Postado em: 15/08/2017

AHPACEG NA MÍDIA - A presença de doulas nos hospitais

Haikal Helou, presidente da Ahpaceg, fala ao jornal O Popular sobre a presença de acompanhantes e de doulas nas salas de parto. “Cada unidade particular de Goiânia tem autonomia para decidir sobre essa situação. “Havendo concordância e respeitando as regras da unidade de saúde é uma escolha que deve ser respeitada”, diz. Confira a matéria publicada em 14 de agosto.

 

O POPULAR

 

Hospitais não cumprem lei

 

Legislações de Goiânia e Aparecida de Goiânia permitem a presença de doulas e até de acompanhantes das gestantes na hora do parto, mas mães não têm conseguido a liberação

Goiânia e Aparecida aprovaram no ano passado leis semelhantes que permitem que a gestante tenham acompanhamento de doulas durante o trabalho de parto e pós-parto imediato. A diferença é que na capital a regra vale apenas para as unidades públicas municipais de saúde e em Aparecida também vale para unidades particulares. Mas em nenhuma das duas cidades legislação tem sido respeitada, segundo doulas e mulheres que passaram pela experiência.

Essa lei é diferente da regra federal que permite a presença de um acompanhante indicado pela parturiente. Neste caso, a lei federal permite que o pai da criança, a mãe da gestante ou qualquer outra pessoa indicada por ela possa participar do parto sem custos adicionais. Autora da lei em Goiânia, vereadora Doutora Cristina, ressalta o papel de cada um. “O pai ou a avó da criança não são especialistas em parto e estão ali para ajudar com a presença ou apoio”.

A diferença da doula, citada pela vereadora, é que ela pode ajudar no parto com exercícios específicos, como os que usam bolas de borracha, agachamentos, entre outros. As doulas também podem fazer massagem e ajudar a gestante encontrar a melhor posição para parir. A vereador entende que essa medida é válida porque respeita a vontade da mãe que quer ter um parto natural, além de incentivá-lo.

Barrados

A fotógrafa Jéssica Cristina Ferreira Almeida, de 25 anos, não conseguiu a presença do marido da dona durante o parto. Há dois meses, ela começou a sentir contrações e chamou a doula Maria Clara de Oliveira para ajuda-lá. Depois de algumas horas de trabalho de parto em casa, foram para maternidade Marlene Teixeira, em Aparecida de Goiânia. “Já cheguei com 10 cm de dilatação e houve uma correria. Me colocaram no consultório do médico e nem meu marido ou a Maria Clara puderam me acompanhar”.

Ela disse que por conta da correria e da ansiedade pelo nascimento da primeira filha não conseguiu reclamar. “Só pedi que meu marido fosse chamado, mas ele foi impedido de entrar” diz. Jéssica foi informada que o motivo era o local que não comportaria muitas pessoas. “Mas tinha muita gente lá, além do médico. Acredito que até estagiários. Tinha gente até dentro de uma salinha ao lado me olhando parir”.

Apesar de todo o transtorno, a filha veio ao mundo com saúde e todos estão bem. “Mas eu sinto falta de uma foto com meu marido e minha filha logo após o parto”, relata. Ela reclama que não conseguiu escolher a posição do parto nem que o marido ajudasse a cuidar da menina logo após o nascimento. “Ele só foi vê-la depois quando a pediatra passou no corredor com a criança”.

A doula que a acompanhou, Maria Clara, diz que tentou explicar na chegada a unidade que poderia acompanhar a mulher. ”Fui impedida e nem o marido entrou. Quando fomos falar com diretor, ele permitiu, mas ao chegar lá, a criança já estava nos braços da pediatra. A falta de informação impediu que a mãe tivesse um parto assistido e que o pai pudesse acompanhar esse momento, que é o único”.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que na unidade Marlene Teixeira, onde Jéssica deu à luz Ana Lis, é permitida a presença da doula, respeitando a lei aprovada no município. O diretor geral da maternidade, Denysson José, afirma que a unidade também obedece a lei que permite o acompanhante, além da doula, e que desconhece a situação narrada por Jéssica. A fotógrafa pretende protocolar reclamação formal sobre a recusa.

Maior resistência ocorre nas unidades públicas

Michele Oliveira é doula e atua para organizar uma associação em Goiás. Ela diz que, mesmo com a lei, as colegas que também atuam nesta prática enfrentam mais dificuldade para garantir o cumprimento da lei nos hospitais públicos do que nos privados. “Geralmente, os particulares cobram uma taxa pela presença da doula, mas não impedem. Já nos público, a negativa é contundente”.

Ela explica que a presença da doula seria necessária a partir da internação, já que nos partos naturais as mulheres só procuram a unidade de saúde quando estão em avançado trabalho de parto. “Muitas são barradas e só conseguem ver as gestantes que acompanharam por tanto tempo nos horários de visitas”.

Michelle afirma que o grupo do qual participa pretende se mobilizar para buscar o cumprimento da lei. Segundo a doula, existe preconceito no meio hospitalar quanto à presença delas.

“Nós sabemos o que podemos e o que não podemos fazer. Nosso papel é exclusivamente apoiar a gestante no trabalho de parto, fazer com que o momento especial de dar à luz um filho seja como ela planejou, sem trauma com maior suporte possível”.

Presidente de associação faz ressalva

Presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Haikal Helou, diz que vê a presença de mais uma pessoa no centro cirúrgico com ressalvas. “É um ato cirúrgico e exige muita concentração. Qualquer pessoa que não seja do cotidiano dessa prática, que não esteja familiarizada com a rotina do centro cirúrgico, pode causar desconcentração e atrapalhar”.

Mas ele destaca que cada unidade particular de Goiânia tem autonomia para decidir sobre essa situação. “Havendo concordância e respeitando as regras da unidade de saúde é uma escolha que deve ser respeitada”.

A Secretaria Estadual de Saúde Goiás informou que por se tratar de uma legislação municipal submetida ao sistema de gestão plena da saúde é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde a regulação e fiscalização.

No município de Goiânia, existem duas maternidades públicas sob gestão estadual: Hospital Materno Infantil e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, ambas administradas pela Organização Social - Instituto de Gestão e Humanização.

A SMS esclarece que possui duas maternidades públicas municipais em Goiânia para atendimento de gestantes: a Nascer Cidadão e a Dona Íris. A Lei no 9.795 ainda não foi totalmente institucionalizada nas unidades que seguem em discussão sobre a melhor forma de disponibilizar o atendimento às pacientes pelo Sistema Único de Saúde. Caso a gestante queira levar a profissional para o parto é preciso que ela informe a direção da unidade com antecedência.

Ambas as maternidades oferecem o atendimento humanizado preconizado pelo Ministério da Saúde, segundo a nota da SMS. Na Nascer Cidadão, a presença da doula está mais avançada devido ao perfil de assistência da unidade, que realiza partos considerados de baixo risco. Já no Hospital e Maternidade Dona Íris, há uma demanda maior por partos considerados de médio e baixo risco e situações de emergência.