Postado em: 07/06/2020

CLIPPING AHPACEG 06 E 07/06/20

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Para entidades e especialistas, decisão do Ministério da Saúde de dificultar acesso a dados da pandemia é inaceitável

Experiência transformadora

Governo Bolsonaro trata inimigos Covid-19 e China, dizem analista

Prefeitura só vai abrir comércio quando tiver total segurança

A previsão nefasta da pandemia por Covid-19 no Brasil

Caiado pede que goianos evitem aglomerações diante do avanço da Covid-19 no Estado

CFM recomenda continuidade de cirurgias bariátricas e metabólicas diante da pandemia

Goiás registra mais 347 casos de covid-19 e cinco mortes em 24 horas

Secretaria de Saúde de Goiânia monitora casos de covid-19 por telemedicina

O drama dos novos médicos na linha de frente da Covid

 

O PARALELO 13

Para entidades e especialistas, decisão do Ministério da Saúde de dificultar acesso a dados da pandemia é inaceitável

Órgão tirou do ar site com números sobre o coronavírus do ar, além de atrasar e suprimir detalhes de boletins informativos

Por Juliana Bublitz

As últimas decisões do Ministério da Saúde envolvendo a divulgação dos dados sobre a evolução da pandemia do coronavírus no Brasil são alvo de críticas entre especialistas e entidades que defendem a transparência como regra no serviço público. Nos últimos dias, o órgão atrasou a publicação e suprimiu informações de boletins diários, retirou do ar o site que mostra as estatísticas oficiais e anunciou a recontagem dos números sob a justificativa de que seriam fantasiosos .

Segundo os últimos registros divulgados pela pasta, no fim da noite de sexta-feira (5), o país ultrapassou a marca de 35 mil mortos por covid-19. Em 24 horas, foram 1.005 novos óbitos. A base do material vem das secretarias estaduais de saúde. Em entrevista ao jornal O Globo na última sexta-feira (5), Carlos Wizard, que assumirá a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, disse acreditar que os quantitativos vêm sendo inflados por ordem de prefeitos e governadores.

- Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus Estados, colocavam todo mundo como covid-19. Estamos revendo esses óbitos - afirmou Wizard.

A insinuação levou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) a divulgar nota, neste sábado (6), em repúdio às declarações Wizard. Conforme o texto, assinado pelo presidente do Conass, Alberto Betrame, ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da covid-19 em busca de mais orçamento , o secretário, além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias .

Ainda segundo a nota, a tentativa autoritária, insensível, desumana e antiética de dar invisibilidade aos mortos pela covid-19 não prosperará . Para o Conass, a postura ofende secretários, médicos e todos os profissionais da saúde que têm se dedicado incansavelmente a salvar vidas e menospreza a inteligência de todos os brasileiros .

A guerra aberta não é de hoje, já que o próprio presidente Jair Bolsonaro já vinha tendo atritos com governadores, em especial com Wilson Witzel, do Rio, e João Doria, de São Paulo. Sobre os atrasos na divulgação dos boletins, o mandatário disse ter tomado a medida com o objetivo de impedir a Rede Globo de publicizar as informações no horário nobre da programação. Com a postergação, Bolsonaro afirmou que acabou matéria no Jornal Nacional sobre a doença.

Para especialistas em transparência, o conjunto de medidas é inaceitável. Autor do livro Lei de Acesso à Informação: reforço ao controle democrático, Fabiano Angélico ressalta que o caso é ainda mais grave por envolver uma pandemia, quando ter informação é vital.

- É um completo absurdo. É inaceitável que esse tipo de situação esteja ocorrendo durante a maior pandemia em cem anos, o maior desastre em termos de saúde pública do século. A lógica da transparência governamental serve não só ao controle, mas também a análises independentes e múltiplas, que permitem a correção de políticas públicas. Não é um luxo ou um capricho. É obrigação dos governos fornecer informação precisa e em tempo adequado - avalia Angélico, doutorando em Administração Pública e Governo pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Especialista em transparência e acesso à informação, Joara Marchezini concorda e afirma que as alterações não ajudam o país a superar a crise sanitária.

- Há três dias, as informações estão saindo com atraso. O Brasil é um dos países que menos realiza testes, em um contexto de subnotificação, de aumento das mortes por agravamento de síndrome respiratória aguda e de desconexão de informação muito grave. A recontagem, neste momento, não parece ser a melhor estratégia, não que não possa ocorrer. É normal esse tipo de procedimento, mas o que não é produtivo é supor que existe um aumento proposital. A pandemia existe. Somos o epicentro dela. O que precisamos é de respostas para fazer esse enfrentamento - diz Joara.

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina no Estado (Cremers), Eduardo Trindade, a auditoria dos dados é bem-vinda para assegurar precisão, mas não é aceitável que o governo dificulte o acesso aos números, importantes não apenas para epidemiologistas e sanitaristas, mas também para a população em geral.

- Duas preocupações me vêm à mente como médico: em primeiro lugar, temos de ter transparência nos dados e acessos às informações. Não é uma estratégia adequada dificultar o acesso. Isso é importante para todos. A outra preocupação é: os dados são confiáveis? Sob esse aspecto, é importante que se faça a auditoria. Precisamos de dados fidedignos, desde que isso não pode significar sonegar acesso - pondera Trindade.

A reprotagem entrou em contato com a assessoria do Ministério da Saúde para obter uma posição do órgão sobre as últimas medidas, entre elas a retirada do site do ar, e sobre como será feita a recontagem. A assessoria limitou-se a informar que o site voltará a funcionar, mas não deu maiores detalhes.

