo o texto, a sanção foi decidida com base no Processo Ético-Profissional pelo Tribunal Superior de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina, que reconheceu infrações ao Código de Ética Médica.
A infração foi enquadrada nos seguintes artigos do Código de Ética Médica:
Artigo 11
Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos.
Artigo 21
Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte
Artigo 80
Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade.
Artigo 87
Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
Segundo o Código de Ética Médica, esse tipo de penalidade representa a segunda entre as cinco previstas, sendo mais grave que a advertência confidencial e menos grave que a suspensão do exercício profissional.
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O LIBERAL
59% das UBSs no Brasil operam com apenas um médico
Cerca de 59,4% (26,6 mil) das UBSs (unidades básicas de saúde) do Brasil operaram com apenas um médico em 2024, e 65,8% (29,5 mil) delas funcionaram com um enfermeiro, de acordo com o Censo Nacional das UBS, do Ministério da Saúde.
Do total de 44.938 unidades espalhadas pelo país, 1.724 delas não possuem nenhum médico, e 1.491 não têm enfermeiros.
A maioria dos postos que funcionam com um médico está concentrada na região Nordeste (13.702). O Sudeste concentra a maior parte das UBSs que contam com quatro ou mais médicos.
Procurado, o ministério afirmou que a pasta avançou na expansão do atendimento médico na atenção primária, “principalmente com a retomada do Mais Médicos, que chegou a 25 mil profissionais em atividade”, e que 60% dos médicos nas localidades de alta vulnerabilidade social são profissionais do programa.
Sobre o número de médicos por equipe de saúde da família, disse que grande parte das unidades está em regiões com perfil rural e baixa densidade populacional.
O censo foi feito com base em respostas das UBSs a um questionário composto de 141 questões, entre 3 de junho e 30 de setembro de 2024. Para a coleta de dados foi criada uma plataforma eletrônica disponibilizada no sistema público e-Gestor APS, para preenchimento online.
A atenção primária é o primeiro contato do paciente com o SUS (Sistema Único de Saúde). Ela compreende não só os atendimentos nas UBSs e nos hospitais, mas também a estratégia de saúde da família, as estratégias de prevenção e a educação em saúde.
A maioria das unidades conta com ao menos uma equipe de saúde da família, sendo mais frequente a presença de apenas uma equipe por unidade (30.041), o que explicaria a presença de um médico por UBS.
O relatório também destaca que, embora a maioria das UBSs funcione em prédios próprios, uma parcela expressiva das unidades necessita de reforma ou ampliação (60,4% precisam de reforma).
Além disso, apenas 21% das postos possuem sala para coleta de exames laboratoriais, 44,7% das UBSs não possuem geladeira exclusiva para conservação de vacinas e 61,6% não possuem câmara fria exclusiva.
O fortalecimento da atenção primária é apontado há muito por especialistas como uma maneira eficaz de melhorar a qualidade de vida da população. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), ela é capaz de atender de 80% a 90% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo de toda a sua vida —desde a assistência pré-natal, passando pela infância com o acompanhamento nutricional e a vacinação, até o acompanhamento das doenças crônicas não transmissíveis.
Cuide-se
Levantamentos anteriores já mostravam que a distribuição dos médicos é desigual no país, com a maior parte deles se concentrando nas capitais e cidades grandes e de médio porte.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, há uma conexão entre o Mais Médicos, o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde, e o esforço da gestão em acelerar o atendimento especializado no SUS , que é uma das principais preocupações da pasta.
Segundo Padilha, a atuação integrada desses profissionais, pelo prontuário eletrônico e os fluxos que vão reduzir o tempo de espera do paciente, facilitará o acesso à média e alta complexidade.
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A REDAÇÃO
Mabel anuncia retomada de cirurgias cardíacas infantis pelo SUS em Goiânia
Iniciativa vai atender 15 crianças por mês
O prefeito Sandro Mabel confirmou nesta segunda-feira (30/6) o retorno das cirurgias cardiopediátricas pelo SUS, em parceria com o Hospital da Criança. A iniciativa vai atender, inicialmente, 15 crianças por mês e tem como objetivo reduzir a fila de espera por procedimentos e consultas interrompidos desde 2023, priorizando casos de cardiopatias congênitas mais comuns: Tetralogia de Fallot, Comunicação Interatrial, Comunicação Interventricular e Defeito do Septo Atrioventricular.
O serviço havia sido interrompido em 2023, em razão da descontinuidade dos repasses financeiros pela gestão anterior, o que resultou na suspensão das cirurgias e no acúmulo de demanda reprimida. Atualmente, cerca de 180 crianças aguardam por consulta especializada em cardiopediatria na rede municipal. Durante o anúncio, Mabel destacou o compromisso da atual gestão com a reconstrução dos serviços de saúde e o cuidado integral à infância, por meio do Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), do Ministério da Saúde.
