Postado em: 25/06/2020

AHPACEG NA MÍDIA - Situação grave em cidades sem leitos municipais

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Leitos rapidamente ocupados

Demanda cada vez maior por internação em UTI impede que poder público consiga ampliar oferta de vagas a ponto de fazer cair taxa de ocupação abaixo de 80% em Goiás e na capital

Desde o dia 1º de junho, a rede municipal de Goiânia conseguiu ampliar de 40 para 90 o número de leitos de UTI dedicados para Covid-19 e de dois para quatro o número de hospitais atendendo casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Entretanto, no mesmo período, o número de pessoas internadas em estado grave nestes leitos subiu de 31 para 77 só nestas unidades reguladas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Até a noite desta quarta-feira (24), o número de leitos de UTI foi só 8,7% maior do que de novas internações simultâneas.

Na rede estadual, o drama é similar. Dos 145 leitos de UTI disponíveis em 5 hospitais, 120 estavam preenchidos nesta quarta-feira, uma taxa de ocupação de 82%. Há uma semana, no mesmo dia em que o Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia havia chegado a sua capacidade máxima de oferta de UTI (70 leitos), a taxa estava em 60,5%.

A situação também está pior, mas em menor escala, em Aparecida, onde a ocupação dos leitos de UTI da rede municipal subiu de 22% para 48% e em Rio Verde, onde subiu de 30,7% para 36,9%. Em Anápolis, a taxa de ocupação dos leitos regulados pelo município subiu de 15,1% para 24,2%.

Na rede municipal de Goiânia, a titular da SMS, Fátima Mrue, garante que nenhum paciente que necessitou de um leito de UTI com suspeita ou confirmação de Covid-19 ficou mais de 24 horas esperando. Em entrevista ao POPULAR, a secretária destacou o sucesso da prefeitura em conseguir com hospitais particulares a ampliação de vagas.

Desde o dia 11, o Gastro Salustiano Hospital vem oferecendo de forma gradativa leitos de UTI até chegar ao total atual de 24. E desde esta quarta-feira, o Jacob Facuri passou a disponibilizar 12 leitos. Destes 36, entretanto, 30 já estavam ocupados. A SMS também está contratando mais 10 leitos com a Santa Casa de Misericórdia, que depende de conseguir equipe profissional para cuidar desta ala.

Na sexta-feira passada, foi publicado um edital de credenciamento de leitos para Covid-19 no qual a SMS se dispõe a pagar R$ 3 mil por vaga de UTI (94% a mais do que se paga por um leito comum do tipo) e R$ 1 mil por um de enfermaria (233% a mais). Fátima diz que já apareceram interessados e nos próximos dias alguns destes leitos já devem estar no sistema.

A superintendente de Regulação e Políticas de Saúde da pasta, Andréia Alcântara, diz que não houve fila nem mesmo quando todos os leitos de UTI ficaram lotados, na semana passada. "Nenhum paciente nosso ficou esperando", afirmou.

A situação é mais complexa no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), que oferece de 4 a 10 vagas de UTI (o número varia conforme o perfil das pessoas internadas). A unidade é a única a atender casos mais complexos envolvendo Covid-19, como pacientes que precisam de cirurgias, grávidas e pessoas que sofreram infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) e está sofrendo com lotação diariamente desde o dia 10 de junho. Sem conseguir encontrar profissionais para ampliar mais 8 vagas no prédio antigo e nem equipamentos para os 78 leitos no prédio novo, o HC tem dependido de uma articulação da regulação municipal para conseguir atender novos pacientes que demandam seus serviços.

De acordo com Andréia, quando há necessidade de uma internação no HC, se observa a existência de algum paciente já internado que não demanda mais de serviços na unidade, como por exemplo alguém que já fez a cirurgia que precisava, para uma transferência intrahospitalar. A expectativa é que os leitos a serem abertos na Santa Casa atendam também este perfil.