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O POPULAR

Experiência transformadora

A doença impactou a vida do cirurgião cardiovascular Aleksander Dobrianskyj, de 66 anos, que passou 30 dias internado por causa do problema de saúde, metade deles na UTI

Durante 50 anos, o cirurgião cardiovascular Aleksander Dobrianskyj, de 66, não teve um credo norteando sua jornada. Tudo mudou nos últimos dias de março deste ano quando ele se viu obrigado a abandonar a condição de médico para se tornar paciente, um a mais na lista de milhares de brasileiros infectados pelo novo coronavírus. Internado durante um mês, metade desse tempo em estado gravíssimo, ele vivenciou por dois momentos a experiência de quase morte, algo que o fez repensar no homem e no profissional em que se transformou, longe dos princípios da fé cristã.

"Apesar de não me considerar um crédulo, sempre tive muito respeito pelos pacientes. Nunca deixei de ter a técnica, a prática, e a compaixão, porque sem esses três elementos você não é médico." Até ser surpreendido pelo coronavírus, que ele considera de uma infectividade pavorosa e de longa permanência entre nós, o médico se sentia como um super-homem, saudável e ativo após os 60 anos. "Para mim, o vírus funcionou como a kriptonita para o super-homem. Me derrubou."

Aleksander Dobrianskyj é um dos profissionais mais respeitados de Goiás em sua área de atuação. Paulistano, filho de pais ucranianos que chegaram ao Brasil como refugiados que enfrentaram o Holodomor, uma fome genocida imposta por Josef Stalin no comando da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), aportou em território goiano após se graduar na Escola de Medicina da Universidade Federal do Paraná e concluir a residência médica no Instituto Dante Pazanezze de Cardiologia, na capital paulista, sob o olhar de Adib Jatene.

A Jatene, médico internacionalmente respeitado, são atribuídas inovações em cirurgias do coração. Ele também foi ministro da saúde por duas vezes no Brasil.

Em 1992, no Hospital Santa Genoveva, em Goiânia, esteve à frente da equipe que realizou o primeiro transplante cardíaco em Goiás. "O dr. Francisco Ludovico bancou o início do projeto, mas depois não teve continuidade por ser um procedimento mal remunerado. Tínhamos o suprassumo em termos de especialistas para transplantes cardíacos e renais. Infelizmente no Brasil se investe em estádios e não em hospitais." Hoje, o cirurgião atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), no Hospital do Coração Anis Rassi, no Hospital do Coração de Goiás e no Hospital da Criança, todos na capital.

Entre seus pares é conhecido como "o bisturi de ouro da cirurgia cardíaca infantil", técnica que aprimorou a partir da residência médica com Adib Jatene. Aleksander Dobrianskyj tem muito orgulho do papel que desempenha no HC/UFG, "um repositário de doentes graves" onde, ao lado de colegas, aplica seu conhecimento e colhe resultados semelhantes aos da Cleveland Clinic (Ohio), considerada uma das melhores instituições para tratamento cardíaco nos Estados Unidos. "Atendemos uma população pobre, desprovida de recursos e não ficamos a dever nada a ninguém" , afirma.

Diagnóstico

A Covid-19 chegou à vida do médico sem se apresentar. "Inicialmente imaginei que estava com sinusite e me mediquei por conta própria, mas alguma coisa não estava certa porque fui piorando muito." No dia 31 de março ele se internou no Hospital Anis Rassi e a primeira tomografia revelou alterações no pulmão, o que levou a equipe médica a pedir exame para Covid-19, confirmando o diagnóstico. Sem sintomas habituais da doença, como falta de ar, estava pronto para deixar o hospital no dia 6 de abril quando nova tomografia mostrou comprometimento de 70% dos pulmões, levando-o à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). "Cheguei à UTI em situação de emergência e tudo desandou. No dia seguinte fui para o tubo."

Dois profissionais atuaram decisivamente junto a Aleksander Dobrianskyj durante sua internação, o intensivista Hélvio Martins Gervásio e a infectologista Christiane Kobal. "As condutas para o tratamento desse vírus foram sendo atualizadas enquanto eu estava internado. No dia 1º de abril era uma e no dia 1º de maio, outra", diz ele sobre o esforço dos colegas. Durante 11 dias o médico precisou de ventilação mecânica. Foi entubado de forma tradicional e na posição prona, quando o paciente é colocado de bruços para melhorar a ventilação pulmonar, comprometida por coágulos. "Eu queria estar consciente para discutir os procedimentos. Sinto não ter participado. Essa é a parte que mais me dói".

Aleksander Dobrianskyj não arrisca dizer onde contraiu a Covid-19, mas tem convicção de que a infecção ocorreu em um dos ambientes de trabalho. "Posso ter atendido alguém aparentemente saudável, mas transmissor do vírus. Sempre me cuidei muito, não tinha doença pré-existente, nunca fumei, todas essas coisas que falamos para os pacientes. Foi um baque. Saí de um estado de doença para quase morte. O vírus não tem uma lógica, não tem como prever. É sorte ou azar." Enquanto ele estava internado, a mulher Virgínia e o casal de filhos adolescentes também fizeram testes. Ela e o menino positivaram, mas ambos não tiveram sintomas importantes. O médico acredita que, em seu caso, foi a idade que o levou a enfrentar uma situação de gravidade.

Plasma de convalescente fez parte do tratamento

O cirurgião foi o primeiro paciente de Goiás a receber plasma de convalescente de Covid-19 durante o tratamento, uma conduta considerada experimental. Ele elogia a colega Christiane Kobal por realizar uma videoconferência para discutir com hematologistas a questão ética da medida. "Minha esposa teve de assinar um termo autorizando, mas o soro de convalescente, que desenvolve anticorpos contra a doença, foi usado na gripe espanhola, quando milhões de pessoas morreram. Portanto, não é uma coisa nova." Nos primeiros dias de internação ele também foi submetido a doses de hidroxicloroquina, o medicamento alvo de muitos debates no Brasil.