“Nós estamos trabalhando firmes para poder cumprir esses compromissos. Serão 15 procedimentos cirúrgicos ofertados mensalmente para crianças e adolescentes com cardiopatias congênitas. A parceria com o Hospital da Criança prevê ainda a realização de todas as consultas e exames do pré e pós-operatório na própria instituição, garantindo um acompanhamento completo e humanizado. Então, nós esperamos que, nesses próximos 12 meses, possamos dar vazão a essa fila, uma vez que ela estava parada há cerca de dois anos”, afirmou o prefeito.
O secretário municipal de Saúde, Luiz Pellizzer, também reforçou a importância da medida, especialmente em relação ao diagnóstico precoce e à agilidade no tratamento. “É uma fila que está parada desde 2023, e é bem possível que existam outras crianças que também precisam de um tratamento completo e digno. O diagnóstico precoce das cardiopatias e o acesso à intervenção cirúrgica no tempo correto aumentam de forma muito significativa as chances de sobrevivência e a qualidade de vida das crianças. Corrigir o problema no momento adequado evita complicações que podem comprometer o desenvolvimento físico e neurológico dos pequenos”, pontuou Pellizzer.
“Nós retomamos esse serviço dentro de um programa de valorização do Ministério da Saúde, juntamente com a gestão do município. Inicialmente, vamos oferecer essas 15 vagas, mas que podem aumentar futuramente, adequando fluxos e linhas de atendimento para que possamos abranger mais crianças”, destacou a diretora clínica do Hospital da Criança, Paula Pires de Souza. “Como presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Goiânia, eu tenho plena confiança que essa parceria da Prefeitura com o Hospital da Criança só vai fazer a saúde melhorar”, disse o vereador, Dr Gustavo Gomides.
Balanço da saúde
O prefeito Sandro Mabel fez, durante a coletiva de imprensa, um balanço do primeiro semestre na área da saúde, destacando ainda os principais desafios para o ano de 2025. “Nós reforçamos o estoque de medicamentos em todas as nossas unidades de saúde e estamos partindo para os postos de saúde, que também estão recebendo insumos, medicamentos, reforço nas equipes de trabalho, cumprindo escalas de médico, mantendo-as em dia. Estamos, ainda, com serviço pediátrico em 13 unidades de saúde funcionando 24h, 7 dias por semana”, destacou Mabel.
Preocupado com a cobertura vacinal, o prefeito reforçou que 80 salas de vacinas estão funcionando. “Nós estamos ampliando a cobertura vacinal, pois nós precisamos proteger a nossa população. Hoje, abrangemos a vacinação nas escolas municipais e também nas unidades estaduais. Quando você se vacina hoje, você evita a doença no futuro. Então, nós temos trabalhado muito para evitar que a síndrome respiratória aguda piore. Nós somos uma rede só. Volto a pedir que as pessoas se vacinem. Procurem nossas salas de vacinas para se protegerem. Não custa nada, é de graça”, reforçou. Para se vacinar, a população pode acessar a lista de salas de vacina e os horários de funcionamento no site da Prefeitura de Goiânia, por meio do link https://saude.goiania.go.gov.br/_servicos/vacinas/salas-de-vacina-em-goiania-2/
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PORTAL G1
Paciente é presa suspeita de chamar enfermeira de ‘macaca’ e ‘preta velha’, diz secretaria
Segundo a Secretaria de Saúde de Itaberaí, a Polícia Militar foi acionada e a paciente foi conduzida e presa em flagrante. Em nota, a secretaria destacou que repudia a agressão.
Uma enfermeira de Itaberaí, região noroeste de Goiás, denunciou que foi vítima de injúria racial por uma paciente. Em entrevista à TV Anhanguera, a servidora, que não quis se identificar, contou que foi xingada com palavrões e termos racistas após a suspeita pedir um encaixe alegando que estaria grávida (veja acima).
O g1 entrou em contato com a defesa da suspeita, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Itaberaí destacou que repudia quaisquer atos de agressão, violência, desacato e, especialmente, de injúria ou de discriminação racial (leia a nota completa ao final do texto).
O caso aconteceu na quarta-feira (25). A enfermeira também explicou que o problema da paciente, relacionado ao olho dela, não era grave a ponto de precisar de um encaixe. Mesmo assim, ela pediu uma comprovação da gravidez para iniciar o procedimento, quando a suspeita começou a agir de forma rude.
"Ela foi bem ríspida comigo e falou que só ia entregar os documentos para a médica, que não queria mais passar comigo e eu falei: 'Moça, mas é protocolo, se tem encaixe, precisa passar comigo'", afirmou.
A enfermeira declarou que conversou com a médica e conseguiu abrir uma exceção para que a paciente fosse atendida. Mesmo assim, a SMS de Itaberaí afirmou que a mulher agrediu verbalmente a servidora com as injúrias, chamando ela de "preta", "macaca" e "fedida".
Ainda de acordo com a gestão, a Polícia Militar foi então acionada e a paciente foi conduzida para a delegacia e presa em flagrante por injúria racial. Além disso, segundo a Polícia Civil, na delegacia também ficou comprovado que a suspeita não estava grávida.
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A corporação informou que a mulher foi solta após passar pela audiência de custódia.
Nota da Secretaria Municipal de Saúde de Itaberaí
"Ontem, uma servidora pública municipal foi vítima de injúria racial, praticada por uma paciente na UBS – Unidade Básica de Saúde – José Nonato Vieira, do Fernanda Park.