Situação grave em cidades sem leitos municipais

Em cidades que não contam com leitos de UTI na rede municipal, a situação teria começado a se complicar na última semana. O Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin), regulado pelo Estado, está com as 6 vagas ofertadas lotadas desde o fim de semana e a prefeitura não tem leitos municipais para os casos mais graves. Para ampliar a capacidade de atendimento, o hospital criou duas vagas na chamada "sala vermelha", com equipamentos para pacientes em estado crítico, mas também estão ocupadas. Por ser regional, o Hutrin estava com pacientes de Campestre de Goiás, Goiânia, Bonfinópolis e Campo Limpo.

Em Senador Canedo, uma moradora de 48 anos com Covid-19 está há 2 dias aguardando uma vaga de UTI na rede estadual. O titular da SMS local, Thiago Moura, diz que há uma semana tem demorado mais para conseguir vagas em UTIs públicas, uma vez que Senador Canedo não conta com este tipo de atendimento. Na UPA onde a paciente se encontra, há uma "sala vermelha", com leitos equipados para fornecer um atendimento similar ao de uma UTI, segundo o secretário. "Estamos em contato diário com a secretaria estadual pedindo vagas."

Hospitais privados
Na rede particular, a situação não é diferente. A taxa de ocupação dos leitos de UTI dos hospitais filiados à Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) caiu de 69% para 65,6% em uma semana apenas porque nesta quarta-feira (24) as unidades conseguiram ampliar a oferta de 100 para 131 leitos de UTI. Já o total de internados subiu de 69 para 86, ou seja 14 a menos que o de novos leitos.

A Ahpaceg é a única entidade que monitora e compartilha os dados sobre internações por Covid-19 na rede particular. Desde o final de março divulga um boletim com informações.

Passados mais de 100 dias desde o primeiro caso de Covid-19 registrado em Goiás - estamos no 105º dia -, o poder público ainda não tem um número fechado de leitos de UTI ofertados por todos os municípios e pela rede particular. Isso porque é grande ainda o número de unidades hospitalares que não informam ou demoram para repassar os dados.
Na noite desta quarta-feira, por exemplo, dos 334 hospitais listados pela SES-GO 47 não haviam atualizaram as informações sobre internação em mais de 48 horas.

No site da pasta estadual, constava que ao menos 355 pessoas estavam em UTI por suspeita ou confirmação de Covid-19, mas este número costuma variar bastante durante o dia.

Perfil do paciente influencia espera

O superintendente de Ação Integrada à Saúde da SES-GO, Sandro Rodrigues, diz que os problemas em relação aos leitos de UTI não se resumem a vagas, mas também ao perfil das vagas. Por isso, muitas vezes pacientes com comorbidades específicas ou em situações específicas como gravidez e necessidades cirúrgicas demoram mais para encontrar um leito do que outros que apresentam um quadro mais simples.

"O que pode acontecer (para demorar a ter leito): principalmente se tem alguma outra comorbidade associada. Exemplo clássico: gestante com Covid pode precisar de centro cirúrgico. Único da questão das gestantes é o HC, que foi desenhado nesse sentido. Pessoa que tenha tido um infarto não pode internar em lugar sem suporte para doença cardíaca, vai prioritariamente para o HC", comentou.

Na rede estadual, dois hospitais estavam com as UTIs lotadas: o de Urgências de Trindade (Hutrin), com 6 leitos, e os 12 ofertados pelo Nars Faiad (particular), em Catalão. O HCamp de Porangatu estava com 66,7% de ocupação e o de Águas Lindas, com 60%. O HCamp de Goiânia, que chegou a ficar com 95,7% durante o dia, estava no começo da noite com 87%. Já o de Urgências de Anápolis (Huana) estava com 40% dos leitos ocupados no final da tarde, mas à noite, segundo o site da SES-GO, estava com apenas uma das 15 vagas disponíveis. Já o Hospital Regional de Luziânia (HRL) e o das Clínicas Dr. Serafim de Carvalho (Jataí) estavam com 40% de lotação na UTI para Covid-19. Com exceção do HCamp de Goiânia, a taxa de ocupação mesmo baixa nos outros hospitais não representa alívio às autoridades porque o total de vagas é pequeno. (Colaborou Thalys Alcântara)