"Tomei no início, mas logo foi suspensa. A cloroquina não me trouxe nenhum benefício. Ela funciona para fragmentar as proteínas que fazem a inclusão do vírus na célula, mas aparentemente não funciona em estado de doença instalada. Desde que recebeu alta, é comum o médico ser consultado sobre o que fez efeito em seu tratamento. "Tenho recebido muitas ligações, até mesmo do exterior." Entre os procedimentos adotados, ele cita o uso de corticoides, para tirar a inflamação pulmonar; de heparina, um anticoagulante e do plasma de convalescente da Covid-19. 

A condição de paciente grave, trouxe para Aleksander Dobrianskyj uma certeza. Os familiares, do lado de fora, precisam ter maior amparo, "uma pessoa que faça a interface com os médicos, porque o boletim padronizado não é suficiente". Ele tem insistido nessa tese após saber do sofrimento da mulher que não conseguia ter informações sobre o que estava ocorrendo com ele. "É uma tortura para quem está do lado de fora e médico plantonista de UTI não tem tempo de conversar com familiares."

Cirurgião teve sinal sobrenatural

Neto de padre ortodoxo, que foi pároco em Prudentópolis (SP), Aleksander Dobrianskyj passou a rememorar as relações com a fé cristã na infância a partir de dois momentos que sentiu estar muito perto da morte durante sua internação. "Posso dizer que fui ateu durante 50 anos, mas isso ficou no passado." 

Os dois episódios o fizeram lembrar de uma entrevista que considera marcante concedida pelo antropólogo Darcy Ribeiro pouco antes de morrer de câncer ao jornalista Roberto D´Ávila. À pergunta sobre o que faltava a ele, o fundador da Universidade de Brasília respondeu: "um credo". 

Ele teve essa certeza ao abrir o olho, após a anestesia, e ver o pai num caixão no teto. "Quando meu olhar se aproximava, como um zoom, era eu que estava lá. Tive consciência do que estava acontecendo e prometi mudar se houvesse um sinal sobrenatural". Ele se lembra que antes também sentiu o calor de uma espécie de larva vulcânica que estava no fundo de um poço ao qual desceu devagar em meio a um tipo de alucinação. O cirurgião, que voltou à ativa, tem certeza de que as orações de amigos e familiares estão entre os fatores que influenciaram na recuperação, além da dedicação do corpo clínico.

Para Aleksander Dobrianskyj, a pandemia do novo coronavírus é equivalente a uma guerra. "É difícil ouvir um 'e daí?' do nosso timoneiro-mor. Ele deveria entender que cada pessoa que morre com essa doença está deixando de trabalhar, de pagar imposto e de contribuir com o Estado, além de deixar a família na miséria. São pessoas, e contribuintes em última análise", comentou ele sobre a frase proferida pelo presidente Jair Bolsonaro quando o Brasil ultrapassou a marca de 5 mil mortos por Covid-19.

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Governo Bolsonaro trata inimigos Covid-19 e China, dizem analista

Metáforas de guerra transformam em conflito e questão de defesa um problema de saúde pública, apontam especialistas

Ao adotar metáforas de guerra para enquadrar o novo coronavírus como 'inimigo', o governo de Jair Bolsonaro transforma uma questão de saúde pública em questão de defesa, o que se reflete na troca de dois ministros da Saúde, ambos médicos, por um general que segue como interino, além da substituição de quadro técnico de civis por oficiais militares. A análise é de Matheus Hoffmann Pfrimer, professor de relações internacionais na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em geografia política pela Universidade de São Paulo (USP), e Ricardo Barbosa Jr., mestrando em geografia na Universidade de Calgary, Canadá, bacharel em relações internacionais pela UFG e em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- Goiás). Nesse discurso, a China é apontada como "ameaça externa".

Co-autores do artigo A guerra do Brasil a Covid-19: Crise, não conflito - Médicos, não generais, publicado na Dialogues in Human Geography (Diálogos em Geografia Humana) - https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/2043820620924880 -, eles responderam, também juntos, às questões enviadas pelo POPULAR.

Em recente publicação científica, os senhores apontam que a pandemia no Brasil tem sido tratada pelo governo como uma "guerra contra a Covid-19", recorrendo a metáforas sobre o "inimigo invisível" e substituindo quadros técnicos do Ministério da Saúde por militares. Que análise política fazem a partir dessa constatação?

As metáforas de guerra não são uma coincidência ou usadas por acaso. Termos militares expressam sentimentos de urgência, prioridade e sigilo. Ao enquadrar o vírus como um 'inimigo', a pandemia passa a ser vista como um 'conflito', não como uma 'crise'; o que transforma uma questão de saúde pública em uma questão de defesa. A resposta do governo Bolsonaro à pandemia da Covid-19 passa a ser guiada pela racionalidade militar. Como resultado, as autoridades de saúde são subjugadas às autoridades militares. Em outras palavras, o discurso de segurança se torna uma prática de segurança.

O uso de metáforas de guerra para enquadrar a pandemia permite que o governo Bolsonaro justifique a troca de pessoal técnico por oficiais militares. Conforme relatado pela imprensa, pelo menos 13 oficiais militares foram nomeados para cargos estratégicos no Ministério da Saúde, anteriormente ocupado por civis. Desde que nossa intervenção foi escrita no final de março, dois ministros da Saúde, ambos médicos, foram destituídos durante a pandemia, deixando um general como ministro interino da Saúde.