A paciente na presença de inúmeras testemunhas agrediu, verbalmente, a servidora com palavras injuriosas, tais como: MACACA, PRETA e FEDIDA.
Durante o ocorrido a Vereadora Jozina Marques e seu marido, estiveram no local em defesa da paciente e, exaltados, acabaram desacatando alguns servidores.
Importante relatar que a paciente não tinha horário agendado e seu caso não se tratava de urgência ou emergência, como confirmado posteriormente no Hospital Municipal.
A Polícia Militar foi acionada e conduziu todos para a Delegacia de Polícia Civil, sendo instaurados alguns procedimentos:
1- A servidora pública vítima da injúria racial representou criminalmente a paciente;
2- A paciente foi presa em flagrante por injúria racial e conduzida ao Presídio Feminino de Inhumas-GO;
3- Outra servidora foi desacatada no exercício de sua função e representou criminalmente a Vereadora Jozina e seu marido;
4- Com relação à Vereadora Jozina e seu marido, fora instaurado um procedimento investigativo por suposta prática do crime de desacato;
A Secretaria Municipal de Saúde de Itaberaí, bem como toda a equipe da UBS – Fernanda Park reforçam o compromisso com a excelência no atendimento aos pacientes, bem como repudia quaisquer atos de agressão, de violência, de desacato, e, especialmente, de injúria ou de discriminação racial.
Por fim, informamos que a UBS do Fernanda Park está em pleno funcionamento e os atendimentos estão acontecendo normalmente, como já acontecia. E, apesar de todo o tumulto, a respeitável equipe continua prestando os serviços com carinho, respeito, dedicação e o acolhimento de sempre."
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MEDICINA S/A
Se há diagnóstico, por que ainda estamos internando as pessoas?
Essa pergunta me fez refletir quando vi os números do último levantamento da Umane – associação civil sem fins lucrativos que administra um fundo patrimonial e se dedica a apoiar, desenvolver e acelerar iniciativas de prevenção de doenças e promoção de saúde – no âmbito da saúde pública. Em 2024, mais de 1,6 milhão de brasileiros foram internados por condições que poderiam ter sido evitadas. Isso significa que, a cada três minutos, uma pessoa dá entrada no SUS por uma falha previsível. Hipertensão, diabetes, infecções respiratórias, doenças crônicas ou outras, que com um acompanhamento minimamente eficiente, não deveriam ter chegado a esse ponto.
O que vejo é um sistema ainda muito reativo, que só age quando o quadro já está instalado. Se uma doença já foi diagnosticada, mas ainda assim evolui para uma internação, isso evidencia uma falha estrutural grave na continuidade do cuidado. Faltou coordenação. Faltou acompanhamento.
E o problema não está apenas na falta de recursos. A desorganização dos fluxos é crítica. Médicos estão sobrecarregados com tarefas administrativas, lidando com sistemas que não conversam. O paciente fica perdido nesse labirinto. Não há uma linha de cuidado clara e isso compromete diretamente tanto a qualidade quanto o custo da assistência.
Além da sobrecarga e da fragmentação, a pesquisa aponta para a subutilização de tecnologias que já estão disponíveis. Ferramentas que poderiam ajudar na triagem, no acompanhamento e no engajamento dos pacientes estão sendo pouco exploradas ou mal integradas.
A questão hoje não é mais se devemos usar tecnologia. A pergunta certa é: como podemos usar essas ferramentas de forma inteligente, coordenada e centrada na realidade do paciente? Temos um volume imenso de dados clínicos sendo desperdiçados por falta de estrutura para organizá-los e interpretá-los com eficiência.
Segundo o estudo, 53% das internações evitáveis aconteceram por falhas na linha de cuidado após a identificação do risco. A ausência de protocolos, a escassez de equipes multidisciplinares e o difícil acesso à atenção primária formam os principais gargalos. E tudo isso aponta para um sistema que ainda opera no improviso.
Não se trata apenas de adotar tecnologia por adotar. O que precisamos é de um novo modelo assistencial: centrado no paciente, com acompanhamento contínuo, capacidade preditiva e coordenação real. Só assim conseguiremos prevenir problemas, reduzir internações desnecessárias e promover saúde de forma mais eficiente e humana.
A atenção primária precisa ser fortalecida com ação conjunta entre União, estados e municípios. Regionalização, integração de dados e digitalização não são mais tendências, são obrigações. O Ministério da Saúde já sinalizou que irá anunciar, ainda em maio, um pacote de iniciativas voltado à reformulação do programa “Mais Acesso a Especialistas”. É um passo, mas ainda temos um caminho longo.
Enquanto isso, seguimos enfrentando um sistema que, além de falho, custa caro, em vidas, em sofrimento e em recursos. Precisamos, com urgência, virar essa chave.
*Maurício Honorato é CEO do Doutor-AI.