Um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (deputado federal Eduardo Bolsonaro) falou em "vírus chinês" em rede social e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, também usou rede social para insinuar que a China poderia se beneficiar, de propósito, da crise mundial causada pelo coronavírus. Isso seria parte do "discurso de guerra"?

Sim, quando se utiliza termos militaristas, como 'guerra' e 'inimigo', é necessário criar referência para aquilo que ameaça a segurança. O termo 'invisível' é vago e utilizado para disfarçar os efeitos internos visíveis da pandemia e a incapacidade do governo de oferecer respostas contundentes às vidas perdidas pela doença e a necessidade de assistência social e de saúde pública.

Assim, ao dizer que o vírus 'é chinês', o 'inimigo' que antes era 'invisível' ganha referência. O discurso do governo direciona a percepção da ameaça a um 'inimigo' e local específicos: a China - um país distante e em outro continente. Responsabilizar um 'inimigo' distante permite construir a percepção de que a ameaça 'é externa' a fim de criar a noção de estabilidade econômica e paz internas. Os discursos bélicos distorcem a nossa percepção do espaço e do tempo para suscitar os sentidos de pertencimento e de estranhamento.

Em suma, a China é apontada como inimigo para produzir uma noção de paz e segurança 'interna' ao associar a Covid-19 a uma ameaça 'externa'.

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem culpado a China pela propagação do novo coronavírus, ameaçando romper recente acordo comercial, o que poderia favorecer o Brasil, que tem no país asiático seu maior parceiro no comércio exterior. Porém, o discurso brasileiro se alinha ao de Trump. Como interpretam a dinâmica atual dessas relações?

A política externa do governo Bolsonaro adotou a diplomacia do alinhamento automático com os Estados Unidos. Esse alinhamento automático é muito mais fundamentado em linhas ideológicas do que no pragmatismo. Dessa forma, o Brasil vem perdendo oportunidades comerciais importantes com a China, por colocar a ideologia do governo à frente dos interesses políticos do Estado brasileiro.

Além da pandemia, o Brasil enfrenta turbulências políticas, inquéritos envolvendo o Palácio do Planalto, que ao se referir aos demais Poderes recorre também a metáforas de guerra. Nesse caso, qual seria a estratégia?

A metáfora da guerra é utilizada pelo governo Bolsonaro não só para nomear 'inimigos externos', mas também para identificar 'inimigos internos'. A retórica belicista permite também justificar ações emergenciais e drásticas dentro do país. Em relação à Covid-19, a guerra é declarada contra uma ameaça externa, para suscitar o sentimento de afastamento, como tática para distrair a atenção do mau gerenciamento da crise. Contudo, este movimento é concomitante a outras tensões políticas internas.

Diante da saída de dois ministros da Saúde em plena pandemia com crescente número de casos e de mortes, e do presidente da República se manifestar em atos e decisões contra o isolamento social, como fica a imagem do Brasil no exterior?

A ausência de liderança e iniciativa do governo brasileiro para conter a pandemia vem sendo fortemente criticada pela comunidade internacional. É interessante notar que mesmo os aliados ideológicos do presidente Bolsonaro, como Donald Trump, deixaram de minimizar a pandemia. Devido ao crescente número de casos e mortes, não apenas os países fronteiriços, como também os Estados Unidos, proibiram a entrada de brasileiros e estrangeiros que passaram pelo Brasil. Ironicamente, a incapacidade do governo Bolsonaro de oferecer respostas contundentes a pandemia faz com que o Brasil passe a ser identificado como ameaça por outros países.

Internamente, quais desdobramentos poderiam apontar dessa junção de crise sanitária e também econômica com as investigações que envolvem o presidente e aliados políticos?

A junção entre as crises sanitária, econômica e política revela um cenário tenebroso para o Brasil, no qual as instâncias democráticas estão sendo paulatinamente destruídas. Aqueles que não seguem a ideologia conservadora do governo são considerados como inimigos. Isso é sintomático da erosão do regime estabelecido desde 1988, pois a principal lição da democracia é dialogar ainda que divergindo. Quando se trata a opinião divergente como inimiga, impõe-se uma única opinião pela força, e assim cessa o diálogo.

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DIÁRIO DA MANHÃ

 

Prefeitura só vai abrir comércio quando tiver total segurança

A Prefeitura de Goiânia reafirma que novas reaberturas do comércio e serviços no âmbito do município só ocorrerão com condições epidemiológicas favoráveis e referendadas por nota técnica da Secretaria Municipal de Saúde. As informações foram repassadas à imprensa na manhã desta sexta-feira, em coletiva realizada no Paço Municipal, conduzida pelo secretário municipal de Governo, Paulo Ortegal, que também é o presidente do Gabinete de Gestão de Crise Covid-19, com a participação da secretária municipal de Saúde, Fátima Mrué, e do titular da Sedetec, Walison Moreira.

Números da pandemia do novo coronavírus em Goiânia, apresentados em reunião do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE), ocorrida no último dia 1° de junho, atestam que o resultado final da epidemia em Goiânia dependerá fundamentalmente do comportamento da população nas próximas semanas. Estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás consideraram três cenários de isolamento social e a partir disso projetaram a quantidade de leitos de UTI necessários e o número de óbitos para três níveis de isolamento. Os pesquisadores estimam que, se o nível de isolamento cair a 30%, Goiânia poderá ter até 1,8 mil óbitos motivados pela Covid-19.

Diante disso, conforme explicou Paulo Ortegal, a Prefeitura continuará mantendo um diálogo aberto e franco com todos os segmentos empresariais e com a sociedade em geral, seguindo orientações técnicas elaboradas pela Secretaria Municipal de Saúde e pelos relatórios de estudos do COE sobre a pandemia, para que, no momento favorável oportunizado pelas condições epidemiológicas da capital, inicie-se o processo gradual e seguro de reabertura do comércio em Goiânia.

Entre outras medidas para aumentar o índice de isolamento na capital, Paulo Ortegal disse que, por sugestão da Secretaria Municipal de Saúde, a Prefeitura estuda a antecipação de alguns feriados e, já a partir da próxima semana, a decretação de ponto facultativo no dia 12, para que assim, com o fechamento do comércio, esse índice de isolamento seja ampliado.

"É certo que, como dia 11 de junho, próxima quinta-feira, é feriado nacional, nós vamos decretar ponto facultativo na sexta-feira, dia 12, para que tenhamos aí quatro dias de recesso, o que vai ajudar no aumento do isolamento social, permitindo que cheguemos mais perto do desejável. Outras antecipações, no entanto, vão depender de questões legais", avalia.

A

secretária Fátima Mrué lembrou os esforços da gestão Iris Rezende para o enfrentamento à pandemia, ações tomadas desde o início de março, quando foram realizados treinamentos da equipe de saúde e adequações das unidades para atendimento aos pacientes suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, além do fornecimento de EPIs para os profissionais de saúde e abertura de leitos de UTI na capital, como foi o caso da Maternidade Oeste, transformada em hospital de campanha por determinação do prefeito Iris Rezende.

Segundo Mrué, Goiânia ainda é a capital com os melhores resultados no que diz respeito aos números da Covid-19 no Brasil. Isso, de acordo com a secretária, é reflexo do isolamento social conseguido no início da pandemia, quando Goiânia atingiu níveis de 70% de isolamento.

De acordo com a secretária, é imprescindível que a população e empresários entendam a gravidade do momento, que as condições epidemiológicas atuais não favorecem novas reaberturas de comércios na capital e que é preciso que o isolamento social em Goiânia chegue a pelo menos 50%, índice que hoje alcança apenas 38%. Os últimos números da Covid-19 em Goiânia registram 2.410 casos confirmados e 75 óbitos.

"As duas próximas semanas serão fundamentais para os resultados finais da pandemia em Goiânia. É muito importante que todos tenham consciência disso. Hoje nós temos 38% de taxa de isolamento e é preciso que alcancemos pelo menos 50% para que nossa rede assistencial suporte a demanda por leitos em Goiânia. A ocupação da nossa rede de saúde, neste momento, é de 93% para enfermarias e de 78% para UTIs destinadas a pacientes da Covid-19", informou, lembrando que perto de 2 mil óbitos podem ser evitados, caso o índice de isolamento social desejado seja alcançado.

Mrué esclareceu, também, que a autorização para funcionamento das imobiliárias, mercados públicos municipais e o treino de atletas de times profissionais de futebol foi concedida após estudos técnicos sustentarem que o funcionamento desses segmentos não apresenta riscos de aglomerações e que, portanto, não impacta o quadro de contaminação por coronavírus na cidade.

O isolamento social projetado por estudos dos pesquisadores da UFG em três cenários diferentes de isolamento, um em torno de 50-55% (semelhante ao atingido no início da quarentena em Goiânia, pelo decreto estadual); outra em torno de 38% (semelhante ao atual momento); e uma terceira com uma taxa de isolamento com tendência de redução chegando até em torno de 30% (semelhante à rotina da população antes do início da pandemia), reflete diretamente na estimativa projetada de números necessários de leitos convencionais, leitos de UTI, número de casos confirmados e de óbitos por Covid-19.

No melhor cenário, considerando 50-55% de isolamento da população no período, seriam necessários menos de 50 leitos de UTI por dia e os óbitos chegariam a um total de 200 até final de julho 2020. No cenário com isolamento mantido em 38%, seriam 200 leitos-dia de UTI e um total acumulado de 1.000 óbitos por Covid-19. No pior cenário, que assume tendência de redução gradual do isolamento no período, o número de leitos de UTI necessários diariamente passaria para 380 e o total de mortes por Covid-19 chegaria a 1.800.

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A previsão nefasta da pandemia por Covid-19 no Brasil

Segundo os apontamentos do médico e neurocientista Miguel Nicolelis, hoje, sexta-feira (6), o quantitativo de equívocos que o Brasil cometeu no combate à pandemia do novo coronavírus vai "entrar para a história" e que os números de casos e óbitos registrados, apesar da subnotificação já demostram que o país vive a maior tragédia de sua história.

"A quantidade de erros é um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise sanitária. Ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da história do Brasil, porque é uma guerra biológica e as pessoas não se deram conta".

Nicolelis é coordenador da Comissão Científica do Consórcio Nordeste, estando sob sua responsabilidade o projeto Monitora Covid-19, aplicativo que orienta e informa a população sobre a doença em tempo real.

Para o coordenador, não houve qualquer reação ou planejamento do governo federal e faltou uma mensagem coerente e unificada que mostrasse a importância do isolamento social, considerado pela comunidade científica como o método mais eficaz no combate a pandemia.

"Não há sistema hospitalar no mundo que dê conta da capacidade de reprodução desse vírus. Então, como não levamos a sério desde janeiro, não ajudamos estados e municípios do ponto de vista de um governo unificado, não criamos testagens eficiente em todo Brasil, não criamos equipamentos necessários e não tiramos vantagem do sistema de saúde que deveriam ser a primeira linha de defesa", afirmou

Segundo seu entendimento, o auxílio emergencial de R$ 600 para auxiliar os trabalhadores durante a crise da pandemia do coronavírus é como uma "gota no oceano" e avaliou que o governo federal "enrolou e não fez nada". Ele reforçou que nos Estados Unidos a ajuda foi de US$ 1.200 (cerca de R$ 5,9 mil) e disse que o Brasil deveria ter se preocupado com os parâmetros macroeconômicos depois da pandemia.