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Observabilidade: uma forte aliada à segurança da nuvem hospitalar
A tecnologia está cada vez mais presente em instituições de saúde. Felizmente, isso já é uma realidade. E, garantir a segurança dos dados armazenados em sua maioria na nuvem (devido ao seu custo mais baixo em comparação à estrutura on-premise), é um dos principais desafios dos profissionais de TI que atuam nesses ambientes.
Muito se fala sobre a criação de barreiras contra cibercriminosos através de investimento em segurança, treinamento de colaboradores, entre outros.
É diante de um cenário cada vez mais orientado por sistemas distribuídos e aplicações em nuvem, que a observabilidade se tornou um pilar essencial no monitoramento moderno de software.
Afinal, mais do que simplesmente coletar métricas ou logs, a observabilidade envolve a capacidade de entender o estado interno de um sistema de gestão em saúde a partir de suas saídas externas. Isso permite que as equipes de TI identifiquem, analisem e resolvam problemas de forma proativa e eficiente (sem que o usuário final perceba) – o que contribui diretamente tanto para a proteção dos dados do paciente como para a continuidade de negócios.
Utilizar-se da observabilidade no setor de TI hospitalar apoia, também, no fornecimento de uma visão mais clara e contínua – o que possibilita a detecção de anomalias, gargalos de performance e falhas antes que o usuário final seja impactado. Esse conhecimento em tempo real torna as decisões técnicas mais precisas e rápidas, reduzindo o tempo de resposta e de recuperação em incidentes.
Além disso, por ajudar a identificar falhas e possíveis invasões com antecedência, a observabilidade é uma grande aliada no combate ao ransomware — um tipo de programa malicioso que bloqueia o acesso a dados importantes e exige pagamento para liberá-los. Esse tipo de ameaça é um dos mais usados para roubar informações na área da saúde. Segundo uma pesquisa da Kaspersky, os ataques desse tipo cresceram 146% em 2024, só no setor de saúde.
Os resultados dessas invasões podem causar danos irreversíveis. Entre eles, destaca-se o risco à vida do paciente, já que a indisponibilidade de sistemas e a interrupção na troca de informações podem impedir atendimentos essenciais. Além disso, o vazamento de dados sensíveis compromete a privacidade do paciente e expõe a instituição de saúde a sérios prejuízos financeiros e reputacionais.
Assim, é possível concluir que, através da implantação eficaz da observabilidade nos cuidados com a nuvem, as instituições de saúde serão contempladas com sistemas mais robustos. Além disso, haverá uma maior entrega de valor e, por fim, mais agilidade diante das mudanças de mercado.
*Saulo Lima é Diretor da Flowti.
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SAUDE BUSINESS
Cibersegurança com IA: invasões bárbaras na Saúde
Roma, em 410 d.C., foi surpreendida por Alarico I, rei dos Visigodos, comandando cerca de 40 mil guerreiros bárbaros. Após anos de negociações malsucedidas e avisos perdidos na arrogância romana, Alarico sitiou Roma e, na noite de 24 de agosto de 410, seus homens abriram o Portão Salariano — com ajuda de escravos godos dentro das muralhas — e entraram sem resistência organizada. Foi uma das maiores pilhagens da história, com Alarico tomando 1,6 toneladas de ouro, 9,8 toneladas de prata, seda, púrpura, pimenta e tudo o mais que pudesse ser carregado. As Basílicas de São Pedro e São Paulo foram usadas como refúgio romano, evitando um massacre generalizado. Houve incêndios e saques, embora as principais estruturas públicas ficassem intactas. O choque não foi só físico, mas simbólico. Era a primeira queda da “Urbs” em quase 800 anos. São Jerônimo lamentou: “A cidade que tomara o mundo foi tomada”. O saque detonou uma crise de confiança no poder romano, estimulou visões apocalípticas e é lembrado como o estopim do desmantelamento do Império Romano.
Ultimamente, muitos se esforçam em aterrorizar seus pares com a ideia de que a invasão das inteligências artificiais (IAs) seja algo similar ao estrago de Alarico. É cedo para tanto terror e tarde para desconsiderar o impacto das IAs na civilização contemporânea. Mas há um alerta notável que pode ser considerado parecido com o saque a Roma: as IAs estão municiando e habilitando as gangues cibernéticas como nunca foi feito antes. Estamos diante da maior batalha de segurança cibernética deste século, notadamente dentro das Cadeias de Saúde. O que vem pela frente é imponderável. Não estamos mais falando só de prejuízos econômicos ou estruturais, mas de vidas humanas. Sim, a ‘insegurança cibernética’ está matando pessoas nas alas e nos leitos hospitalares.
A expressão “paciente com morte por ataque cibernético” está se tornando realidade em vários hospitais do mundo. O Health Service Journal (HSJ), por exemplo, uma publicação que cobre o NHS (Reino Unido), anunciou que um ataque cibernético de ransomware aos laboratórios Synnovis (principal fornecedora de exames diagnósticos do NHS na região de Londres), ocorrido em 3 de junho de 2024, teria causado quase “600 incidentes com pacientes”. O ataque interrompeu os serviços em cinco grandes hospitais durante meses, incluindo o hospital universitário King’s College, os hospitais Guy’s e St. Thomas, o Evelina London Children’s Hospital e o Royal Brompton, todos severamente afetados.