"É óbvio que para as pessoas ficarem em casa elas precisam sobreviver, poder comer, pagar as contas (.). Você tem que dar condições mínimas para as pessoas ficarem em casa e isso é papel do governo federal", acrescentou.

Sobre a imagem do Brasil no exterior, Nicolelis que é professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), pontuou que a reputação dos cientistas do país é "excelente" e eles são considerados de "altíssimo nível internacional em todo lugar do mundo". Ele classificou a atual imagem do país no geral, no entanto, como "a pior que já vi na minha existência".

"Tenho 59 anos. Viajo pelo mundo há 30 sem parar. Nunca vi o Brasil descer a patamares tão baixo de crítica, censura. Os maiores jornais do mundo definiram o presidente do Brasil como inimigo número 1 da pandemia no mundo". E ainda considerou que "estou falando, a gente vai contar essa história daqui 50 anos e os erros crassos vão ser tão claros que as pessoas vão ler o livro e dizer 'eu não acredito nisso aqui".

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Caiado pede que goianos evitem aglomerações diante do avanço da Covid-19 no Estado

Governador Ronaldo Caiado voltou a fazer um apelo aos goianos para que "tenham solidariedade" neste cenário em que o índice de contaminação e de óbitos pela Covid-19 está crescendo em Goiás.

Disse que existem pessoas falando em realizar mobilização no domingo, enquanto o momento exige isolamento e não um processo de agrupamento de pessoas. Lembrou que o Estado já está com baixo índice de isolamento social.

"Vamos ter um gesto maior, vamos ter um sentimento único, vamos lutar para poder superar esse problema que estamos vivendo, que é a pandemia. As outras discussões não são tão relevantes assim", argumentou o governador.

Segundo ele, agora é o momento de ter o compromisso de salvar vidas e não de disseminar a doença. Isso porque toda aglomeração é um ambiente profícuo para a disseminação do novo coronavírus, alertou.

Na live, apresentada por Daniel de Paula, o governador contou com a participação do secretário-chefe da Controladoria Geral do Estado (CGE), Henrique Ziller. Confira alguns trechos:

Caiado anunciou que na manhã desta sexta-feira, 5, estará em Águas Lindas de Goiás para inaugurar o Hospital de Campanha (HCamp) do município, acompanhado do presidente Jair Bolsonaro e ministros. Lembrou que a unidade foi construída pelo governo federal, com estrutura montada pelo Governo do Estado. Será a primeira inauguração que o presidente fará de um HCamp destinado ao atendimento dos pacientes com Covid-19, destacou. Segundo o governador, a unidade será aberta com 20 leitos de UTI funcionando.

Com a instalação de vagas de UTI em Luziânia, agora em Águas Lindas e em breve em Formosa, Ronaldo Caiado afirmou que montará um tripé de atendimento aos acometidos pela Covid-19 na Região do Entorno do Distrito Federal. A região, afirmou, tem registrado alto índice de casos da doença.

Parte de sua população trabalha em Brasília, onde o índice de contaminação comunitária é elevado. Caiado prometeu continuar trabalhando "fortemente" para criar leitos de UTI, nas próximas etapas, também em Itumbiara, Jataí, e São Luís de Montes Belos.

O secretário-chefe da CGE, Henrique Ziller, comentou a respeito da implantação da ferramenta CoronaTransp, painel de informações do combate ao coronavírus publicado no Portal de Transparência de Goiás ( www.transparencia.go.gov.br? ). Conforme ele, esta foi uma iniciativa da Controladoria de apresentar, de forma bem transparente, todas as informações relacionadas à pandemia, no âmbito da administração estadual.

Estão disponíveis informações epidemiológicas e de contratações para fazer frente à pandemia (detalhamento de todos os contratos, valores, pesquisas de preços, cópias dos contratos, etc).

Dessa forma, com a chamada transparência ativa, Ziller afirmou que o Governo de Goiás se antecipa e apresenta todas as informações aos cidadãos e aos órgãos de controle, Com isso, o Estado está no topo do ranking nacional de Transparência da Covid-19 de duas entidades, sendo uma delas a Open Knowledge Brasil.

Ziller falou ainda sobre o Programa de Compliance que está sendo implementado no Governo do Estado, baseado em uma proposta da Controladoria Geral da União (CGU). O Programa estabelece quatro áreas de ação, ou quatro eixos: promoção da ética, promoção da transparência, responsabilização e gestão de risco.

O governador elogiou o programa desenvolvido pela CGE nas escolas estaduais, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc). Ziller detalhou o Programa Estudante de Atitude, que ensina os alunos a realizar a chamada "auditoria cívica" em suas escolas.

Por meio de um aplicativo, eles levantam os problemas do estabelecimento de ensino, elaboram relatório e apontam soluções para sua manutenção e conservação. "Muitas vezes, eles chegam à conclusão de que são os responsáveis pela depredação do prédio", afirmou. Para Caiado, este trabalho educativo tem efeito transformador sobre as crianças e deverá ser retomado assim que as aulas presenciais voltarem, na pós-pandemia.

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CFM

 

CFM recomenda continuidade de cirurgias bariátricas e metabólicas diante da pandemia

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou no dia 21 de maio a Recomendação Nº 1/2020 que dispõe sobre a continuidade das cirurgias bariátricas e metabólicas eletivas no período da pandemia da COVID -19 nos estados em que não houver determinação contrária do Conselho Regional.

Na decisão, o órgão colegiado considerou que pacientes portadores de doenças graves e ou/crônicas como a obesidade e o diabetes precisam de tratamento e que a sua postergação pode resultar no aumento da morbidade e da mortalidade.

Acesse a Recomendação Nº 1/2020 neste link https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/recomendacoes/BR/2020/1

O presidente da Sociedade brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), médico e cirurgião, Marcos Leão Vilas Boas, alertou para o fato que o retardo no tratamento cirúrgico de pacientes com obesidade clinicamente severa, principalmente dos que possuem comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas respiratórios - com indicação cirúrgica - pode resultar em aumento da morbi-mortalidade decorrente da COVID-19 caso estes pacientes venham a contrair o vírus. Esta afirmação vem sendo documentada e divulgada em diferentes países no que se refere a redução das chances de sobrevivência para estes pacientes.

Doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão são tratadas com efetividade com a cirurgia bariátrica ou metabólica. E esses problemas mostram-se os principais fatores de risco para as formas graves do novo coronavírus e que inclui internamento em UTI e mortalidade da síndrome respiratória aguda grave. Além de todas as doenças e complicações que são evitadas com a perda de peso, podemos somar agora as gravíssimas consequências da Covid19 , explica Marcos Leão

De acordo com a Recomendação do CFM, a priorização por pessoas com maior peso ou gravidade está indicada apenas para os hospitais e serviços que possuam uma grande demanda de procedimentos para evitar riscos de agravamento das comorbidades e mortalidade. Não devemos minimizar o sofrimento daqueles tantos outros que ainda estão em estágios intermediários da doença obesidade , ressalta o presidente da SBCBM.

Segundo o Dr. Thomas Szego, um dos precursores da cirurgia bariátrica no Brasil e ex-presidente da SBCBM, a posição do CFM é importante para dar respaldo ao reinício das cirurgias bariátricas e metabólicas no país, uma vez que os pacientes que aguardam a operação apresentam risco aumentado diante doenças infecciosas como a COVID-19.

Fica muito claro que isso deve ser feito em comum acordo entre o médico e o paciente em instituições que tenham condições de manter a segurança da sua equipe médica, paciente e família. As instituições devem ter fluxo COVID FREE - sem risco de contaminação - feito com todo o cuidado e responsabilidade. É importante que adiantemos o tratamento desses pacientes, dando preferência aos pacientes mais urgentes, mas todos aqueles que aguardam podem ser operados seguindo as regras de segurança que foram descritas , explica Szego.

RECOMENDAÇÕES - As cirurgias bariátrica e metabólicas devem ser feitas, preferencialmente, em instituições que tenham fluxo de atendimento independente do atendimento aos casos de COVID-19, com salas cirúrgicas isoladas e ambiente controlado.

Segundo o relator Leonardo Emílio da Silva, paralelo aos casos de infecção pelo novo coronavírus existem doenças que elevam o índice de morbidez no Brasil, em particular a obesidade e o diabetes.

O conselheiro levou em consideração os números da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) que apontou que 55,7% da população adulta no país tem excesso de peso e que 19,8% é obesa; e os dados do 16º Boletim Epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde que aponta o diabetes como quarta principal causa de morte em homens e a terceira causa em mulheres.

As cirurgias bariátricas e metabólicas não são o último recurso para o tratamento dessas enfermidades crônicas, progressivas e letais, mas sim os mais eficazes, duradouros e seguros quando há falha do tratamento clínico. A tomada de decisão clínica deve ser uma  baseada em evidências  no contexto da gravidade da obesidade e suas doenças associadas , evidencia o relator.

MUDANÇAS - Entre as recomendações para continuidade das cirurgias bariátricas e metabólicas, o CFM orienta  alguns critérios de priorização de pacientes com quadros e comorbidades mais graves que devem ter seus procedimentos mais acelerados.

No pré-operatório, o CFM recomenda que sejam adotadas estratégias de triagem de possível contato dos pacientes com portadores da COVID-19 e realização de testes de diagnóstico. Em casos de sintomas respiratórios, febre ou  suspeita clínica de infecção pelo coronavírus, a cirurgia deve ser adiada.

No pós-operatório, o CFM recomenda que os critérios para a alta do paciente devem ser os mesmos do período anterior à pandemia. Além disso, em relação a assistência ao paciente após a cirurgia, o Conselho sugere que as equipes disponibilizem assistência nutricional, clínica e psicológica remota - via telemedicina - para auxiliar no distanciamento social sem comprometer o acompanhamento.

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A REDAÇÃO

 

Goiás registra mais 347 casos de covid-19 e cinco mortes em 24 horas

Mônica Parreira

Goiânia - Boletim divulgado neste sábado (6/6) pela Secretaria da Saúde de Goiás (SES-GO) mostra que, nas últimas 24 horas, o Estado registrou mais 347 casos de covid-19 e cinco mortes pela doença. 

Com isso, os dados atualizados indicam que desde a pandemia do novo coronavírus chegou a Goiás, em meados de março, já infectou 5.720 pessoas e matou 172. 

Ainda segundo a SES-GO, há 28.516 casos suspeitos em investigação. Outros 13.857 já foram descartados. São 29 os óbitos suspeitos que estão em investigação, e já foram descartadas 284 mortes suspeitas nos municípios goianos.

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Secretaria de Saúde de Goiânia monitora casos de covid-19 por telemedicina

Goiânia - A telemedicina tem sido aliada da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia no controle da covid-19. Em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), a pasta monitora os casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus em Goiânia e que permanecem em casa, em isolamento domiciliar. 

O objetivo do monitoramento, feito diariamente, é acompanhar a situação clínica dos pacientes e quebrar a cadeia de transmissão do novo coronavírus.