Reivindicado poucos dias depois pela gangue de ransomware Qilin, os hospitais foram imediatamente forçados a encaminhar seus pacientes para outras instalações e cancelar mais de 10 mil consultas, procedimentos eletivos e operações cirúrgicas, incluindo todos os transplantes. Dos incidentes, perto de 170 casos referem-se a pacientes, incluindo um caso com dano “grave”, 14 casos com dano “moderado”, sendo os incidentes restantes considerados de baixo dano. Além disso, como resultado do ataque, 2 pacientes teriam sofrido danos “permanentes” à saúde, informou a Bloomberg em janeiro último. Ransomware é um tipo de malware, também conhecido como software malicioso, que criptografa os arquivos da vítima e exige resgate para descriptografá-los. Uma operação que já exigiu grande expertise, mas que hoje, com os LLMs, é mais fácil e menos arriscado que “bater uma carteira”.
A Synnovis administra mais de 100 laboratórios especializados em Londres, oferecendo testes e diagnósticos de diabetes, genética, neuropatia, imunologia, oncologia, etc. O pedido de resgate à Synnovis teria sido de US$ 50 milhões. O grupo Qilin é considerado uma das cinco maiores gangues ativas (total de 376 vítimas ao ano), de acordo com a ferramenta de rastreamento Cybernews Ransomlooker. O mesmo grupo atacou em fevereiro de 2025 a Utsunomiya Central Clinic (UCC), o prestigiado centro de tratamento oncológico do Japão, expondo informações confidenciais de 300 mil pacientes e deixando seu sistema hospitalar “inutilizável” (um único registro médico pode valer até 20 vezes o preço dos dados de um cartão de crédito).
Assim, o descuido no combate ao cibercrime na Saúde mata pacientes, e ponto final. O CEO da Synnovis, Mark Dollar, disse em um comunicado em 26/06/2025: “Estamos profundamente tristes em saber que o ataque cibernético criminoso do ano passado foi identificado como um dos fatores que contribuíram para a morte de um paciente”. O Dr. Saif Abed, especialista em segurança cibernética na saúde pública, explicou ao Financial Times: “Mais pacientes sofrem devido a violações de dados do que ficamos sabendo. Pela minha experiência e analisando ataques cibernéticos à saúde no Reino Unido e no mundo, é quase certo que houve mais mortes ao longo dos anos, que não foram descobertas simplesmente devido à falta de investigações oficiais”. Os ciberataques atrasam tratamentos e testes, aumentam o tempo de espera, sem falar na necessidade de locomover os pacientes quando os ataques causam o fechamento das instalações. Da mesma forma, afetam as cadeias de suprimentos médicos, dificultando o funcionamento operacional.
Não faltam dados relatando essa invasão bárbara. O relatório “2025 Spotlight Report: Cyber Resilience and Business Impact in Healthcare”, publicado pela provedora de segurança cibernética LevelBlue, mostrou que 32% das instituições de saúde sofreram pelo menos uma violação grave de segurança nos últimos 12 meses. Além disso, 46% dos entrevistados (CISO) relataram ter sofrido um volume significativamente maior de ataques cibernéticos em comparação com anos anteriores. A pesquisa “Global Incident Response Report 2025”, publicada pela Unit 42, mostra que a velocidade dos ataques cibernéticos está aumentando dramaticamente, com os invasores roubando dados três vezes mais rápido do que em 2021. Especificamente na área hospitalar, a crescente digitalização fez crescer a vulnerabilidade. Até 2026, mais de 70% dos dispositivos médicos – de ultrassom a wearables – estarão conectados digitalmente, aumentando significativamente a “superfície de ataque”. Outro relatório, “State of OT Security”, publicado pela Palo Alto Networks (a maior provedora pura de cibersegurança do mundo), mostra que a recuperação de uma única violação em um dispositivo médico custa, em média, entre 10 e 50 mil libras esterlinas (entre 75 e 376 mil reais). O phishing (ataque cibernético onde criminosos se passam por entidades confiáveis, como bancos, empresas ou instituições) continua sendo o principal ponto de entrada na saúde. Quando realizado por Agentes-IA, o phishing tem desempenho 55% maior do que o realizado por humanos.Isso significa que plataformas GenAI podem criar campanhas de phishing gerando e-mails, mensagens SMS e postagens em redes sociais livres de erros gramaticais ou frases estranhas (que antes serviam como sinais de alerta).
Nunca os sistemas de saúde estiveram tão vulneráveis. Parte dessa fragilidade sistêmica deve-se à ampliação do uso das GenAIs. Os LLMs intensificaram os vetores de ataque, tornando as gangues de hackers mais ágeis do que nunca. O relatório “International AI Safety Report 2025” — coordenado por Yoshua Bengio (professor da Universidade de Montreal) e elaborado por 98 especialistas de 30 países (ONU, UE e OCDE) — examina os riscos maliciosos da IA, que vão de ataques letais à manipulação da opinião pública. O documento escancara o avanço dos bárbaros digitais: “há só quatro meses, um modelo de IA identificava cercade 1/5 das vulnerabilidades no código-alvo; após sucessivos ganhos dos LLMs, esse índice saltou de 21% para 79%. Ou seja, o hacker que antes vasculhava ‘na unha’ perto de 80% do terreno vulnerável conta agora com uma IA que descobre sozinha praticamente 4/5 das vulnerabilidades, quadruplicando a eficiência de uma invasão”.