A médica da SMS de Goiânia Marta Maria Alves da Silva, responsável técnica entre a Vigilância Epidemiológica da SMS e o Telemedicina, salienta a importância desse serviço no sentido de cuidar da saúde física e mental dos pacientes, identificando precocemente sinais e sintomas de alerta ou de gravidade da doença, encaminhando-os para os serviços de saúde de urgência e emergência, quando necessário e em tempo oportuno. "Reforçamos sempre a necessidade do isolamento domiciliar, pois isto é fundamental para que se quebre a cadeia de transmissão do coronavírus", ressalta.

Para isso, foi montada uma estrutura com 26 estações com computador, monitor, linha telefônica e web câmera para o contato com o paciente. O acompanhamento é feito por equipes compostas por médicos, enfermeiros, psicólogas, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistente social e educadores físicos da SMS, além de professores da Faculdade de Medicina e de Enfermagem da UFG.

Em 14 dias o paciente confirmado para covid-19 e que não apresentar sintomas da doença recebe alta do telemonitoramento. Os pacientes positivos e sintomáticos recebem alta após os 14 dias ou mais de monitoramento, desde que estejam assintomáticos por 72 horas. Quando é identificada a necessidade de atendimento presencial, os doentes são encaminhados para os serviços de saúde de urgência e emergência.

O coordenador geral do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde da UFG, Alexandre Taleb, destaca a importância do trabalho. "A pandemia acabou evidenciando como a Telemedicina pode ter um papel fundamental no cuidado dos pacientes. Sempre acreditei na Telemedicina e vejo com muito bons olhos o fato de ela agora estar sendo colocada mais à disposição da população”. 

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EXTRA

O drama dos novos médicos na linha de frente da Covid

Três recém-formados relatam as dificuldades de quem iniciou a profissão em meio à pandemia

O Brasil tem se beneficiado, desde o início da pandemia, do trabalho de jovens recém-formados nas escolas de Medicina. O Conselho Federal de Medicina aponta que cerca de 100 mil profissionais da área iniciaram a carreira nos últimos cinco anos. Em UPAs, UTIs e hospitais de campanha, eles tiveram de aprender a entubar, sedar e transferir pacientes graves. Muitos adquiriram a Covid-19. Eles se envolveram com as histórias e dificuldades dos pacientes e enfrentaram a exaustão, a falta de recursos e os dilemas emocionais. Veja o relato de três deles nesta página

'A bateria ia acabar e ele iria morrer'

Eu me formei em dezembro e trabalho em uma UPA do Recife. A história mais contundente desse período foi num plantão lotado. Um paciente estava intubado com o ventilador da ambulância e não havia equipamento disponível na unidade. Precisava resolver a situação, pois a bateria ia acabar e ele morreria sem oxigênio. Liguei para vários hospitais em busca de vaga em UTIs, enfermarias e hospitais de campanha. Depois de muito estresse, consegui, mas não havia transporte. Fiquei angustiada, pensei que era errado segurar a vaga e o paciente não chegar. Tinha uma ambulância disponível na unidade. Decidi transportar o paciente da UPA para o hospital, mas sem o EPI e o treinamento adequado. No transporte, tem que ir médico, enfermeiro e técnico de enfermagem. Então coloquei em risco a equipe em prol de dar uma chance àquela pessoa. Na ambulância, ele começou a instabilizar, a saturação piorou e havia coisas no veículo que não encaixavam direito, funcionavam pela metade. Fomos o caminho inteiro numa adrenalina gigante para levá-lo vivo até o hospital. Na chegada, ele teve parada cardíaca e teve que ser reanimado. Ajudei a reanimar, mas precisei voltar porque eu tinha deixado meu colega sozinho. Depois que voltei pedi desculpas pela minha decisão. É uma história que vai mexer comigo por muito tempo.

'Sou duro, mas umas lágrimas derramaram'

Atuo numa UPA, num hospital comum e num de campanha em Ipojuca, Pernambuco. Tive de aprender a intubar, sedar, transferir o paciente e aprender com a doença enquanto lido com ela. Alguns pacientes ficam até oito dias aguardando vaga que nem sempre surge. Sou duro na queda, tento não me abalar. Mas essa semana umas lágrimas derramaram no plantão com uma senhorinha que internei porque estava sem oxigênio. Ela falou: ''Não vou ficar aqui. Sei de várias pessoas que morreram aqui e quero ver minha filha, quero morrer olhando no olho dela, lembrando o jeito que ela é''. Expliquei que a filha não podia vir porque ela estava em isolamento. Ela ameaçou ir embora. Mesmo contra as indicações, levei ela para ver a filha através do vidro da porta. Porque, de fato, vários pacientes que a gente pega da mão do acompanhante e leva para a sala de suporte e medicação não voltam. Então aquele momento pode ser a última vez em que eles veem os familiares. É difícil.

'A pandemia me trouxe mais reflexões'

Sou de Curitiba, onde me formei em dezembro, e atuo no Rio de Janeiro como residente em medicina de família e comunidade. Trabalho em uma das clínicas da Rocinha, na triagem de casos suspeitos, de pacientes com sintomas respiratórios. As demandas de atendimento mudaram drasticamente nos meses de março a maio. A medicina de família traz histórias impactantes o tempo todo, mas, agora, lidar com o medo e o luto foi muito recorrente. A pandemia me trouxe mais pé no chão, reflexões éticas sobre as ciências, como ouvir a comunidade ativamente e se pautar nisso para produzir novos conhecimentos. Esse drama fez muita gente ser obrigada a se colocar no lugar daqueles que não têm garantia de acesso aos direitos mais básicos. A gente vive um processo de sucateamento dos serviços públicos e isso ocorre muito na saúde. Temos de manter um atendimento integral, considerando as dúvidas dos pacientes e atentos aos estigmas da doença. E ter cuidado para não normalizar o sofrimento.

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Rosane Rodrigues da Cunha 
Assessoria de Comunicação