A expressão “Cyber Offence” — ou Offensive-AI — aparece várias vezes no relatório, sinalizando que a IA já impacta pelo menos dois pilares centrais do setor de saúde: (1) biossegurança; e (2) privacidade de dados médicos. A Biossegurança passou a ser prioridade n.º 1, segundo o documento. Se a curva de capacidade dos LLMs continuar crescendo, serão necessárias intervenções regulatórias urgentes antes de 2027, principalmente para IAs que manipulem sequências biológicas (Seção 2.1.4). Do mesmo modo que os LLMs já mapeiam milhões de proteínas e aceleram a criação de insumos biofarmacêuticos, os mesmos modelos podem ser cooptados para delinear — passo a passo — a síntese de patógenos e toxinas de alto potencial destrutivo, encurtando a distância entre a curiosidade científica e a liberação de armas biológicas.
No tocante ao pilar 2 (privacidade de dados clínicos), o relatório adverte que a balança só pende para os atacantes em dois cenários: (1) quando a IA automatiza etapas críticas de ataque ainda sem defesas equivalentes; e (2) quando as capacidades de ponta estão acessíveis aos ofensores, mas não aos defensores — um caso frequente em hospitais e serviços de saúde com redes legadas e orçamentos limitados. Nessas condições, modelos generativos maliciosos conseguem vasculhar sistemas heterogêneos, localizar brechas e até sequestrar prontuários com um esforço muito menor do que o necessário para que equipes de segurança corrijam cada vulnerabilidade.
Contudo, o próprio documento enfatiza que os mesmos modelos LLMs podem — e devem — ser alistados ao lado dos defensores (“Defensive-AI”). Ele menciona, por exemplo, o uso de modelos para detecção de vulnerabilidades em chips, auditoria de código e depuração automática, indicando que, se bem implementada, a automação defensiva pode inverter a assimetria e blindar instituições contra ransomware, phishing e outros vetores de ataque. Ou seja, a IA que descobre falhas para o hacker atacar é a mesma que pode tapá-las para o hospital.
Vale lembrar que, na Saúde, o maior responsável pela segurança cibernética da instituição é o CEO da empresa. Costuma-se dizer que o grande atrativo para o cibercrime é a chamada “Dívida Técnica” (Technical Debt), quando sistemas de informação ficam desatualizados, carecendo de substituição ou upgrade. A instituição incorre em dívida técnica quando atrasa a manutenção necessária ou adia a substituição do sistema legado. Não tenha a ilusão que ninguém “espia” suas vulnerabilidades, ou que não investigam suas fraquezas. Sua dívida técnica é monitorada na exata proporção em que ela cresce. O setor de Saúde é historicamente retrógrado na dívida técnica, seus investimentos costumam acontecer só depois que a criminalidade cibernética acontece. Se o CEO fraquejar na dívida técnica, tudo fica mais fácil para as gangues. Estudo publicado em 2025 e realizado pela Netwrix apontou que apenas ‘um único ataque cibernético’ gerou prejuízo financeiro para “69% das organizações do setor de saúde, em comparação com 60% em outras indústrias”. Os dados apontam ainda que uma em cada cinco organizações de Saúde, que sofreram um ataque, tiveram mudanças na liderança sênior (21%) ou ações judiciais (19%). Nos outros setores analisados, essas duas marcas ficaram na faixa de 13%.
Nos últimos dois anos, é notória a tentação de entrar no universo das IAs sem cuidar da ‘dívida técnica acumulada’. Em 2023, o Escritório de Direitos Civis (OCR) relatou um aumento de 239% nas violações de segurança na área da saúde entre 2018 e 2023. Só em 2024, 67% das organizações de saúde pesquisadas sofreram ataques de ransomware (fonte: Statista).
Quem puxa a dianteira da criminalidade cibernética na Saúde são os EUA. Em 2024, ataques de ransomware interromperam sistemas hospitalares em 46 estados. Alguns provedores perderam mais de US$ 100 milhões por dia devido ao congelamento de faturamento. Um dos maiores sistemas de saúde do país, Ascension (140 hospitais em pelo menos 10 estados), sofreu um ataque de ransomware em 8 de maio de 2024 que bloqueou todos os sistemas que rastreiam e coordenam o atendimento ao paciente. Sofreu interrupções tão graves que os pacientes foram redirecionados e realocados. A “morte por ataque cibernético” é uma realidade tangível em quase todos os países, mais ainda porque 80% dos casos não chegam à mídia ou não são devidamente comunicados e investigados, sem falar naqueles que são engavetados por medo de que a divulgação espalhe mais terror. Segundo a publicação Security Leaders, 84% das empresas de saúde no mundo identificaram incidentes cibernéticos em 2024 (em 70% dos casos, houve sérios prejuízos financeiros).
Há uma penca de guias para ajudar CIOs, CISOs e todos que introduzam IA na saúde de modo a blindar o sistema antes que o perigo bata à porta. O MITRE Atlas (Adversarial Threat Landscape for Artificial-Intelligence Systems) é uma base de conhecimento de táticas, técnicas e estudos de caso para sistemas de IA. É um recurso abrangente para entender e proteger sistemas de IA — um verdadeiro “repositório vivo” das táticas adversárias. Hospitais podem mapear seus próprios LLMs diagnósticos, por exemplo, identificando onde os ataques podem ser mais prováveis, testando tudo antes da validação clínica.
Outro recurso público para entender esses riscos é a ENISA (European Union Agency for Cybersecurity), centro pan-europeu que apoia hospitais e prestadores de cuidados de saúde com orientação, ferramentas, serviços e formação. A agência consolida boas práticas, exemplifica contratos de cibersegurança e mapeia a regulação na saúde. Além disso, vale lembrar o portal do HHS (Department of Health and Human Services) nos EUA, que mantém o HPH Cybersecurity Performance Goals — com metas específicas de segurança cibernética para o setor.
Dúzias de estratégias de IA, bem como centenas de ferramentas em LLMs já são usadas com sucesso para prevenção de ciberataques. Se o “Offensive-AI” ganha musculatura, não menos avanços ocorrem na artilharia de “Defensive-AI”. Uma das estratégias mais conhecidas e exploradas é o “red teaming”, um mecanismo proativo de segurança cibernética no qual hackers éticos simulam ataques do mundo real — abrangendo vulnerabilidades técnicas, humanas e físicas — para identificar e abordar fraquezas de segurança antes que agentes mal-intencionados as explorem.
Outra tendência vem sendo proposta pelo filósofo e professor Markus Gabriel, titular de Epistemologia na Universidade de Bonn, porta-voz do chamado Novo Realismo. Ele sustenta que o debate deve migrar da “ética da IA” — um campo regulatório externo — para a construção de uma “IA ética”, capaz de incorporar raciocínio moral na própria arquitetura da rede neural. Em seu manifesto KI-Ethik als Hochregulation, Gabriel explica que a IA ética (trustworthy AI) não é apenas uma “IA que segue guidelines”. É um passo além, tornando a ética tarefa nativa do algoritmo. Onde a “ética da IA” busca minimizar danos, a IA ética deve maximizar virtudes públicas — uma engenharia moral que coopera na formação de juízos justos. Apesar de soar utópico, Gabriel talvez antecipe o que as IAs serão, ultrapassando os marcos regulatórios. A IA ética torna-se um projeto construtivo: dotar a inteligência artificial de capacidades analíticas que reforcem — e não apenas respeitem — nosso impulso de progresso moral. Em vez de temer máquinas autônomas, ele sugere programar “agentes morais” que nos ajudem a navegar nos dilemas com um grau extra de lucidez coletiva.
Isso significa que as IAs éticas exibirão características como explicabilidade, justiça, interpretabilidade, robustez, transparência, segurança e proteção em seu funcionamento. Imagine um liquidificador da próxima geração: além de desligar quando a tampa sai, ele reconhece se alguém tenta colocar a mão, avalia o contexto – ‘por que essa pessoa faria isso?’ -, alerta em linguagem simples, registra o incidente para auditoria e envia um aviso ao fabricante. Assim, a IA ética protegerá antes, durante e depois do risco — aprendendo mais a cada uso.
Se Kant (1724-1804) estivesse vivo, envolto no tema ético das IAs, talvez postulasse algo parecido com Gabriel, ou seja, que as IAs deveriam perseguir — por si sós — o “imperativo categórico universal kantiano”, embora este pudesse ser evolutivo. Ou seja, a forma lógica da universalização permaneceria como lastro inabalável, enquanto o conteúdo moral se adensaria a cada nova experiência histórica que desvelasse zonas de injustiça antes impensáveis. Kant forneceria o “esqueleto normativo que impede o relativismo moral” — corrosivo à dignidade humana. Gabriel, por outro lado, injetaria sangue reflexivo nesse contexto, pois, para ele, sistemas de IA tenderão a desenvolver “reflexividade” — capacidade de examinar a própria atuação e (auto-)corrigi-la. Em termos técnicos, isso significaria dotar os modelos de autoverificação metacognitiva, já explorados, por exemplo, em pesquisas recentes de self-reflection e self-refine: o Agente-IA revê suas cadeias de raciocínio, compara resultados com objetivos e reescreve a própria saída antes de entregá-la. Assim, a rigidez da lei universal e a plasticidade de uma “consciência reflexiva” convergiriam para uma “IA ética”, capaz de honrar princípios sem congelar o progresso moral coletivo. São tempos maravilhosos, os atuais! Não desista deles; não se abandone por medo ou relativismos. Kant, Gabriel e IA no mesmo parágrafo é êxtase e uma estupenda inspiração.
De qualquer forma, antes que qualquer modelo epistemológico ou sociológico seja contemplado, a Saúde se movimenta intensamente para incorporar defesas à sua estrutura digital, notadamente naquelas matrizes que já utilizam LLMs (Defensive-AI). A PureHealth, a maior rede de saúde dos Emirados Árabes Unidos (EAU), está transformando a sua segurança cibernética. Um “escudo” alimentado por IA, conhecido como “Security Operations Center”,verifica automaticamente mais de mil protocolos por segundo, lidando simultaneamente com cerca de 500 incidentes diários. Essa máquina de segurança, construída em parceria com a Dell Technologies, protege dados de pacientes em mais de 100 hospitais e 300 clínicas. Não se trata apenas de gerar firewalls, mas de criar uma malha de segurança escalável na mesma proporção da escalabilidade dos hackers. As GenAIs da PureHealth não só suportam serviços de diagnósticos inteligentes e a infraestrutura em nuvem da organização, como, paralelamente, acionam milhares de mecanismos e protocolos contra a sua vulnerabilidade.
Da mesma forma, o NHS vem reforçando suas defesas com a plataforma de “IA comportamental” da Darktrace. Ela aprende o “padrão de vida” das redes clínicas e reage sozinha — isola hosts, bloqueia portas, corta canais C2 — comprimindo de horas para segundos o tempo de contenção de ransomware. O motor de autoaprendizagem integra predição comportamental, detecção, resposta e investigação de incidentes em tempo real. No Milton Keynes University Hospital (condado de Buckinghamshire, 80 km de Londres), a Darktrace Self-Learning AI cobre rede, nuvem, e-mail e milhares de dispositivos IoMT, operando 24 x 7 mesmo sem equipe de plantão; entre o alerta e o bloqueio passam-se apenas segundos, evitando downtime clínico. É como ter um cão de guarda que memoriza o cheiro de cada morador — no primeiro odor estranho, ele tranca as portas, rosna alto ligando o alarme e, antes que a maçaneta sequer gire, já está de dentes à mostra bloqueando o invasor.
Os hackers já não atacam apenas sistemas informacionais hospitalares (HIS, LIS, EHR etc.); agora miram diretamente o parque de dispositivos médicos (IoMT). A rede alemã Ortenau Klinikum (cerca de 1.700 leitos, na região de Baden-Württemberg) blindou-se com a Claroty Medigate Anomaly Threat Detection: uma IA que funde telemetria de IoMT (Internet das Coisas Médicas), OT (automação predial) e BMS (centro de controle sistêmico). Ela flagra padrões fora da curva — por exemplo, uma bomba de infusão “conversando” com a rede de visitantes — associa cada evento à matriz MITRE ATT&CK (citada acima) e reage sem intervenção humana. Dispositivos que antes apareciam como sombras passam a ser vistos em alta definição. É como dar visão térmica ao segurança do turno da noite: ele não só identifica quem abre a porta, mas também sabe qual chave está sendo usada e qual o tamanho de sapato que o intruso calça.
Outro exemplo de ciberdefesa “na artéria assistencial” vem da BayCare Health System (16 hospitais na Flórida, EUA). A rede adotou o “Cortex XSIAM”, da empresa Palo Alto Networks — um verdadeiro SOC (Centro de Operações de Segurança) que funde, num único cérebro guiado por IA, as funções de SIEM, XDR/EDR, SOAR, ASM e UEBA. Em conjunto com o módulo Medical IoT Security, a plataforma vigia em tempo real mais de 33 mil dispositivos médicos e IoT, consolidando dados de rede, nuvem e endpoints. Modelos de machine learning filtram o “ruído” de alerta, priorizando riscos e isolando vulnerabilidades antes que se transformem em incidentes clínicos.
As motivações de Alarico I quando invadiu Roma eram claras, envolvendo tanto a busca por ouro quanto a busca por reconhecimento e poder. A mente dos marginais cibernéticos é parecida: indivíduos (ou gangues) considerados cruéis e incivilizados buscam o golpe e o sequestro de dados, não importando se isso pode causar a morte de um paciente. Do lado de fora do seu hospital, é possível ouvir o barulho dos bárbaros comemorando alguma invasão. Os novos visigodos chegam por e-mail, WhatsApp, pacotes IoT, redes Wi-Fi, APIs ou qualquer outra porta que acesse os dados clínicos. Não mais escalam muralhas, mas atravessam firewalls oxidados, penetram em servidores entulhados de informações confidenciais e com pouca proteção. Eles amam os CEOs desavisados ou o CISO incauto. Sem um SOC-IA que detecte anomalias em segundos e responda antes que qualquer credencial “gire a maçaneta”, o hospital descobrirá tarde demais. O prontuário eletrônico e a bomba de infusão já terão sido saqueados. Ativem sentinelas algorítmicas e posicionem os LLMs para contra-atacar! Por três noites, as tochas visigóticas dançaram nas vielas de Roma enquanto o Senado derretia estátuas para pagar o resgate. Hoje, os bárbaros cibernéticos fazem o mesmo — só que em segundos.
Guilherme S. Hummel
Scientific Coordinator Hospitalar Hub
Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)
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Assessoria de Comunicação